terça-feira, 23 de outubro de 2012

AS CORES COM QUE ME PINTO E DESENHO


Haverá um tempo em que não estaremos cá, e a nossa presença tomará a forma do espaço que deixamos e que não mais ocupamos.
Nesse tempo, recordar-nos-ão pelo que fizemos e pelo que deixamos de fazer, pelos sorrisos que entregamos e por aqueles que guardamos avaramente para nós. Recordar-nos-ão pela nossa história. Aquela que escrevemos e desenhamos e aquela que os outros ainda pintarão no nosso lugar.




Nos tempos em que era pequena e a minha vida se resumia a muito menos de um par de décadas, os meus olhos enchiam-se de luz de cada vez que percorria, num passo tão apressado quanto me permitiam as minhas pequenas pernas, a meia dúzia de quilômetros que separavam a casa dos meus pais de uma outra casa.
A grande, a mágica, a biblioteca, aquela onde contos e histórias se recolhiam e onde estantes compridas de livros ofereciam, a quem as quisesse visitar, narrativas de outros tempos e espaços reais e imaginados.
Outros mundos, outros povos, outras histórias semelhantes ou diferentes das nossas.

Naqueles e noutros livros encontrei e fiz amigos; nas suas páginas me revi, com heróis e vilões me zanguei. E li o que era o amor, e o ódio e a frustração; e perdi horas de sono, imaginando sonhos com que enchi as horas em que consegui dormir. Neles, e por eles, me apaixonei.
Talvez por isso escreva, e desenhe e pinte.
Talvez, por causa deles, dos livros, tenha sentido a necessidade de - à semelhança daqueles que despenderam horas da sua vida para criar, em palavras ou imagens, novas horas de novas vidas - deixar um registo, em palavras e em cores, daquilo que sou e de que sou feita, um relato do que fui e um esboço do que espero ser, do que penso e do que sinto.
Um pedaço de mim, feito imagem ou palavra.
Sem métrica, sem técnica, sem domínio da escrita.
As cores com que me pinto e desenho, apenas isso.

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Fernando Pessoa escreveu que : “Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, não há nada mais simples. Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra todos os dias são meus.”
A estas, acrescento apenas: e o que é meu, deixo-o a todos vós.

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(sobre livros antigos e dedicatórias, vale a pena ler ou reler o "Eu te dedico", da Jessica Parizotto. alguém que - parece-me - também tem amor pelos livros :) )

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