segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Leitura como fator de desenvolvimento por Pamella Indaiá / Blog Educação






No ambiente escolar, os livros podem ser encontrados nas mesas das salas de aula, nos espaços voltados à leitura e, até mesmo, guardados nas mochilas e prateleiras das bibliotecas. Segundo especialistas, com políticas de incentivo à leitura e distribuição de obras literárias nas escolas, além de materiais didáticos, o livro tem se tornado mais acessível aos estudantes em diversas regiões do País. No entanto, a proximidade física entre alunos e livros, muitas vezes, não significa familiaridade e gosto pela leitura. No livro Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário, a pesquisadora Delia Lerner assegura que “o necessário é fazer da escola um âmbito onde a leitura e a escrita sejam práticas vivas e vitais, onde ler e escrever sejam instrumentos poderosos, que permitem repensar o mundo e reorganizar o próprio pensamento.”

Neste campo de atuação, criar um processo capaz de contribuir para o desenvolvimento social e individual dos alunos por meio da leitura e abrir caminhos para a formação de leitores torna-se um desafio para os profissionais de educação. Segundo dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2011), do Instituto Pró-Livro, 48% dos leitores do Brasil são estudantes e 25% têm de 5 a 17 anos. Os materiais indicados pela escola são os mais lidos no país (47%), seguidos pelos didáticos (30%), enquanto a literatura ocupa o terceiro lugar na lista de interesse (17%). Ainda de acordo com a pesquisa, 45% dos leitores afirmam que foram influenciados a ler pelo professor ou professora, 43% pelas mães e 17% pelos pais.

Para o professor de Literatura Brasileira e coordenador do Grupo de Pesquisa Leitura e Literatura na Escola, da Universidade Estadual Paulista – UNESP, João Luís Ceccantini, a leitura tem a capacidade de desenvolver o aluno nos âmbitos social e individual e “o bom formador de leitores é aquele que consegue despertar e colocar ao alcance do indivíduo o livro que possa encantá-lo”, salienta. “Fala-se que a leitura é uma coisa muito solitária, mas não é. No mínimo, quando se lê, há um enfretamento, e a aproximação de duas pessoas: o leitor e o escritor. Agora, como essas duas pessoas não vivem em um vácuo, cada uma está inserida em uma sociedade, em um tempo e uma história, logo já temos um monte de gente e não tem solidão nenhuma nesse gesto. Por outro lado, um aspecto bonito e contraditório da leitura é que ninguém pode ler por outra pessoa. O professor pode ser um mediador, criar condições boas para o sujeito ler, mas ainda assim há um embate meio solitário entre o leitor e o que ele está lendo”, diz.

Ceccantini explica que há uma falha na formação do profissional da área de Humanas, principalmente de Língua Portuguesa, que dificulta a atuação e o desenvolvimento de atividades nas escolas. “Quase em todo curso de Letras, a literatura infanto-juvenil ocupa um lugar quase periférico. Às vezes, os professores saem do curso de Letras sem ter ampliado o repertório de obras que possam interessar crianças e jovens, sem uma boa formação para conhecer livros de literatura infantil e juvenil. O professor conhece Machado de Assis, clássicos do século 19, século 20, mas quanto aos livros [infantis] que têm um mercado mais forte e que o governo compra [para as escolas], ele acaba não se tornando um especialista. Por essa questão cultural, todo curso de licenciatura deveria ter uma disciplina de história da leitura, compreensão das práticas de leitura, estratégias para formar leitores e não tem nada disso em um curso de Letras.”

Para envolver o aluno, conforme explica Ceccantini, o professor precisa buscar textos que toquem e que dialoguem com a realidade imediata dele, mas que também possam expandir novos horizontes com a abertura de possibilidades que a vida cotidiana não pode propiciar. “As escolas, muitas vezes, têm uma postura de executar projetos que são pragmáticos e utilitários demais, sempre com foco nas metas e não é assim que se atua para a formação do leitor. Forma-se um leitor mostrando livros, seduzindo com livros. Há uma série de estratégias para incentivar a leitura de maneira mais espontânea, como acontece com pessoas que vêm de famílias leitoras, que frequentam o universo letrado ou que tiveram a sorte de no seu caminho passar um bom mediador. Temos projetos excelentes, ainda que eles sejam exceção à regra. Agora, por trás de um projeto desses que deu muito certo, há um leitor voraz, apaixonado pela leitura e que tem um repertório literário muito amplo e não necessariamente um saber técnico”, destaca.

O papel da família na formação do leitor

A dificuldade de leitura e a ausência do acompanhamento familiar sempre estiveram na pauta das reuniões pedagógicas realizadas na Escola Municipal Basílio Tcacenco, localizada em Caxias do Sul (RS). Para trabalhar essas questões, no segundo semestre de 2012, a escola começou a realizar o projeto Sacola da Leitura. “Partindo do princípio de que a criança tem como primeiro referencial o contexto familiar, pensamos em levar atividades de leitura que não só despertassem o interesse da criança, mas de toda a família”, conta a coordenadora pedagógica, Elisabeth Maria Guimarães Maggi. Dentro deste propósito, os alunos da escola receberam uma sacola com revistas para a família e livros de histórias infantis.

Segundo Maggi, em 2013, o projeto foi aplicado em todas as turmas, envolvendo cerca de 460 alunos. “Para que a leitura seja um objeto de aprendizagem no contexto escolar, deve fazer sentido para o aluno. Para que se torne um bom leitor, ele precisa desenvolver o gosto e o compromisso com a leitura. Este deve ser um processo interessante e desafiador para levar à autonomia e independência. A escola deve trabalhar com diversidade de textos e de combinações”.

Literatura e cidadania

Após trabalhar 12 anos em uma sala de leitura, a pedagoga e professora Raquel Gonçalves Ferreira foi responsável pelo projeto Como nasce um livro?, voltado para os alunos dos anos iniciais, na Escola Classe 18, de Taguatinga (DF). Ao perceber o interesse dos alunos durante a participação em um evento, que contou com a presença do escritor Ziraldo, a professora decidiu explorar a valorização do escritor e todo o processo de criação de um livro. “Começamos a fazer o registro de vários temas relacionados ao cotidiano dos alunos. Cada um foi responsável por uma página do livro e o texto foi criado pelo coletivo. Além disso, os alunos fizeram a ilustração e confecção do livro”, explica

No primeiro semestre de 2013, a professora passou a trabalhar com uma turma de educação inclusiva e o projeto deixou de ser executado. Neste mesmo período, Ferreira foi agredida por um aluno na escola e, depois dessa ocorrência, começou a formular uma nova ação que irá envolver literatura e reflexões sobre violência no ambiente escolar. “Penso em envolver a comunidade, os pais também. A ideia é fazer um casamento com a literatura e utilizar o livro Pinote, o Fracote e Janjão o Fortão, de Fernanda Lopes de Almeida. É uma maneira que encontrei de prevenir e trabalhar essa questão tão delicada, de maneira pedagógica e com um diálogo em que todos possam aprender”, explica.


Agentes de leitura


Em Natividade, município localizado no Rio de Janeiro, o Colégio Estadual Flávio Ribeiro de Rezende, seguindo as diretrizes da Secretaria de Estado de Educação – SEEDUC, criou o Projeto Leitura Escola 2013. “A ideia surgiu da percepção do interesse por livros de um grande número de alunos e professores, que frequentam a sala de leitura. O sucesso se deve ao trabalho realizado pelos agentes de leitura da escola, que vão ao encontro do público escolar e divulgam as obras que se encontram à disposição”, explica a coordenadora pedagógica, Lucimar Guimarães Lannes.

Ao longo do ano, o projeto trabalha os temas ética, saúde, sexualidade e cultura, utilizando títulos como A Barata Baratinada, Grafias Urbanas e Carandiru. “As obras disponíveis facilitam a ação, uma vez que vão ao encontro dos gostos e interesses dos alunos. O trabalho dos agentes de leitura é fundamental, neste sentido, porque gera afinidade entre os alunos e o universo dos livros. O encantamento dos alunos também passa pelo encantamento dos agentes de leitura e dos professores, o que permite que o gosto pela leitura venha de maneira natural e espontânea, sem pressão ou imposição escolar”, conta Lannes.

Aproximação com a biblioteca

Com o objetivo de preparar alunos com autonomia para o uso dos diferentes recursos informativos, foi desenvolvido o projeto A volta ao mundo em 80 dias, na Escola Municipal Professor Vercenílio da Silva Páscoa, em Vitória (ES). “Nossa meta foi aproximar o aluno da biblioteca, induzir a descoberta de novos recursos, explorar as diferentes formas de leitura, incentivar a pesquisa e despertar o interesse pela leitura prazerosa. O projeto, que teve ação interdisciplinar e englobou diversas áreas da educação, fez referência à obra do escritor francês Júlio Verne, que conta a história de um inglês que viaja o mundo em 80 dias”, conta a bibliotecária Elane Couto Uliana.

Uliana destaca que a biblioteca ainda é um espaço pouco utilizado. “Temos muito que realizar para o letramento informacional dos alunos. Com atividades interdisciplinares entre bibliotecário, professor e pedagogo, temos a oportunidade de mostrar que a biblioteca é um espaço de informação e de construção de cidadania. Os alunos que participaram do projeto mostraram maior interesse pela leitura dos clássicos da literatura, o que é realmente compensador para todos os envolvidos”, afirma.

Construção do hábito de ler

Na Escola Municipal Vovô Dandãe, situada em Boa Vista (RR), o projetoLeitura e produção de textos na escola: entre nessa você também! é executado pelo professor Arthur Cândido de Magalhães. A iniciativa surgiu após diagnóstico realizado no início de 2011, com estudantes do 4º ano. “Percebi que a maioria dos alunos tinha dificuldade para ler e compreender um texto, além de entraves para produzir. Juntando esse dois aspectos, desenvolvi um projeto de formação do leitor e produção de texto”, relata Magalhães.

Por meio do projeto, foram realizadas, nas salas de aula, leituras diárias de textos infantis e atividades específicas de recitação de poesias e contação de histórias. “À medida que o projeto foi caminhando, os alunos começaram a se expressar e a desenvolver o hábito de ler todos os dias, além de compreender melhor os textos e ampliar o vocabulário”.

Após a mudança na gestão escolar, o projeto encontrou dificuldades para seguir adiante. Magalhães ressalta que a formação do leitor deveria ser pensada de forma permanente. “As atividades de leitura deveriam acontecer desde a educação infantil até o ensino médio. Hoje, essas iniciativas são, muitas vezes, isoladas e não conseguimos dar continuidade”, diz.

Por Pamella Indaiá / Blog Educação
Fonte: http://www.blogeducacao.org.br/2013/08/leitura-como-fator-de-desenvolvimento/

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