sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A implosão da mentira




A implosão da mentira

Affonso Romano de Sant'Anna




Fragmento 1


Mentiram-me. Mentiram-me ontem

e hoje mentem novamente. Mentem

de corpo e alma, completamente.

E mentem de maneira tão pungente

que acho que mentem sinceramente.


Mentem, sobretudo, impune/mente.

Não mentem tristes. Alegremente

mentem. Mentem tão nacional/mente

que acham que mentindo história afora

vão enganar a morte eterna/mente.


Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases

falam. E desfilam de tal modo nuas

que mesmo um cego pode ver

a verdade em trapos pelas ruas.


Sei que a verdade é difícil

e para alguns é cara e escura.

Mas não se chega à verdade

pela mentira, nem à democracia

pela ditadura.

Obs.: Foto de Aroldo Vieira de Souza.

2 comentários:

  1. "Quando se aprende a mentir, a mentira torna-se tão involuntária quanto a respiração." Machado de Assis

    Em alguns momentos parece haver uma certa vontade social de envolver a questão da mentira como um problema psiquiátrico. Evidentemente quando alguma pessoa mente descaradamente, sem motivação, compulsivamente e,principalmente,quando sua atitude mentirosa causa frustrações ou aborrecimentos em outros que não "merecem" tais mentiras.
    A análise isolada não se baseia na explicação da mentira, o que mais importa é o conjunto da situação existencial na qual se insere a pessoa; interessa sim os sentimentos, pensamentos, e propósitos que acompanham suas atitudes.
    Segundo pesquisas todos mentem de uma certa forma e, assim sendo, a dificuldade está em descobrir qual é a mentira patológica e qual é a mentira fisiológica. Existe a mentira institucional, àquela dos políticos, dos programas de governo, das instituições. São mentiras aguardadas e disfarçadas de verdades absolutas.
    A mentira não deve ser entendida como uma espécie de contrário da verdade. Ética e moralmente a mentira está muito mais relacionada à intenção de enganar do que ao teor de deturpação da verdade e, juridicamente, a mentira está relacionada ao dolo ou prejuízo que causa a outra pessoa.
    A mentira não é apenas invenção deliberada, uma ficção, pois nem toda ficção ou fábula é sinônimo de mentira. Não pode ser mentira a literatura, a arte ou mesmo a demência (sintoma da confabulação). A intencionalidade é que define a mentira, estabelece o dano ou dolo.
    Assim sendo, não mente quem acredita naquilo que diz, mesmo que isto seja falso. Santo Agostinho declara que “Quem enuncia um fato que lhe parece digno de crença ou acerca do qual forma opinião de que é verdadeiro, não mente, mesmo que o fato seja falso”.
    Considerarmos todas as formas de mentira, desde a mentira convencional de dizer "Bom Dia" às pessoas sem que, necessariamente, ansiamos para que ela tenha realmente um bom dia, passando pela mentira humanitária de consolar o moribundo, pela mentira carinhosa de achar que aquele vestido ficou muito bem na pessoa amada, o Papai Noel, ou a mentira por omissão, seja ela médica, política ou policial, enfim, todas essas maneiras de dissimular a verdade, entendemos melhor as pesquisas que mostram a mentira presente em todas as pessoas.
    Mas, é o propósito com que falamos alguma coisa que definirá a mentira. Mentir seria dirigir a outro um enunciado falso, cujo mentiroso sabe conscientemente dessa falsidade, e o faz com objetivo de enganar, de levar esse outro a crer naquilo que é dito, dando a entender que diz a verdade.

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  2. Querido Aroldo, mesmo que todo ser humano minta e realmente isto é fato a possibilidade de sermos felizes com a mentira é totalmente descartável, pois um dia tudo que é oculto será descoberto! "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará!"
    Imenso abraço, Aline Carla.

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