domingo, 4 de dezembro de 2016

A Luta Corporal de Ferreira Gullar - Nasce uma Poesia



FERREIRA GULLAR - Poeta aclamado pelo povo brasileiro como o legítimo representante dos seus verdadeiros sentimentos.

Nada vos oferto
além destas mortes
de que me alimento

Caminhos não há
Mas os pés na grama
os inventarão

Aqui se inicia
uma viagem clara
para a encantação

Fonte, flor em fogo,
que é que nos espera
por detrás da noite?

Nada vos sovino:
com a minha incerteza
vos ilumino

(A LUTA CORPORAL - 1954)

O anjo, contido
em pedra
e silêncio,
me esperava.

Olho-o, identifico-o
tal se em profundo sigilo
de mim o procurasse desde o início.

Me ilumino! todo
o existido
fora apenas a preparação
deste encontro

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Antes que o olhar, detendo o pássaro
no voo, do céu descesse
até o ombro sólido
do anjo,
               criando-o
- que tempo mágico
ele habitava?

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O anjo é grave
agora.
Começo  a esperar a morte.

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Cerne claro, cousa
aberta;
na paz da tarde ateia, branco
o seu incêndio.

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Morta
flutua no chão.
                 Galinha.

Não teve o mar nem
quis, nem compreendeu
aquele ciscar quase feroz. Cis -
cava. Olhava o muro,
aceitava-o, negro e absurdo.

               Nada perdeu. O quintal
               não tinha
                                qualquer beleza.

                                                             Agora
as penas são só o que o vento
roça, leves.
                  Apagou-se-lhe
toda a cintilação, o medo.
Morta. Evola-se do olho seco
o sono. Ela dorme.
                           Onde? onde?

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