“O coração em paz dá vida ao corpo,
mas a inveja apodrece os ossos.”
(Pv 14.30 NVI)
Certa vez, entrou em meu consultório um paciente que afirmava ter uma forte dor de dente em sua arcada superior. Disse que eu precisava extrair seu dente com urgência porque ele não suportava mais a dor. Imediatamente o sentei na cadeira e passei ao exame clínico. Imagine minha surpresa ao constatar que o paciente usava dentadura e que há muito tempo não tinha qualquer dente. Então, pensei que poderia ser algo intraósseo como um cisto ou um abscesso, coisas que o exame radiográfico descartou. Por fim, depois de algum tempo investigando aquele “mistério”, o paciente disse que a dor havia passado e foi embora. Até hoje não sei se ele quis zombar de mim ou se a dor era coisa apenas da sua cabeça.
Uma coisa é certa: Salomão conhecia já, em seus dias, efeitos psicossomáticos de problemas não ligados diretamente à medicina. Ele fala sobre um desses efeitos relatando a impressão de alguém que sente que se lhe “apodrecem os ossos”. Davi conhecia essa sensação, pelo que diz: “Enquanto escondi os meus pecados, o meu corpo definhava de tanto gemer. [...] Minha força foi se esgotando como em tempo de seca” (Sl 32.3,4b). A razão disso era seu pecado não confessado. Salomão atribui essa terrível sensação também a um pecado: “A inveja”. Segundo ele, o homem invejoso, que cobiça o que o outro tem, passa a viver em função disso e a se sentir abatido, como se a vida não tivesse sentido sem possuir o que ambiciona. Essa inveja é tão poderosa que não apenas abate seu intelecto e sua emoção, mas também ataca seu corpo.
Por outro lado, o rei sábio olha para outro tipo de gente que não se sente abatida. A diferença entre esses e os primeiros não é exatamente sua saúde, mas sua disposição interior. Esses não vivem atormentados pelas coisas que não possuem, mas experimentam a paz que vem do contentamento. Sobre eles é dito que “o coração em paz dá vida ao corpo”. Sua gratidão a Deus pelo que ele dá e pelo que ainda dará no futuro torna tais homens satisfeitos com o seu presente, sabendo que o Senhor conduz suas vidas da forma que melhor os edifica. Por isso, eles não são escravos da cobiça, nem do consumismo e muito menos da inveja. A paz em seus corações é tão grande que seus próprios corpos a experimentam. Basta, agora, a cada um de nós decidir que tipo de remédio queremos usar: o do médico, buscando remediar o sofrimento físico que nasce na cobiça e na insatisfação de cada um, ou o de Deus, na forma de uma paz que somente aqueles que já crerem em Cristo podem entender.
Pr. Thomas Tronco
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