Desde o momento em que soube que meu maior Mestre voou para o mais alto do céu, sinto um vazio imenso. No final da manhã do dia 19 de julho de 2014, morreu Rubem Alves - o grande nome da literatura brasileira -, em decorrência de falência múltipla de órgãos. Ao ser comunicada, imediatamente me lembrei do texto Quando o belo também é despedida – publicado em uma coluna da Revista Bons Fluídos, em fevereiro de 2009 – que me fez chorar muito só de pensar na possibilidade de sua partida.
“Hoje quero falar da tristeza. Não me perguntem por que, pois eu mesmo não sei. A tristeza não pede licença, não se explica. Vai chegando de mansinho e espalhando seu perfume de jasmim pelas coisas, até que todas ficam encantadas pela beleza que nela mora. Ficam belas-tristes as nuvens do céu, tristes-belos os bem-te-vis nos galhos das árvores, belos-tristes os objetos silenciosos do meu escritório, e até mesmo o café-da-manhã fica triste-belo... A tristeza é sempre bela, pois ela nada mais é que o sentimento que se tem ante uma beleza que se perdeu...”
As palavras intensamente leves e capazes de renovar a alma, aguçar a sabedoria e estimular a reflexão foram (e serão para sempre) alicerces para a minha jornada como educadora. A cada texto absorvido, a cada palestra encantada, a cada café filosófico saboreado, eu aprendi com ele que é possível sonhar com uma escola ideal e trabalhar para que ela exista.
E o lirismo? Rubem Alves tinha a sensibilidade de ver o Mundo através de uma folha; enxergar o Universo em uma gota d’água; viver o momento, aproveitando-o em sua plenitude. Um Homem inspirado pelas coisas simples da vida e que inspirou muitas pessoas; e que continuará inspirando com cada palavra deixada.
Mineiro de Boa Esperança, nasceu em 15 de setembro de 1933 e, além de escritor, era mestre em teologia, doutor em filosofia, educador e psicanalista. Autor de mais de 160 títulos, distribuídos em 12 países, conquistou admiradores por seus pensamentos sobre a vida e a existência. Sempre atento às questões do ensino, foi referência no assunto. Em Campinas – onde morava – tinha um instituto para promover a inserção social por meio da educação. A paixão que tinha pelo conhecimento era uma marca de plena dedicação e sabedoria.
O Mestre dos Mestre é a minha referência como educadora e como escritora. Quando o li pela primeira vez, havia sorriso no meu rosto, lagrimas em minha face, sensação de paz e calmaria. Ele bordava o texto e o arrematava com elementos que fazem parte da minha vida:
“Amo os ipês, mas amo também caminhar sozinho. Muitas pessoas levam seus cães a passear. Eu levo meus olhos a passear. E como eles gostam! Encantam-se com tudo. Para eles o mundo é assombroso. Gosto também de banho de cachoeira (no verão…), da sensação do vento na cara, do barulho das folhas dos eucaliptos, do cheiro das magnólias, de música clássica, de canto gregoriano, do som metálico da viola, de poesia, de olhar as estrelas, de cachorro, das pinturas de Vermeer (o pintor do filme “Moça com Brinco de Pérola”), de Monet, de Dali, de Carl Larsson, do repicar de sinos, das catedrais góticas, de jardins, da comida mineira, de conversar à volta da lareira.Diz Alberto Caeiro que o mundo é para ser visto, e não para pensarmos nele. Nos poemas bíblicos da criação está relatado que Deus, ao fim de cada dia de trabalho, sorria ao contemplar o mundo que estava criando: tudo era muito bonito. Os olhos são a porta pela qual a beleza entra na alma.”
Suas palavras estão espalhadas e farão florescer muitos ipês-amarelos que darão a beleza necessária para a transformação do mundo e por uma educação de qualidade e de amor. Como era o seu grande desejo, e é o de seus seguidores.
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