quarta-feira, 20 de maio de 2015

Gramática da cor




Completando 15 anos de parceria, a dupla do estúdio Scholten & Baijings celebra sua produção em livro inspirador e conversa com a Casa Vogue, em caráter de exclusividade, a respeito desse universo multi-colorido.

Stefan Scholten e Carole Baijingsfundaram o estúdio em 2000, em Amsterdã, para se tornar hoje referência mundial quando pensamos em produtos de impacto gráfico, unindo uma estética extremamente delicada e um uso inesperado da cor.

O primeiro livro da dupla documenta todo o processo de criação – do croqui, passando por inúmeros modelos e testes de cor, até o produto final – e revela a importância da manifestação autoral mesmo em projetos de escala industrial, aparentemente impessoais.

Uma visita ao estúdio da dupla, assim como ao ateliê de um artista, permite compreendermos melhor de onde vem a força de seu trabalho e como peças aparentemente tão simples são capazes de dispertar tamanho desejo. O processo de criação nos toma por todos os lados e subitamente compreendemos que aquilo não é um simples estilo, mas sim algo testado à exaustão. É esse sentimento de descoberta que a atual publicação (Reproducing Scholten and Baijings, Phaidon, 352 páginas) captura com a mesma precisão da obra da dupla.


Bruno Simões: Como se dá a escolha da palheta de cores de um produto e o quanto isso é intrinseco à etapa de criação?

Scholten & Baijings: Como nossas formas são bastante minimalistas, cores e seus arranjos em padronagens e sobreposição de camadas dão ao produto um nível extra de detalhe. Elas surgem diretamente da maneira como criamos, vemos imediatamente o objeto em suas possibilidades cromáticas.

O que é interessante é que a cor não possui uma gramática rígida. As regras linguísticas permitem a junção de palavras para contar histórias, mas como você pode usar a cor para desenvolver uma paleta própria nunca é questionado, nem mesmo estudando sua teoria. Por isso nós formulamos nossa própria gramática da cor para depois violá-la completamente.


BS: A escala de um projeto/produto é determinante em como a cor irá se comportar?

S&B: Para os nossos clientes sempre é um grande desafio transpor as cores das amostras que produzimos em nosso estúdio para algo maior e industrial. Isso só é possível graças a uma relação de confiança que estabelecemos com eles e uma escolha bastante criteriosa dos fabricantes.

No caso dos tecidos que desenvolvemos para a Maharam, por exemplo, o cliente sabia exatamente o que queria: toques de cor e planos geométricos, algo que se enquadra perfeitamente no nosso repertório. Assim, quando apresentamos o projeto Michael Maharam já sabia quais fornecedores contactar para que conseguíssemos a melhor solução de acabamento. Essa troca é muito importante e o ir e vir de um projeto nos permite explorar o melhor de cada técnica.


BS: Vocês também se valem muitas vezes da transparência em produtos e instalações - como furos, rasgos ou o próprio vidro. Essas técnicas dialogam perfeitamente com o esquema de formas e cores da dupla. Como essas características surgiram?

S&B: Nossa assinatura, por assim dizer, consiste em cor, detalhe, camadas e transparência. Nos valemos desses elementos e a mistura entre eles para transcender o anonimato da produção em massa e deixarmos nossa marca. Objetos que sobrevivem ao teste do tempo são sempre aqueles em que é possível identificar uma história sendo contada, um método de trabalho ou uma expressão pessoal.


BS: As formas criadas por vocês são muito precisas, bem como o uso pontual e cuidadoso de cor. Qual a razão dessa combinação?

S&B: Nosso ritual na oficina é bastante importante e consiste em produzir modelos em papel de tudo para depois ver como combinar cores, texturas e materiais. Esse processo manual é a melhor maneira de se compreender um projeto, pois uma alça de xícara que parece perfeita no desenho pode revelar outras implicações quando moldada em papelão, por exemplo.

Em cada projeto novo começamos do zero, nunca pré-estabelecemos nada, de forma que a cor está sempre atrelada ao material e implicações como durabilidade e reprodução. Além disso, viagens inspiram muito nossas escolhas cromáticas, uma vez que cada país tem cores muito particulares, o que nos intriga bastante. Ironicamente nunca fomos convidados para desenvolver especificamente uma paleta de cor completamente nova para ninguém, o que é bastante estranho e seria esperado se analisarmos nossos trabalhos produzidos ao longo desses anos.


















Fonte: Casa Vogue

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