"Talvez essa guerra nuclear seja amaldiçoada", de Maria Primachenko, 1978
Maria Primachenko (1908-1997) nasceu no vilarejo Bolotnya, na Ucrânia, a cerca de 30km de Chernobyl. A poliomelite que contraiu ainda na infância afetaria para sempre sua história: a doença despertou na menina um enorme valor à vida e grande amor à arte; ambos refletidos em sua expressão artística transformaram Primachenko em uma das mais conhecidas artistas do gênero naïf.
"Pássaro-sol, centeio e trigo", de Maria Primachenko, 1980
"Quatro bêbados em cima de um pássaro", de Maria Primachenko, 1976
"Três papagaios sobre o túmulo de um soldado", de Maria Primachenko, 1982
"Dois papagaios caminham juntos na primavera", de Maria Primachenko, 1980
"Nosso exército nosso protetor", de Maria Primachenko, 1978
Em 1936 Primachenko foi convidada a participar de uma oficina experimental no Museu de Belas Artes da Ucrânia, em Kiev, com tradição na formação de mestres artesãos. Provando ser uma artista prolífica, Primachenko desenvolveu sua arte em bordados, desenhos e pinturas em cerâmica (seus vasos eram criados pelo oleiro Yakym Herasymenko). Desde então, a artista tornou-se participante permanente em dezenas de mostras de arte em toda a antiga União Soviética, além de exposições na Bulgária, Polônia, França e Canadá.
Referindo-se ao modo pelo qual iniciou-se na pintura, disse certa vez Primachenko: "Uma vez, como uma menina, eu estava cuidando de um bando de gansos. Quando cheguei com eles de uma praia arenosa, na margem do rio, depois de atravessar um campo salpicado de flores silvestres, comecei a desenhar flores reais e imaginárias com uma vara na areia... Mais tarde, eu decidi pintar as paredes da minha casa usando pigmentos naturais. Depois disso eu nunca mais parei de desenhar e pintar."
Interior da casa da artista Maria Primachenko
Interior da casa da artista Maria Primachenko
Interior da casa da artista Maria Primachenko
Interior da casa da artista Maria Primachenko
Bastante rústico, o material de pintura utilizado por Primachenko resumia-se a filtros de papel (Whatman) e guache. Suas coloridas artes têm o folclore e a mitologia ucraniana como temáticas principais. As primeiras composições foram executadas sob um fundo branco, associado às paredes das casas camponesas da Ucrânia. Entretanto, a partir da década de 1970, a artista começou a desenvolver suas pinturas em fundos coloridos.
"Elefante verde", de Maria Primachenko, 1936
Sem título, de Maria Primachenko, 1961
"Esse animal está fazendo mágica", de Maria Primachenko, 1983
"Touro selvagem e corvo são amigos", de Maria Primachenko, 1983
"Animal errante", de Maria Primachenko, 1971
Misteriosos e carregados de forte carga emocional os elementos criados por Maria Primachenko parecem gravitar entre a realidade crua do mundo real e o universo dos contos de fadas. Assim, seus pássaros, animais e plantas interagem de modo bastante harmonioso e, triunfantes, estabelecem-se como uma unidade na natureza.
As pessoas que compõem seu universo visual são representadas com dignidade e auto-respeito. Já figuras como bestas e aves (leões, ursos, lebres, cegonhas, andorinhas) criam contrapontos entre o bem e o mau e são quase sempre retratadas através de seu modo particular de personificação: enormes olhos envoltos de grandes cílios.
A máxima "o estilo faz o homem" parece não se aplicar a Maria Primachenko que, ao contrário, optou por desenvolver seu estilo próprio. Criando atmosferas genuinamente lúdicas, suas obras nos presenteiam através do vislumbre de realidades fantásticas e da possibilidade de sonhar a cada novo olhar.
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