A obra de arte mais famosa do mundo sempre teve uma aura misteriosa. Até porque foram anos para que se pudesse confirmar quem era a modelo retratada no quadro. Existia quem defendesse que era a representação do feminino ideal no olhar de Leonardo da Vinci e mesmo quem considerasse a Monalisa um auto-retrato andrógino do próprio pintor.
Só em 2008 é que documentos de 1503 confirmaram que a Mona Lisa, de fato, era Lisa del Giocondo, mulher de um mercador florentino (por isso, aliás, o outro nome da pintura, A Gioconda). Mas a obra em si tinha seu próprio ar enigmático, motivado pela expressão da modelo.
O crítico de arte do jornal inglês The Guardian, Jonathan Jones, tem uma nova teoria que revela mais sobre Lisa del Giocondo – e, portanto, sobre quem era a mulher por trás da Mona Lisa.
Um dos poucos registros oficiais que mencionam a florentina é uma estranha “nota fiscal” arcaica. Um convento na região anotou, no livro de contas, que Lisa foi até lá comprar água de lesma.
Preparada com diferentes tipos de lesma e minhocas trituradas em água, além de algumas ervas, a mistura nojenta passou batida por Jones como peculiaridade da época.
Recentemente, porém, ele resolveu pesquisar o significado do líquido – e assim surgiu sua estranhíssima teoria sobre a Mona Lisa.
Água de lesma aparece na “literatura médica” da época como uma substância destinada a tratar DSTs. Na época em que a Mona Lisa foi pintada, a sífilis estava em pleno surto na Europa, contagiando pessoas a torto e a direito. Uma das teorias naquele tempo é que a doença teria sido trazida do Novo Mundo pelos marinheiros de Colombo.
A partir daí, o crítico começa a extrapolar a ideia de uma Mona Lisa com sífilis para explicar diversas percepções sobre o quadro. O cenário colorido e distante ao fundo, por exemplo, seria uma referência ao Novo Mundo.
A sensação macabra e mórbida da pintura seria exatamente por mostrar uma senhora doente – de um mal que tem sua origem no sexo.
Essa mistura de luxúria e moléstia explicaria a impressão do crítico Walter Pater sobre a Mona Lisa: ele considerava a mulher “vampiresca”.
Jones também cita o quão fortemente sombreada é a figura da modelo, em contraste com outros elementos coloridos do quadro. As sombras ao redor dos olhos, para Jones, poderiam ser indícios de suas condições ruins de saúde. A luz esverdeada do quadro também insinuaria um aspecto doente.
Até o sorriso da Mona Lisa entrou na dança da teorias. Meio feliz meio triste, melancólico por ter aproveitado os prazeres da vida, mas sofrido sérias consequências por isso.
A história toda é bastante louca, e tem uma séria limitação: o próprio Jonathan Jones admite que o registro no apotecário do convento é mais de 10 anos mais velho que a data em que Da Vinci pintou A Gioconda.
Mesmo assim, a teoria traz novo fôlego às especulações sobre os segredos guardados no quadro. Não é muito menos plausível que a ideia de que a obra esconderia informações de um culto secreto à Maria Madalena – e, com essa piração, Dan Brown vendeu mais de 200 milhões de livros. Talvez seja a hora de Jones ligar para o Tom Hanks.
Este conteúdo foi originalmente publicado na Superinteressante
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