sábado, 15 de setembro de 2012

Crystal Gregory: cores e linhas na paisagem urbana


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© Crystal Gregory, "Foot Traffic I".
Uma trama de linhas e cores que ao mesmo tempo em que se inspira na paisagem urbana a modifica. Esse é o trabalho da artista plástica Crystal Gregory, que através da inspiração em elementos do cotidiano, deixa as cidades mais alegres com suas delicadas intervenções.
A artista plástica Crystal Gregory parece ser capaz de romper a rigidez do mar de concreto que formam as cidades. Com um trabalho extremamente feminino e delicado, Crystal busca inspiração em elementos do cotidiano urbano e cria tramas de intervenções coloridas que segundo ela mesma exploram “interiores domésticos e exteriores arquitetônicos, nostalgia e modernidade, fragilidade e força, feminilidade e masculinidade”.
A obra de Crystal não apenas modifica o cenário urbano, como parece se integrar a ele de forma natural, segundo a artista seu trabalho consiste na criação de “objetos e instalações que estão relacionados ao lugar, ao corpo e à arquitetura”. Prova disso é a instalação Foot Traffic de 2010, inspirada nos sapatos que eram arremessados por jovens na ponte Lincoln Road e formavam um verdadeiro candelabro de fios e cores, Gregory “teceu” com crochê e linhas coloridas a grade da ponte. Uma intervenção sutil, mas que muda de forma alegre o panorama do local.
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© Crystal Gregory, "Foot Traffic II".
Ainda utilizando linhas, mas agora sem a variedade de cores do Foot Traffic são as obras Foundation I e II. Ambas trabalham com a questão do interior e o exterior na Arquitetura abordando temas como a estrutura e o padrão nos espaços domésticos. Na Foudation I tijolos são envolvidos por crochê artesanal, já na Foundation II alguns tijolos de concreto são substituídos pela trama de crochê e por uma iluminação interna que resulta em uma bela intervenção sensível perante a rigidez do concreto.
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© Crystal Gregory, "Foundation I".
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© Crystal Gregory, "Foot Traffic II".
Seguindo ainda essa vertente que desafia a rigidez e seriedade das cidades se encaixa a intervenção Crochê Invasivo, que recobre de crochê feito manualmente superfícies improváveis como cercas de arame farpado, o resultado é a dualidade delicadeza e aspereza convivendo harmonicamente.
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© Crystal Gregory, "Invasive Crochet".
O trabalho com tramas não está presente somente no uso de fios no trabalho de Gregory, na obra Heirloom (relíquias de família) de 2010, criado com madeira, vidro jateado e chumbo, o trabalho cria uma rede de desenhos na madeira que se assemelha a uma delicada renda, porém ao se olhar mais atentamente é possível ver a deterioração do material nas bordas dos desenhos, dando a real impressão de se tratar de algo antigo, uma verdadeira relíquia de família. Neste jogo de arte e elementos do cotidiano situa-se a obra Searching Home que associa a renda a objetos domésticos. Ao rasgar os objetos Gregory diz estar procurando um sentido para a casa, já que em sua vida não permaneceu em um mesmo lugar por mais de um ano. “A renda desempenha um papel central no meu trabalho. Eu estou apaixonada pela sua capacidade de revelar mais do que é, na verdade esconde, evocando ideias de sexo, classe, domesticidade, e padrão.”
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© Crystal Gregory, "Heirloom I".
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© Crystal Gregory, "Heirloom II".
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© Crystal Gregory, "Searching Home I".
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© Crystal Gregory, "Searching Home II".
Os trabalhos mais recentes de Crystal não utilizam linhas, mas ainda assim trabalham com a ideia de trama e exploram a relação interior e exterior. Um deles é a obra Passage, que consiste em um volume feito de vidro e chumbo inspirado no padrão do átrio do Rookery building em Chicago, que explora além relação dentro-fora, também a “passagem visual” através do vidro. Outra obra recente é 7:26 am, que estuda o padrão da luz nos espaços interiores e assim como outros trabalhos da artista se inspira em elementos do cotidiano, neste caso na luz da manhã que invade a janela de seu apartamento em Chicago. Utilizando triângulos de aço soldado Gregory diz ter se inspirado “na dependência que as pessoas têm por padrões de conforto, ordem e identidade. Através do reconhecimento de ritmos repetitivos, entendemos e organizamos nossas vidas”.
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© Crystal Gregory, "Passage".
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© Crystal Gregory, "7:26 am".
Semelhante ao trabalho de tramas de Gregory encaixa-se em um conjunto de intervenções artísticas conhecidas como Yarn Bombing (bombardeio de fios), também chamado de tricô de guerrilha, um tipo de movimento de arte de rua semelhante ao grafite, mas que pinta a cidade com fios e não com tinta. Árvores, carros, bicicletas e até buracos nas ruas e calçadas se tornam matéria-prima e são envolvidos por alegres e coloridas intervenções de crochê, tricô ou bordado. Atribui-se como precursora desse relativamente recente movimento, Magda Sayeg de Houston que teria coberto o trinco da porta da sua loja em 2005 com fios o que chamou a atenção da população e a levou a criar o grupo KnittaPleas com objetivo de reunir adeptos desse tipo de intervenção. A onda de intervenções usando fios se espalhou pelo mundo e o grupo Knit in the City no Reino Unido é considerado um dos maiores do genêro.
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© Crystal Gregory, "Yarn Bombing I", (Wikicommons, Alvaro León).
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© Crystal Gregory, "Yarn Bombing II" (Wikicommons, Alvaro León).
Em Paris a artista Juliana Santacruz Herrera através do projeto Nid de Poule (Ninho da Galinha) cobriu os buracos da calçada e das ruas com linhas e tecidos coloridos. A intervenção que ocorreu em 2009 deu um ar divertido e inesperado a algo que inicialmente se caracteriza como um problema, as rachaduras nas superfícies.
A própria Crystal Gregory possui intervenções que ela mesma nomeia como Crochê Grafite e que faz parte das ações do tricô de guerrilha, que para ela desafiam os pressupostos de gênero “através da tecelagem de rendas, trabalho feminino nas fendas e espaços masculinos na paisagem urbana”.
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© Crystal Gregory, "Crochet Graffiti I".
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© Crystal Gregory, "Crochet Graffiti II".
O trabalho de Gregory e as intervenções do tricô de guerrilha Yarn Bombing transformam mesmo que de forma efêmera a paisagem urbana, quebrando sutilmente o rigor cinza das cidades. Um sopro de delicadeza e cor que chama a atenção e encanta olhares desatentos que se surpreendem com a arte que ao mesmo tempo em que modifica se origina da própria cidade.


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