terça-feira, 7 de maio de 2013

Autoexplicativa por Marla Queiroz







Quando uma pessoa cria uma página numa rede social, torna seu perfil público e compartilha curiosidades do seu cotidiano, isto pode ser carência, exibicionismo, vontade de encontrar amigos antigos, conhecer novos, trocar impressões com outros que comungam do mesmo ofício, enfim, pode ser por milhares de outros motivos ou por todos eles juntos. Quando a tal pessoa é uma escritora que perdeu a dimensão da repercussão dos próprios textos (muitas vezes publicados com a autoria trocada), e que não entende este processo de desumanização que alguns criam porque nos colocam num patamar quase divino, isto pode ser um suicídio, um homicídio, um desastre, uma dádiva. Tudo depende da forma como as coisas são conduzidas.

Pois bem. Falo de mim. Eu não sou parâmetro para ninguém. Nasci excêntrica, cometo indecências sem o menor pudor e, desde que eu não invada o espaço de ninguém, vivo a minha vida como me convém. Trabalhar a minha espiritualidade ou exercitar diariamente o meu melhoramento como pessoa, não faz de mim uma pessoa meiga, doce, fofa. Nem me obriga a isto. Faz de mim mais compreensiva, mais amorosa. Meu temperamento é intempestivo, meu posicionamento no mundo faz com que eu viva numa eterna autovigilância para não ser hostil. Eu me atiro, diariamente, de um pedestal imaginário que alguns me colocaram e isto é exaustivo. Sou um ser humano cheio de reformulações íntimas para fazer, de questões emocionais para resolver. Várias coisas eu consegui conquistar: a minha autoestima não é arrogância, é um perdão demorado que me dei para aprender a gostar e cuidar de cada detalhe que tenho: características, defeitos e qualidades. Sinto uma gratidão eterna pelo que me dão de afeto e afago, mas não escrevo para receber isto: é consequência.


Escrevo para respirar.

Minha nudez não está nas fotos, mas nas palavras. Minha exposição é a maneira mais honesta que encontrei para estar mais próxima de cada um. E é dessa forma que eu interajo com o Mundo: sem economia de qualquer coisa. Sem sutilezas. Sem medo de errar. Sem dar opiniões que não agregam na vida alheia, só para alfinetar. Não tenho vocação para recalques, não sinto inveja. Gosto de tudo o que sou e do que tenho. Não trocaria minha vida, meu corpo, meu estilo de escrita, minhas transgressões pelo “bom comportamento” de ninguém. Eu não trocaria nem os meus problemas se pudesse optar.

Portanto, venham os que quiserem, critiquem, amem ou deixem-me. Mas não se esqueçam que sou humana e tenho esta qualidade: de ter milhões de defeitos para me lapidar. O meu propósito primordial é simples: eu só estou aqui para escrever, para respirar. 

Marla de Queiroz

Imagem: Foto de Domingos Souza.

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