Assim como aconteceu com Guignard, o Parque Municipal de Belo Horizonte serviu de inspiração para o pintor, desenhista e ilustrador mineiro Marcelo Albuquerque, que iniciou sua carreira, ainda estudante da Escola de Belas Artes da UFMG, em 1998. As árvores centenárias e as montanhas que interagem com a arquitetura diversificada da capital foram as primeiras referências do artista, que hoje é reconhecido por retratar a paisagem em suas obras.
Nos primeiros desenhos ainda pode-se identificar um retrato quase literal do objeto observado. “É possível reconhecer Belo Horizonte em minhas pinturas, mas não é uma reprodução explícita de um lugar”, explica o artista que, até 2008, dedicou-se à série Paisagem e Arquitetura. Nela, os contrastes de Belo Horizonte, o crescimento das cidades e das favelas, as montanhas e a mineração são retratados, assim como as igrejinhas e a arquitetura barroca das cidades do interior.
Apesar de as características das paisagens mineiras estarem frequentemente em suas obras, Marcelo não se considera um pintor da mineiridade. “Tiro do olhar a minha percepção sobre o mundo. Embora minhas observações tragam características regionais, não me considero um militante, não levanto nenhuma bandeira”, diz.
Com o passar do tempo, o olhar inquieto de Marcelo modificou sua percepção sobre a imagem e suas obras tomaram um corpo diferente, com base em paisagem e arquitetura imaginárias. Era o início da série Nova Configuração da Paisagem, em 2009. “A paisagem é uma construção natural. O homem a cria para discursar sobre a paisagem. Se você tira uma montanha de um lugar, algo vai nascer ali. Eu me preocupo com a forma e como a paisagem vai se reconstruindo diante da ação do homem. Nessa nova fase, as pinturas são mais soltas, mais impressionistas”, comenta o artista.
Dentro dessa lógica, Marcelo Albuquerque brinca com o devaneio e reconstrói o que ele intitula de personagens urbanos. “Um edifício é um personagem dentro da cidade. Ele é um marco geográfico e cultural de um lugar e cria uma relação de identidade, como os prédios de Niemeyer na capital mineira”, afirma. Por conta de seus personagens urbanos, Marcelo foi convidado a expor no Salão Internacional de Humor de Piracicaba (SP), em 2008. “Desenhei cartuns e charges em que as favelas e os edifícios se comunicavam como cidadãos”, conta.
Nesse processo de inventividade da paisagem, as montanhas ganham recortes, formas geométricas são inseridas e até elementos pitorescos aparecem para dar um tom irônico e humorístico ao trabalho. Toda essa miscelânea de conceitos surge de influência de artistas de diversas épocas e estilos: o neoconcretismo de Amilcar de Castro, o modernismo de Guignard, a contemporaneidade da land art e o romantismo representado pelo tema da arcádia (termo nascido na Grécia antiga que configura a ideia de paraíso). “Gosto de dialogar com o passado, buscando referências e pesquisando a paisagem na história. No Brasil, por exemplo, a arte está totalmente ligada às paisagens. As primeiras obras traziam representações da natureza tropical e grupos étnicos, como os índios”, explica.
Outro elemento marcante da pintura de Marcelo são as cores vibrantes, onde o vermelho e o azul destacam-se entre as demais cores da paleta. “Considero-me um pintor colorista. A cor é um elemento de composição, está ligada à comunicação, à sensação causada no espectador. A associação entre o vermelho e o azul faz com que o olhar nunca se desprenda isoladamente”, diz o artista que ora pinta ao som de rock dos anos 1960 e 70, ora seleciona sinfonias de Beethoven.
Com especialização em história da arte pela PUC-Minas, Marcelo Albuquerque já trabalhou como professor substituto da Escola de Belas Artes da UFMG e ministrou cursos e oficinas em festivais de inverno. Para aprofundar os estudos, ele está de viagem marcada para a Itália, onde buscará referências na mitologia grega. “Impossível não pensar também nas lindas paisagens da Toscana, região cercada por campos e montanhas”. Na passagem pela Europa, Marcelo também visitará a França, onde o conceito de arcádia foi muito trabalhado no barroco francês. “Vou com o olhar de artista e acredito que essa viagem vá se refletir nas minhas próximas obras”, adianta. É esperar para ver os resultados nas telas.
Na obra Cidade, óleo sobre tela produzido neste ano, exuberância de cores e elementos pitorescos inseridos na pintura.
Via Revista Encontro.
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