segunda-feira, 22 de maio de 2017

SEGUNDA GERAÇÃO DO MODERNISMO



Modernismo - Geração de 30

Literatura modernista nos anos 30. Nesse período as conquistas da geração modernista de 22 já se encontram consolidadas. É preciso, mais do que digeri-las, também ressignificá-las, sobretudo em um mundo de repentina maior complexidade, ditado por um contexto de apreensão e perplexidade mediante um contexto beligerante nunca antes visto, nas proporções que por fim tomou e que não refrearam no período entre guerras.


O mundo é ditado, agora, por uma atmosfera de pessimismo quanto aos rumos da humanidade, mas também pela necessidade de compreensão, de maior envolvimento social. Essas demandas também nortearão o olhar de toda uma safra de escritores a um cenário novo em nossa literatura: o Nordeste, suas agruras e suas sofridas personagens. Eis os balizadores que nortearão a visão modernista da segunda geração.Sua produção é bastante fecunda tanto em prosa quanto em poesia.


Costumeiramente, situam-se os marcos dessa geração entre 1930 e 1945.


Poesia
Há na poesia, dessa fase, um grau de uniformidade e mesmo de coesão menor do que nos autores de 22. Lembremos, no entanto, que a maior parte dos autores de 22 são contemporâneos da safra de poetas de 30, com os quais partilham o gosto pelo verso livre, a liberdade temática, a postura antiacadêmica, a valorização do cotidiano. Esses traços aqui não são mais uma espécie de guia a se seguir, mas amplas conquistas já estabelecidas.


Os principais nomes da poesia dessa fase modernista são:
Carlos Drummond de Andrade
Vinícius de Moraes
Cecília Meirelles
Jorge de Lima
Murilo Mendes


Confira o contexto em que o modernismo surgiu e a primeira fase do movimento.

POEMAS



A produção desses autores abrange tanto as típicas experiências estéticas modernistas quanto a liberdade de, inclusive, retomar modelos tradicionais.


Cota zero (Carlos Drummond de Andrade)
Stop.
A vida parou
ou foi o automóvel?


Nesse poema, vemos nitidamente a incorporação de valores estéticos de 22, acrescidos do questionamento à modernidade e seus valores culturais e à própria condição humana diante dela, numa expressão de síntese soberba.


Soneto do amor total (Vinícius de Moraes)
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.


Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.


Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.


E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.


Aqui é bastante visível a revisita a um dos mais clássicos modelos de versificação, num poema metrificado e com temática bastante afim à tradição lírica. E é também lirismo profundo o que permeia a poética de Cecília Meireles, entre a memória histórica e as reflexões sobre a fugacidade do tempo.


Em meio à riqueza de formas e conteúdos, os poetas de 30 convivem com a perplexidade de um mundo que se embruteceu e, até por isso, precisa de poesia, precisa de flores que ousem brotar no asfalto da cinzenta realidade.


Há ainda o espaço para uma poesia de religiosidade, de cunho católico, e apelo metafísico em Jorge de Lima e Murilo Mendes, competindo ao último ainda a experimentação surrealista em nossa literatura. Aos dois poetas, também coube a típica invencionice modernista e o registro de seu tempo.

PROSA



É na prosa que essa geração vai instituir a grande novidade em nossa literatura, ao nos apresentar um protagonismo a partir daí, permanentemente, presente na cultura brasileira: o da figura do nordestino sofrido, em meio às agruras da seca, aos desmandos sociais.


São romances caracterizados pela denúncia social. Houve grande interesse por temas nacionais, uma linguagem mais brasileira com um enfoque mais direto dos fatos, aproximando-se de procedimentos do Realismo-Naturalismo. Na prosa, atingiu-se elevado grau de tensão nas relações do "eu" com o mundo; é o encontro do escritor com seu povo. Havia uma busca do homem brasileiro nas várias regiões, por isso, o regionalismo ganhou importância, com destaque às relações da personagem com o meio natural e social (seca, migração, problemas do trabalhador rural, miséria, ignorância).

O menino morto, de Cândido Portinari (Foto: Reprodução)

Além do regionalismo, destacaram-se também outras temáticas como o romance urbano e psicológico, o romance poético-metafísico e a narrativa surrealista.


Refletindo as preocupações sociais e políticas que agitavam o Brasil na época, desenvolveu-se um tipo de ficção que encaminhou para o documentário social e romance político. A publicação, em 1928, de A bagaceira, de José Américo de Almeida, costuma ser indicada como marco inicial dessa série de obras cuja intenção básica foi a denúncia dos problemas sociais econômicos do nordeste, dos dramas dos retirantes das secas e da exploração do homem num sistema social injusto.


O grande marco dessa safra de romances, possivelmente, seja a obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, publicada no ano de 1938. No livro, deparamos com a família de retirantes formada por Fabiano, Sinhá Vitória, seus dois filhos e a tão humana cadela Baleia. A linguagem objetiva do romance parece metaforizar a própria ressequidão daquele ambiente.


Os principais romancistas de 30 são:
Graciliano Ramos
José Lins do Rego
Rachel de Queiroz
Jorge Amado
Érico Veríssimo


Jorge Amado, por sua vez, criou imortais personagens e tipos em sua amada Bahia literária, por meio de uma linguagem bastante acessível.


José Lins do Rego nos apresenta seus romances do ciclo da cana de açúcar. Escritos em primeira pessoa, estes romances retratam literalmente a crise de tradição e a necessidade de modernização, a transformação do Engenho em usina.


Rachel de Queiroz, primeira mulher a compor a Academia Brasileira de Letras, além da denúncia social, dá vez à análise psicológica em sua obra.
Por Anderson Ulisses S. Nascimento
Doutorando em Língua Portuguesa pela Uerj

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