quarta-feira, 3 de outubro de 2012

"Uma Tarde de Domingo na Ilha de Grande Jatte"

Em um belo dia de primavera em Paris, no fim do século XIX, Seurat criou sua obra-prima, “Uma tarde de domingo na ilha da Grande Jatte”. Fruto da experimentação e da paixão, essa pintura de grande proporção se tornou símbolo maior do pontilhismo. Mais de cem anos depois, a obra ainda suscita encanto e fascinação em que a vê.
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© George Seurat, "Un dimanche après-midi à l'Île de la Grande Jatte" (1884-1886).
Georges-Pierre Seurat (1859 - 1891), pintor francês, foi pioneiro do movimento pontilhista. Desde cedo optou por seguir carreira nas artes e, em 1877, ingressou na Escola Superior de Belas-Artes de Paris. O jovem pintor visitava frequentemente o Museu do Louvre, onde encontrou os mestres que o influenciaram: Ingres, Rembrandt; Francisco Goya e Puvis de Chavannes. De formação clássica, Seurat nunca terminou seus estudos, devido ao alistamento para a guerra.
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© George Seurat, Estudo para La Grande Jatte, 1884.
Nesse período, o artista mostra uma predileção pelo carvão sobre papel e a busca do jogo de luz e sombra proporcionado pela técnica. Seus temas sempre giravam em torno de figuras solitárias de classes menos favorecidas e capturadas à meia-luz do pintor. Posteriormente, as primeiras telas de Seurat vieram a ter foco nas figuras que rondavam o Sena e outros rios que o artista frequentava. O que prenunciava sua grande obra.
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© George Seurat, "Une baignade à Asnières", 1884.
Quando retorna a Paris, no ano de 1880, Seurat tem acesso à obra do químico francês Michel Eugène Chevreul A lei do contraste simultâneo das cores, de 1839. Essa obra trazia a teoria da lei das cores complementares e a visão das cores em simultaneidade, um grande avanço no conhecimento científico no século XIX.
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© George Seurat, Estudo para La Grande Jatte, 1884.
Passemos à "Tarde de domingo...". Espalhadas pela pintura estão 48 pessoas, 8 barcos, 3 cachorros e 1 macaco. Mistérios acercam quem observa a obra: uma jovem dama burguesa com a sombrinha, no primeiro plano, realmente saiu para andar com seu macaco? E ao fundo, a mulher estaria realmente pescando?
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© George Seurat, "Paysage et personnages", 1884-1885.
A Grande Jatte é uma ilha que se encontra no meio do rio Sena. A atração que Seurat sentia pelo local se devia, primeiramente, a sua localização privilegiada, que permitia visualizar de vários ângulos alguns bairros da cidade de Paris. Era também ponto de encontro de toda sociedade parisiense - marinheiros, babás, prostitutas e soldados, juntamente com a a burguesia - que aproveitavam o local em suas horas de diversão e folga.
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© George Seurat, "Femmes au bord de l'eau", 1884-1885.
Como dito anteriormente, a ilha de Grande Jatte era o centro de Paris. Era também vista com maus olhos, pois o sexo se vendia abertamente nas margens do rio – apesar da proibição da prostituição. O estratagema encontrado pelas cortesãs parisienses era fingirem que estavam pescando. Assim, sua atuação passava despercebida aos policiais. No entanto, a discussão sobre o tema prossegue.
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© George Seurat, "Figures assises", 1884.
O macaco sempre foi um animal de interesse para Seurat, estando presente em vários de seus esboços. Mas para a surpresa dos especialistas, a figura foi adicionada bem posteriormente pelo artista. Talvez pelo fato de que o animal também era associado à prostituição em alguns lugares. A própria moça que leva o animal é do tipo chamado cocotte.
A série de burgueses em trajes formais representa um contraste com sua obra anterior Une baignade à Asnières, de 1884. As obras quase complementares criam uma visão das diversões parisienses em fins de século. Muitos especialistas indicam que as telas teriam sido pintadas para serem expostas em conjunto. Algo que nunca ocorreu, devido à grande diferença entre elas.
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© George Seurat, "L'île de la Grande Jatte des Randonneurs", 1884.
A tela Uma tarde de domingo na ilha da Grande Jatte tornou-se a maior representante do pontilhismo. Este se caracteriza pelo uso de pequenas manchas verticais e horizontais juntamente com pontos de cor, que justapostos provocam uma mistura óptica nos olhos. A técnica é uma consequência das experimentações realizadas pelos impressionistas anos antes. O artista acreditava que as cores eram vistas como pontos de puro pigmento. Dessa forma, se colocasse pequenos pontos uns ao lado dos outros, com certa distância, criaria a imagem completa com intensa luminosidade. Uma curiosidade: Seurat utilizou um novo pigmento: amarelo de zinco, presente na parte mais iluminada do gramado. Mas antes do fim da obra a cor já começava a se degenerar. O grande companheiro – e aluno - de Seurat no desenvolvimento da técnica foi o pintor Paul Signac, com quem fundou a Sociedade dos Artistas Independentes.
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© Paul Signac, "La calanque", 1906.
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© George Seurat, "Circus", 1888.
Todos os dias durante seis meses, Seurat ia à ilha realizar esboços para a pintura, sempre sob o mesmo ponto de vista. Os primeiros esboços traziam apenas a paisagem, passando depois a cenas com elementos solitários e finalizando com cenas de conjuntos. O quadro foi pintado durante dois anos; no primeiro momento, Seurat realizou a pintura dentro da técnica impressionista. Depois aplicou, como uma segunda camada, o pontilhismo. A única figura que não está coberta de pontos é a menina de branco no centro.
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© George Seurat, "La Parade", 1889.
Renegada na França, a obra foi comprada por um rico empresário norte-americano que a ofereceu a sua filha. Durante anos os franceses tentaram recuperar o quadro, hoje em posse do Instituto de Arte de Chicago. Hoje, a pintura é uma das obras chave do espólio do museu, não realizando Itinerâncias e causando protestos quando sai de suas paredes. Quem quer ver pessoalmente a grande obra de Seurat, precisa ter Chicago no roteiro.
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© George Seurat, "Circus" (obra inacabada), 1891.

Sobre Uma tarde de domingo na ilha da Grende Jatte
Título original: Un dimanche après-midi à l'Île de la Grande Jatte
Ano: 1884-1885
Técnica: Óleo sobre tela
Tamanho: 2,07 cm x 3,08 cm
Coleção: Instituto de Arte de Chicago, EUA


Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2012/10/uma_tarde_de_domingo_na_ilha_de_grande_jatte.html#ixzz28BxJPTsb

2 comentários:

  1. Uma das mais icônicas obras de arte de todos os tempos, sem dúvida. A discussão em torno deste quadro jamais se esgota, todos possuem uma interpretação e uma visão diferente.

    No link abaixo, no finalzinho do texto, tem uma galeria com diversos esboços e estudos preparatórios para a obra, muito interessante.

    Tarde de Domingo na Ilha de La Grande Jatte.

    Abraços e parabéns pelo post!

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  2. Concordo plenamente com você Luana, muito obrigada pelo seu comentário. Volte sempre, sua presença é uma honra para o TRIBARTE.
    Grande abraço!

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Agradeço sua participação que é muito importante para mim.