Advogado atuante, o libanês Serge Najjar aprimorou, nas horas vagas, uma forma particular de registrar a selva de concreto das cidades. Através das suas lentes, formas e sombras de prédios dão luz a imagens curiosas, que chegam até a beirar o impossível. Nesses casos, a presença da figura humana cumpre a tarefa de transportar o observador da abstração para a realidade, comprovando que aquele cenáro de fato existe, como declara o fotógrafo. Confira, na entrevista a seguir, como nasceu seu interesse pela fotografia.
Onde você vive atualmente?
Moro e trabalho em Beirute
Há quanto tempo você se dedica à fotografia? Qual é sua formação?
Eu sou advogado, com PhD em direito civil. Só fotografo aos finais de semana, há quatro anos. Fiz alguns cursos técnicos antes de começar a usar a câmera.
Como surgiu o interesse por fotografia de arquitetura?
Eu cresci lendo livros sobre arte. Sobre arte moderna, construtivismo, vanguardas russas, cubismo, optical art e até catálogos de leilões. Cresci em uma nação onde a guerra sempre foi – e ainda é – uma questão muito presente. No Líbano, um país de terceiro mundo, a arte é um grande luxo. Entrei em contato com essa produção artística que eu costumava ler sobre em livros quando fui estudar em Paris. Lá, a arte se tornou acessível.
Por ser advogado, nunca pensei em criar minha própria arte. Eu estava convencido de que não tinha nenhum dom, mas acabei aprendendo a compor. Quando começo a fotografar, a arquitetura se impõe para mim, acho que por ser um campo muito rico. As linhas e sombras dos prédios se tornaram o melhor playground para um amador como eu. E eu não estou falando necessariamente sobre a ‘grande arquitetura’. Normalmente me interesso por lugares que as pessoas consideram entediantes ou comuns.
Que tipo de arquitetura te inspira?
A arquitetura odinária, comum. Mas, mesmo assim, eu amo o Le Corbusier e o Niemeyer, pois eles conseguem dar alma às obras.
Qual câmera você usa?
Uso uma Canon eos5, uma Zeiss antiga e algumas vezes uso também uma Mamiya 6x6.
Você usa muito photoshop?
Eu não sou muito fã de Photoshop, não uso nas minhas fotos.
As pessoas que aparecem nas suas fotos são estranhos ou você as convida para posar?
Fora a minha esposa, todas as pessoas que aparecem são estranhos. Algumas vezes, eles notam que estou fotografando e posam, em outras, estou longe e eles nem me veem. A presença do homem serve para trazer o observador da abstração de volta para a realidade. Ele deve perceber que não está olhando para um desenho ou uma maquete, mas sim para algo real, visto de outra perspectiva. Acho que tento, com minhas imagens, preencher a lacuna entre arte, arquitetura e realidade.
Pode listar alguns lugares que visitou recentemente?
Eu viajei por todo o Líbano nos últimos tempos. Tenho me concentrado no meu próprio país, todas as fotografias são feitas aqui.
Fotografar a arquitetura é diferente?
A arquitetura é um 'leitmotiv' para mim. Me interesso pela geometria, as linhas, as formas e as estruturas. Elas me ajudam a chegar perto da abstração. E mais do que tudo eu tenho uma paixão por criar coisas novas com meus próprios olhos. Gosto de recompor o que eu vejo.
Existem especificações, técnicas ou, no final, o que prevalece é a sensibilidade?
Em fotografia, tudo é composição e luz. Mesmo quando você fotografa a arquitetura, o seu diferencial é o que você pode dar à arquitetura e não o oposto. Eu sempre digo que a questão não é o que você vê, mas sim como você vê. Tenho aplicado isso a toda fotografia que eu tiro e acho que é ai que reside a minha verdadeira paixão pela fotografia.
Casa Vogue
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