sexta-feira, 12 de abril de 2013

Escrevo-te com o fogo e com a água - um poema de António Ramos Rosa via O Mar Parece Azeite.





Escrevo-te com o fogo e a água. Escrevo-te 
no sossego feliz das folhas e das sombras.
Escrevo-te quando o saber é sabor, quando tudo é surpresa.
Vejo o rosto escuro da terra em confins indolentes.
Estou perto e estou longe num planeta imenso e verde.

O que procuro é um coração pequeno, um animal
perfeito e suave. Um fruto repousado,
uma forma que não nasceu, um torso ensanguentado, 
uma pergunta que não ouvi no inanimado, 
um arabesco talvez de mágica leveza. 

Quem ignora o sulco entre a sombra e a espuma? 
Apaga-se um planeta, acende-se uma árvore. 
As colinas inclinam-se na embriaguez dos barcos. 
O vento abriu-me os olhos, vi a folhagem do céu, 
o grande sopro imóvel da primavera efémera.


António Ramos Rosa
Volante Verde - 1986
in Antologia Poética



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradeço sua participação que é muito importante para mim.