À sua frente, um trabalho de arte. Fascinado, você se aproxima, observa a riqueza dos detalhes, o primor das imagens... É perfeito! Mas surge a dúvida: isso é uma pintura ou uma fotografia?
© Denis_Peterson, "Active Driveway No Parking".
O próprio crítico de arte Gilles Aillaud comentou, durante uma exposição de artistas hiper-realistas no Centro Nacional de Arte Contemporânea de Paris em 1974: “(...) eles fazem quadros que parecem fotografias”. Essa questão pairou sobre a cabeça de diversos visitante de galerias e museus totalmente desavisados do período. Até mesmo na atualidade o hiper-realsimo é capaz de suscitar dúvidas.
Entre os anos de 1965 e 1970, desenvolveu-se nos Estados Unidos uma corrente artística denominada hiper-realismo, com foco primeiramente em Nova York e na Califórnia, chegando posteriormente à Europa. A estética foi batizada de início como fotorrealismo pelo galerista norte-americano Louis K. Meisel (1942). Os termos novo realismo e realismo radical também são utilizados para nomear o movimento. Apesar dos diversos nomes, o pintor americano Denis Peterson(1944) - primeiro artista fotorrealista - afirma que existe diferenciação, sim, entre o que seria hiper-realismo e o fotorrealismo. Para ele, o hiper-realismo leva o fotorrealista a um outo nível de experimentação e detalhamento da obra.
O detalhamento extremo das pinturas hiper-realistas tem sua raiz no realismo do século XIX (movimento artístico e literário surgido no final do século XIX na Europa, em especial na França). Os realistas repudiavam a artificialidade do neoclassicismo e do romantismo, e sentiam a necessidade de retratar a vida, os problemas e os costumes das classes média e baixa, além de questionar os modelos estabelecidos na sociedade. Os hiper-realistas também se sentiam atraídos e inspirados pela pintura de Edward Hopper (1882-1967) - pintor, artista gráfico e ilustrador norte-americano -, conhecido por suas representações realistas da solidão na contemporaneidade.
© Chuck Close, "Mark".
© Guerrino_Boatto, "Motel Office".
© Denis Peterson, "Dust to dust".
© Denis Peterson, "Too Much of Nothing".
Independentemente dos temas construídos em cada obra, os hiper-realistas buscavam criar trabalhos que representassem fielmente a realidade, mas que concomitantemente refletissem uma visão pessoal da vida moderna americana. A estética hiper-realista foi um contraponto ao Minimalismo e à Arte Conceitual. Nos anos 1960, o hiper-realismo parecia um estilo de retorno à representação, como uma espécie de ruptura com o expressionismo abstrato dos anos anteriores. Com o tempo, o olhar dos críticos de arte e das demais pessoas foi percebendo que tais pinturas não eram realistas, pois não representam o mundo exterior, mas constituíam uma metalinguagem artística, por suas referências serem outras imagens.
© Richard Estes, "Madison Square".
© Richard Estes, "Supermarket".
As fotografias são as fontes primárias dos hiper-realistas: seu modo de obter as informações da realidade. Fotografada antecipadamente, a imagem é projetada diretamente na tela, fazendo pintura por aerógrafo ou por gravação fotossensível - ambos permitem realizar os trabalhos na tela ou qualquer outra superfície sem deixar marcas gestuais, além de permitirem o controle da quantidade e a regularidade da tinta. Dessa forma os artistas criavam figuras uniformes e de uma aparência fria e objetiva.
© Richard Estes, Telephone Booths".
© Audrey Flack, "Crayola".
Mesmo com a busca pela exatidão na representação, as imagens são levemente modificadas em relação ao original fotográfico – podendo ser engrandecidas, levemente deformadas ou recebendo jogos e efeitos de nitidez. Os primeiros artistas a criarem obras hiper-realistas foram os americanos, e entre eles estavam os pintores Richard Estes, Audrey Flack e Chuck Close. Na Europa, o primeiro artista hiper-realista foi o austríaco Gottfried Helnwein. O hiper-realismo não se restringiu apenas à pintura - diversos escultores contemporâneos pertenceram ao movimento: o americano Duane Hanson criou uma série de esculturas hiper-realistas em tamanho natural, que colocam em evidência indivíduos menosprezados na sociedade americana. E ainda o escultor australiano Ron Mueck, que criou esculturas hiper-realistas, hiperdimensionadas, com atenção especial para os detalhes.
© Audrey Flack, Rich art".
© Gottfried_Helnwein, "The murmur of the Innocents 17".
© Gottfried Helnwein, "Epiphany I Adoration of the Magi".
O hiper-realismo impôs-se em poucos anos, chegando a sua consagração na famosa exposição Documenta de 1972, curada por Harald Szeemann. E mais tarde, novamente na Documenta de 1975, quando a exposição confrontou o Hiper-realismo com a Arte Conceitual, e colocou os dois movimentos como os mais representativos do final da década de 1970. Muitos artistas continuaram trabalhando com está técnica, ampliando os temas e ferramentas. Devido ao avanço das tecnologias, a produção hiper-realista mais recente tem conseguido um grande grau de nitidez e alta definição. Os temas comuns dos óleos e acrílicos produzidos pelos hiper-realistas são a representação das cidades, seus outdoors publicitários, lojas, cafetarias e supermercados. Assim como cenas de famílias ordinárias e seu cotidiano sem extravagâncias.
© Ron Mueck, "Big Man", (fotografia de MetalCris).
© Ron Mueck, "Mask Self Portrait", (fotografia de Paul Lim).
O objetivo do hiper-realismo consistia em uma representação da realidade de maneira extremamente meticulosa e distanciada, afastando qualquer subjetividade do artista e do próprio observador. Mesmo com o advento da fotografia como representação do “real” – ou uma possível interpretação dessa realidade – a afirmação do pintor Richard Estes é significativa quanto à ação do hiper-realismo na história da arte e na própria sociedade: “Não acredito que a fotografia dê a última palavra sobre a realidade.” Contudo, o crítico e historiador de arte italiano Giulio Carlo Argan afirma de maneira irônica que o hiper-realismo: “Consistia em reproduzir imagens fotográficas com precisão canina, empregando meticulosamente as técnicas pictóricas, como se estivesse refazendo artesanalmente, com grande perda de tempo e energia, algo que a máquina faz num instante”.
© Ron Mueck, "Baby", (fotografia de Jeannie Fletcher).
© Duane Hanson, "Football", (fotografia de Thomas Hank).
Para alguns autores, ainda, o hiper-realismo surge como tentativa de compensar o “desaparecimento do real”, construindo assim uma versão até exagerada do que é “real”, das experiências e da própria vida. Essa simulação do real não pode ser interpretada como irreal, sendo na verdade o hiper-real, pois todos esses trabalhos pretendem ser mais verdadeiras do que a realidade. Agora, uma obra hiper-realista pode suscitar muitas outras questões, além da pergunta primeva: será pintura ou fotografia?
© Duane Hanson, "Woman Eating", (fotografia de Mjlaflaca).
Fonte: Obvious.
Perfeição acima de tudo.Amei.Grande dom para fazer dos detalhes pura arte.Obrigada por compartilhar conosco destas maravilhas.Bjs Eloah
ResponderExcluirRealmente fiquei encantada Eloah com tremenda perfeição! Imenso abraço amiga! Aline Carla.
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