terça-feira, 23 de maio de 2017

16 conselhos inúteis (e gratuitos) por Fred Navarro


Não seja ou, pior ainda, não pareça ser ingênuo. As raposas políticas não dizem nada em público porque tiram proveito do fato, mas consideram que nesta área da atividade humana a ingenuidade é o único defeito pior do que a traição.


Estude ciência política. Os fatos e personagens de importância na história ocorrem duas vezes, de acordo com Friedrich Hegel; a primeira como tragédia e a segunda como farsa, completa Karl Marx. Na política, infelizmente, os personagens autoritários e vulgares ocorrem a primeira vez como tragédia e as outras também.


Não reclame da vida. Numa trincheira, quem faz discurso antibélico é o primeiro a ser eliminado. Ou chama a atenção do fogo inimigo ou é silenciado antes pelos próprios companheiros para que isto não aconteça.


Faça alianças. Um clichê clássico da política afirma que a melhor coisa a ser feita, quando não se consegue derrotar o maior inimigo, é aliar-se a ele. Perfeito, mas é recomendável observar os detalhes: 1) o inimigo autêntico, formado na escola do ódio e da intolerância, não perdoa; 2) no decorrer da aliança, se houver uma chance, o antigo desafeto reabrirá a ferida e lutará contra o novo aliado cujos insultos e desfeitas não foram esquecidas.


Procure ser racional. Lembre-se, no entanto, que algumas teorias funcionam apenas em conjuntos ou universos determinados. Millôr Fernandes sabiamente registrou que 1 + 1 só é igual a 2 no sistema decimal. No sistema binário, o resultado é bem diferente. Isto explica porque análises corretas erram infantilmente e estratégias brilhantes desmoronam pateticamente, com destaque para as que não preveem as reações emocionais dos envolvidos e as intervenções aleatórias e autoritárias do acaso.


Seja leal, mas saiba que a fidelidade permanente na atividade política é um perfeito non-sense, uma contradição em termos, algo assim como o Vaticano produzir um filme com a vida sexual de Santa Clara e São Francisco de Assis. Ou os xeiques da Arábia Saudita produzirem um filme com a vida sexual do profeta Maomé. O limite da lealdade quase sempre é a própria sobrevivência. Em determinados casos, a honra.


Preste atenção às fisionomias. Durante uma negociação, o olhar muitas vezes trai e desmente o discurso. O observador atento tira a média entre os dois e se aproxima das intenções do interlocutor. Suspeitar e desconfiar de alguém são as coisas mais fáceis do mundo; decifrar e compreender as pausas, olhares, tiques nervosos, parênteses e entrelinhas, isso dá trabalho.


Seja inteligente. Evite fazer acordos “secretos” se mais de duas pessoas estiverem presentes ao encontro. Os poderosos de verdade só tomam decisões cruciais sem a presença de testemunhas. A quebra desse princípio, das cavernas pré-históricas aos palácios do século 21, causou à humanidade mais dores e prejuízos do que a fome e as doenças.


Cuidado com o que fala. Na política, as palavras “sempre” e “nunca” costumam andar nas bocas de pessoas sem tempo para analisar direito o que fazem; por coincidência, são as primeiras a não entender direito o que acontece ao redor. Você pode não considerar isto um erro, mas todos estão vendo.


Seja objetivo. Numa mesa de negociação, o senso de justiça vale o dobro da generosidade sem base na realidade e o triplo da inocência de propósitos sem os pés no chão. Durante a negociação, o mínimo deve ser oferecido com firmeza e o máximo negociado ao extremo. Entre os gladiadores, a gentileza tinha péssima reputação.


Leia Maquiavel. O florentino adicionou um adjetivo aos dicionários e, desde a publicação de “O Príncipe”, em 1532, poupou tempo à humanidade ao revelar os mecanismos utilizados pelos poderosos para, via coerção e diversas formas de pressão e violência, impor com rapidez e eficiência suas políticas à sociedade. O livro não fez o mundo melhor, mas é inteligente e divertido, e mostra as armas e vestimentas do rei quando ele não está nu.


Fale o mínimo possível. Falar mais do que o necessário demonstra falta de sensibilidade ou de inteligência, e prejudica sobretudo os que mais precisam de acordos e resultados políticos. Sobre os acordos, pode-se chegar ou não a eles, mas de preferência sem torturar os números e as palavras, e sem exasperar a paciência dos participantes.


Saiba a hora de voltar atrás. Quem não aprendeu a recuar na hora certa, e desta forma recuperar as forças dispersas e feridas durante a batalha, será obrigado a desistir da vitória; avançam os que reconhecem os seus erros enquanto acontecem.


Estude história. Líderes políticos que, por motivos insondáveis da alma, não conhecem as biografias de Péricles, Napoleão, Trotsky e Churchill, devem exercer o seu direito constitucional por uma destas escolhas: 1) fazer teste vocacional, mesmo que tardio; 2) procurar um psiquiatra; 3) mudar-se para Fernando de Noronha, se gostar de praia, ou para Alto Paraíso de Goiás, se não gostar; 4) largar a profissão e cuidar da família.


Corra atrás da sorte. Na atividade política, sem uma boa dose de sorte você não vai até a esquina, quanto mais a Brasília.


Não ouça e nem aceite conselhos de estranhos.

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