Ser pedra
ser esta régua
que mede passos
sem conhecer medidas
ser essa coisa silenciosa
que guarda segredos
desvendando escritas
ser este esterco
disperso e bruto
que obra despedidas
ser este ser absurdo
que nada fez
metendo-se em tudo
Velho relógio
o tempo voa
não chora
por nada
exceto
o velho relógio
que permanece
sempre
na mesma hora
não tem ponteiros
somente marca
não tenha pressa
Pesca
a linha alcança
onde olhar descansa
na busca da paz
busca-se mais
do que o peixe
na ponta da linha
ninguém adivinha
o que virá
o que será
dessa pesca
o que se fisga
é a própria alma
de quem lança a isca
Marco Aurélio Cremasco nasceu em Guaraci, Paraná. Professor na Faculdade de Engenharia Química da Unicamp. Publicou os livros de poemas Vampisales (Editora da Universidade Estadual de Maringá, 1984), Viola Caipira (edição do autor, Campinas, 1995), A Criação (Cone Sul, São Paulo, 1997; Prêmio Xerox e Revista Livro Aberto de Literatura) e fromIndiana (edição do autor, West Lafayette, EUA, 2000). Possui o romance Santo Reis da Luz Divina (2004; Prêmio Sesc de Literatura de 2003 e finalista do Prêmio Jabuti de 2005) e o livro de contos Histórias Prováveis (2007) editados pela Record (Rio de Janeiro). Em 2010 foi contemplado com a Bolsa Funarte de Criação Literária para a escrita do romance Evangelho do Guayrá
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