quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O DIA EM QUE MORRI...







O DIA EM QUE MORRI


- Lígia Guerra -


Estranho? Nem tanto. Se depois de ler esse texto você achar que ainda está vivo, ótimo! Caso contrário, é bom repensar se ainda existe algum sopro de vida aí dentro. Vou contar como tudo aconteceu.


A minha primeira parcela de morte aconteceu quando acreditei que existiam vidas mais importantes e preciosas do que a minha. O mais estranho é que eu chamava isso de humildade. Nunca pensei na possibilidade do auto abandono.


Morri mais um pouquinho no dia em que acreditei em vida ideal, estável, segura e confortável. Passei a não saber lidar com as mudanças. Elas me aterrorizavam.


Depois vieram outras mortes. Recordo-me que comecei a perder gotículas de vida diária, desde que passei a consultar os meus medos ao invés do meu coração. Daí em diante comecei a agonizar mais rápido e a ser possuída por uma sucessão de pequenas mortes.


Morri no dia em que meus lábios disseram, não. Enquanto o meu coração gritava, sim! Morri no dia em que abandonei um projeto pela metade por pura falta de disciplina. Morri no dia em que me entreguei à preguiça. No dia em que decidir ser ignorante, bulímica, cruel, egoísta e desumana comigo mesma. Você pensa que não decide essas coisas? Lamento. Decide sim! Sempre que você troca uma vida saudável por vícios, gulodice, sedentarismo, drogas e alienação intelectual, emocional, espiritual, cultural ou financeira, você está fazendo uma escolha entre viver e morrer. 


Morri no dia em que decidi ficar em um relacionamento ruim, apenas para não ficar só. Mais tarde percebi que troquei afeto por comodismo e amor por amargura. Morri outra vez, no dia em que abri mão dos meus sonhos por um suposto amor. Confundi relacionamento com posse e ciúme com zelo. 


Morri no dia em que acreditei na crítica de pessoas cruéis. A pior delas? Eu mesma. Morri no dia em que me tornei escrava das minhas indecisões. No dia em que prestei mais atenção às minhas rugas do que aos meus sorrisos. Morri no dia que invejei , fofoquei e difamei. Sequer percebi o quanto havia me tornado uma vampira da felicidade alheia. Morri no dia que acreditei que preço era mais importante do que valor. Morri no dia em que me tornei competitiva e fiquei cega para a beleza da singularidade humana. 


Morri no dia em que troquei o hoje pelo amanhã. Quer saber o mais estranho? O amanhã não chegou. Ficou vazio... Sem história, música ou cor. Não morri de causas naturais. Fui assassinada todos os dias. As razões desses abandonos foram uma sucessão de desculpas e equívocos. Mas ainda assim foram decisões. 


O mais irônico de tudo isso?
As pessoas que vivem bem não tem medo da morte real. 
As que vivem mal é que padecem desse sofrimento, embora já estejam mortas. É dessas que me despeço.


Assinado,



A Coragem 


Inspirado no livro "Mulheres às Avessas" pela editora Sextante de Lígia Guerra e escrito por ela.
Amei!

2 comentários:

  1. Quando Aprendi a me Amar

    ”Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio marque meia noite.
    É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje.
    Posso reclamar porque está chovendo ou agradecer às águas por lavarem a poluição.
    Posso ficar triste por não ter dinheiro ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício.
    Posso reclamar sobre minha saúde ou dar graças por estar vivo.
    Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria ou posso ser grato por ter nascido.
    Posso reclamar por ter que ir trabalhar ou agradecer por ter trabalho.
    Posso sentir tédio com o trabalho doméstico ou agradecer a Deus por ter um teto para morar.
    Posso lamentar decepções com amigos ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades.
    Se as coisas não saíram como planejei posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar.
    O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma.
    Tudo depende só de mim.”

    Charles Chaplin

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