Final do ano chegando. Entre promessas, mandingas e orações, à zero hora do novo ano estamos a pedir encarecidamente a providência do sucesso. Fico pensando como deve ser tensa a galera do lado de lá, anotando milhares e milhares de pedidos, vindos de toda parte do planeta. Imagino uma imensa bolsa de valores. Gente ao telefone, gesticulando, correndo com suas cadernetas, desesperados, de um lado para o outro. Atentos à queda ou à alta dos pedidos de investimento de sucesso pessoal. Num gráfico gigante, os desejos verdadeiros de paz, amor e saúde perdem feio para os requerimentos legítimos de “muito dinheiro no bolso”. Todo começo de ano repetimos essa máxima, sem que sequer nos ocorra se ter o trabalho e o dinheiro como centro da vida trata-se realmente de um desejo pessoal ou de uma condição que vamos repetindo, repetindo, até acreditarmos mesmo que bem-sucedido é aquele que mais acumula coisas. Sucesso pessoal, como o nome já diz, é pessoal. O que é sucesso para um não precisa ser sucesso para o outro.
Certa vez li que na queda das torres gêmeas, as pessoas que nelas estavam, num último suspiro de vida, enviaram mensagem aos celulares de seus familiares. A maioria dos textos se resumia a três palavras: “eu te amo”. O amor é a urgência que pulsa quando estamos entre o ser e o desfecho de descobrir o quão frágeis somos. O amor é invocado como uma maca que se presta a segurar, a conter, a confirmar a existência. É triste, mas muitos só se dão conta tardiamente de que o sentido verdadeiro da vida está ligado às emoções e às relações. A verdade é que quase nada somos, e é nas relações onde a vida acontece de fato.
Perto do fim, no leito de morte, com as costas acomodadas na cama fria do hospital, ninguém se arrepende de ter trabalhado menos, da reunião a que faltou, da promoção que não veio. Perto do fim, não sentiremos falta do cartão “platinum”, dos óculos da Vogue, da bolsa cara esquecida no armário. Perto do fim, o balanço de sucesso pessoal estará ligado aos amores que construímos e ao que cativamos uns aos outros.
Eu sou do tipo que ama todas às vezes como se fosse a última. Ama urgentemente. Aquela que beija todos os beijos que quer beijar. Que abraça todos os abraços que quer abraçar. Sou do tipo que não morrerá entalada com o perdão na garganta. Que não se afoga em “talvez”, em “tanto faz”. Sou do tipo que mergulha na vida, chora na despedida e come feijão com arroz como se fosse um príncipe. Disse-me Drummond, certa vez: “e o trem que passa, como um discurso, irreparável: tudo acontece, menina, e não é importante, menina, e nada fica nos teus olhos… A vida é tênue, tênue”. Mas o amor, esse sim, nunca é em vão.
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