quinta-feira, 5 de novembro de 2015

SINFONIAS DA EDUCAÇÃO




Falar de arte é sempre algo que mexe com o emocional. Quando falamos de música é que isso se torna ainda mais incisivo, visceral. A arte é uma das coisas da vida que podem fazer uma pessoa mudar; seja para pior, ou para melhor. Esse poder é sublime, intangível por que não temos quase controle nenhum sobre ele. Na solidão plena, na felicidade compartilhada, na dor casmurra, na possibilidade de um conhecimento maior que podemos ter em nossas mãos. A arte é um ser que nos molda a sua maneira, somos assim sua matéria prima, argila nas mãos do desconhecido divino. O artista incidente. O mais incrível na arte é esse poder de transformar o inimaginável: sem origens no suprasumo das raízes puras. Corremos para arte para nos salvarmos. Corremos para sarar: cicatrizar mais depressa uma ferida transparente em nossa pele. A arte, mais do que nunca, consegue unir corpos remotos em conversas sem signos, gestos ou palavras. Tudo que arte pede é a nossa emoção. Precisamos sentir a arte bater em nossos crânios rachados para compreendermos o estado da graça infinita que ela nos proporciona. O artista é o meio que a arte coloca para doar sua escrita de coisas existências, banais, morais, inversas, supérfluas, mínimas. Nos dias tristes quando lemos um livro encontramos nele às vezes aquela frase que já morava dentro de nós, mas essa frase daquele livro ecoa dentro dos nossos pensamentos; reverberando o entendimento de algo antes incompreensível ao nosso plano. Num filme qualquer: entramos no corpo do personagem, somos seus olhos, boca e ouvidos. Numa pintura somos as tintas nos dedos cansados do artista. Procuramos colorir e transbordar um sorriso preto e branco. Na música encontramos a trilha sonora do dia: here comes the sun nos dias quentes, nos frios podemos ir de Bach no violoncelo. No filme Mr. Holland: adorável professor, que entendemos um pouco como a arte sobrevive em cada um de nós.



Glenn Holland com alguns problemas financeiros deixa de lado seu sonho de ser um compositor para dar aulas numa escola que sofre problemas com o ensino de música. No inicio Holland se vê numa situação contrária as suas ambições, e logo, começa a jornada do professor tendo que por ritmo nos alunos da escola. Holland não gosta de acordar cedo para ensinar (ninguém gosta), mas já em suas primeiras semanas, comove-se com uma garota que não consegue acompanhar a banda. O professor já se enche com um pouco de espírito e força de vontade para ajudá-la. Tenta-se ali mostrar que a confiança é relativa, mas depois isso é confirmado no segundo ato do filme quando Holland ensina um aluno que nunca tocou nenhum instrumento; e só tirava notas baixas. O menino teve que se esforçar além daquilo que conseguia para mostrar a si mesmo que mesmo sem nenhum talento podemos fazer tudo àquilo que quisermos. Holland pensa de inicio desistir por conta de ter dificuldades com a gestão da escola que não aceita que ele queira ensinar rock ‘n’ roll para seus alunos, mas Holland é firme diz que: está ali para ensinar música seja ela clássica ou não. O longa começa na década de 60 tem vários pulos de tempo. Durante isso vemos Holland virar Mr. Holland sua mulher Iris irá engravidar e o professor deixará de lado sua composição que, vemos desde os primeiros frames do filme. Holland passa por uma transformação humanitária quando descobre que o seu filho nasceu sem noventa por cento de audição. Holland sente que aquilo poderia o derrubar, mas o personagem de Richard Dreyfuss é duro na queda e continua seguindo em frente — tocando a banda.



Mr. Holland não consegue se entender com o filho agora com um pouco mais de oito anos. Só Iris esposa de Holland consegue quase que de forma automaternalista a melhor compreensão de seu filho Coltrane Holland. O filme não tenta romantizar ou tornar um clichê colossal que muitos outros tantos fazem, nem mesmo tenta com esse mesmo viés autoajuda, filantrópico. O filme tenta se aproveitar dos momentos sensíveis do próprio tempo. Prova disso é quando Holland vê um talento nato numa aluna. A menina canta e agrada aos ouvidos de todos Holland a enche de dicas, elogios, traça alguns caminhos para ela escapar do minimalismo que a prendia. Num desses caminhos ela se vai e Mr. Holland sabe que ele, tinha feito o caminho certo para ambos. Os problemas com o seu filho continuam. Col queria uma atenção maior do pai, esse momento é datado com a morte de John Lennon. Holland briga com o filho. Depois de refletir muito Holland nos leva a um dos melhores momentos do filme. Holland faz uma orquestra onde os surdos podem ouvir com o coração vibrando com as notas. Neons dançam nessa cena. Toda a arte é interpretada na canção que Mr. Holland escolherá para cantar para seu filho Col. Beautiful boy é a canção que Holland escolhe para transportar o amor agora entendido pelo seu filho. Se John Lennon fosse vivo sentir-se-ia realizado subitamente pelo filme. O final do filme nos traz uma sensação de nostalgia e glória ao mesmo tempo. Tudo pareceu ter sido costurado para que Mr. Holland cumpra sua missão de tocar todos aqueles que foram seus alunos. A arte é como as coisas da vida: às vezes sabemos explicar por que as coisas acontecem. Às vezes preferimos apenas deixar acontecer sem saber ao certo pelo o que exatamente vivemos e passamos. Mr. Holland no fim acaba terminando sua obra-prima a tal música tantas vezes interrompida se torna uma composição de coisas realizadas. O adorável professor nos dá uma aula de como a educação pode sim mudar não só o mundo, não só as pessoas, mas sim toda uma eternidade de erros já cometidos.



© obvious

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