quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

"Almas perfumadas", por Ana Jácomo


Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. 
De sol quando acorda. 
De flor quando ri. 
Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, 
sem relógio e sem agenda. 
Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça, melando os dedos com algodão-doce da cor mais doce que tem pra escolher. 
O tempo é outro e a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver. 
Tem gente que tem cheiro de banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. 
Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. 
Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel. 
Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza.
Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. 
Do brinquedo que a gente não largava. 
De passeio no jardim. 
Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo.
Corre em outras veias. 
Pulsa em outro lugar.

Ana Jácomo

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