segunda-feira, 30 de março de 2015

O MODERNISMO BRASILEIRO






No ano de 1922, quando dos 100 anos da proclamação da independência do Brasil, um grupo de poetas paulistas composto por: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Sérgio Millet, Cassiano Ricardo e Raul Bopp organizou a Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, o Futurismo do francês Marinetti já era um movimento tardio e, em parte, superado na Europa. 
Mesmo assim, não deixaram nossos artistas de serem chamados de Futuristas No entanto, Mário de Andrade em artigo publicado no terceiro número da revista Klaxon rebateu essa relação feita entre eles e o grupo de Marinetti. Mário Silveira Brito analisando o caso afirma “Mário de Andrade acentua sua discordância com vários pontos do manifesto futurista, para aceitar na totalidade apenas os 5º e o 6º.” (A Literatura no Brasil, Afrânio Coutinho, vol.5). O próprio Mário de Andrade afirma “Se [...] aceitamos o manifesto futurista, não é para segui-lo, mas para compreender o espírito de modernidade universal” (idem).

O grande líder intelectual desse primeira fase do Modernismo foi de fato Mário de Andrade “dele é o primeiro livro da corrente publicado, não só em São Paulo como em todo o Brasil: Paulicéia Desvairada (1922).” Trata-se de um poema em versos na maioria livres, a moda de uma cantiga de escárnio no qual o poeta faz duras críticas à cidade de São Paulo.

Dois anos após a SAM, o grupo organizador começa a se desfazer em vários outros grupos que vão marcar esse período de 1922 a 1930, que fica conhecido como a Fase de Ruptura.

Assim teremos, o movimento Pau-Brasil que surge por volta de 1924, liderado por Oswald de Andrade. O grupo Verde-amarelo, formado por Menotti Del Picchia, Cassiano Ricardo, Plínio Salgado e Raul Bopp. Em 1927 surge, desse mesmo grupo, a “revolução Anta”, lideram esse grupo Menotti Del Picchia e Cassiano Ricardo. Em 1928, Tarsila do Amaral pintou um quadro que Oswald de Andrade chamou de “Abapuru” (o antropófago, aquele que se alimenta de carne humana). Em torno desse quadro, Oswald e Raul Bopp fundam o movimento Antropofágico.

De 1930 a 1945 vai acontecer a segunda fase Modernista chamada de Fase de Extensão, ou Pós-modernismo. De 1945 em diante teremos a Fase Esteticista.

Essas fases correspondem a geração que não são secções na nossa história artística literária, mas uma influi sobre a outra. Nas próximas postagens estaremos nos detendo a cada um dos movimentos que surgiram durante a primeira fase.


Trecho de Paulicéia Desvairada

Os caminhões rodando, as carroças rodando,

rápidas as ruas se desenrolando,

rumor surdo e rouco, estrépitos, estalidos...

E o largo coro de ouro das sacas de café!... (...)

Oh! este orgulho máximo de ser paulistanamente!!!




Bibliografia consultada

A Literatura no Brasil / direção Afrânio Coutinho: co-direção Eduardo de Faria Coutinho – 4ª Ed. Ver. E atul. – São Pauo: Global, 1997pag. 43 – 225.




* O GRUPO DA POESIA PAU BRASIL




Entender a importância que teve Oswald de Andrade para a renovação de nossa poesia é necessário primeiro entender um pouca da poética clássica. Simplificando o termo poética podemos dizer que seja o conjunto de normas e regras a serem seguidas como cânones em determinadas épocas. A poesia clássica é marcada principalmente pelo uso de temas clássicos e formas fixas de poemas (soneto, elegia, ode, rendol, etc). Além de se manter fiel a uma série de normas quanto a temática e as formas, o poeta deveria seguir a risca a medida dos versos. Dentre as medidas poéticas, ou metrifica, as mais usadas foram as redondilhas menor, com versos de cinco sílabas poéticas, as redondilhas maior com sete sílabas poéticas, os versos decassílabos, ou medida nova com dez sílabas poéticas, e os versos alexandrinos com doze sílabas poéticas. Para se ter uma ideia do que isso significa, basta lembrar que Os Lusíadas, de Luis Vaz de Camões, que é um poema épico, possui 8.816 versos, todos eles são versos decassílabos.

O Movimento Modernista, que no Brasil seu ápice foi a Semana de Arte Moderno, teve como aspiração romper com toda essa forma de fazer poesia. Uma das novidades desse movimento foi o verso livre, idealizado pelo movimento Futurista europeu, versos que não seguiam nenhuma medida. Muitas das inovações das chamadas Vanguardas Europeias haviam sido incorporadas pelos poetas brasileiro. Isto é, nós estávamos pretendendo uma renovação nas nossas artes, mas importando ideias da Europa.

Justamente por perceber isso que, Oswald de Andrade tornou-se um grande ícone nesse momento de nossa literatura. Ele junta um grupo de poetas e cria um movimento chamado de O Movimento da Poesia Pau-Brasil. Nome meio esquisito esse, não? Esquisito sim, todavia com uma grande simbologia. Ele é quem dá a explicação: "Pensei em fazer uma poesia de exportação e não de importação, baseada em nossa ambiência geográfica, histórica e social. Como o pau-brasil foi a primeira riqueza brasileira exportada, denominei o movimento de Pau-Brasil". Em 1925, lança em Paris os pilares dessa sua poética, por assim dizer, no livro Pau-Brasil e em 1927, em Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade. "...queria uma poesia primitiva, correspondente ao exotismo europeu, pelo qual optara em rejeição a cubismo e super-realismo". (RAMOS, A Literatura no Brasil - Era Modernista).

Ao invés dos temas clássicos, a mitologia grega-romana, por exemplo, Oswald vai buscar o primitivismo brasileiro. Com essa intenção é que versifica trechos da carta de Pero Vaz de Caminha. Veja uma estrofe abaixo em versos livres:




"Há águias de sertão

E emas tão grandes como as de África

Umas brancas e outras malhadas de negro

Que com uma asa levantada ao alto

Ao modo de vela latina

Correm com o vento."




Genial, não? José Oswald de Andrade nasceu em Saõ Paulo no ano de 1890, formou-se em Direito pela Faculdade de São Paulo em 1919. Mas foi como escritor de literatura que se consagrou. Dirigiu O Homem do Povo, fundou O Pirralho e foi um dos chefes organizadores da Semana de Arte Moderna. O que mais dizer desse homem agoniado e inquieto? Panfletário, crítico, ensaísta, romancista, contista, poeta, polemista.




Bibliografia Consultada

A Literatura no Brasil / direção de Afrânio Coutinho; co-direção Eduardo de Faria Coutinho. - e ed. rev. e atul. - São Paulo: Global, 1997.




De Nícola, José, 1947 - Análise e Interpretação de Poesia / José de Nícola, Ulisses Infante - São Paulo: Scipione, 1995. - (Coleção margens e texto)

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