© Babak Parviz
Dizem que o olhar é o espelho da alma. É nele que se encontram todas as respostas, a janela para fora mas também para nós mesmos. Basta compreender e descodificar. Dilatado ou semicerrado, em plena relação com a luz, é agente de mudança das perceções sobre o mundo. Olhar, olhar, olhar... Nunca é demais. É o olhar que sustenta um conjunto de inseguranças, mas também de seguranças. No ritual de atravessar a estrada, há muito que se deixa de sentir o tato de mãos de todos os tamanhos e aprende-se a olhar para os dois lados. Olhar para os dois lados – resume-se, assim, o nível de interação com o campo visual. E a ampliação? A obtenção de informação sobre a realidade? A retenção de pormenores que por vezes escapam? Na Universidade de Washington, estudos revelam a possibilidade de tornar as lentes de contato em sistemas que permitem obter informação extra da realidade e monitorizar a quantidade de sódio, colesterol e níveis de potássio no organismo.
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As lentes de contato são utilizadas diariamente por mais de 100 milhões de pessoas. O piscar de olhos é incompleto. O volume de aproximadamente sete microlitros do fluido das lágrimas com o nível de acidez pH de 7.3 e concentração de sal de 0.91 e 0.97% é controlado. As lentes constituem uma barreira física para a mecânica de formação de lágrimas e metabolismo da córnea. Vários foram os historiadores que se aventuraram no mistério das lentes de contato.
Em 1508, no Manual Codex of the Eye, Leonardo Da Vinci introduz princípios da ótica sobre as lentes de contato e descreve um método de alterar diretamente o poder da córnea, mergulhando o olho em água. Apesar de se interessar pelo mecanismo de alojar o olho, não se refere a mecanismos/ dispositivos de correção da visão. É René Descartes que, em 1636, descreve um fluido de vidro transparente, um tubo cheio para ser colocado em direto com a córnea. A córnea é neutralizada. Segue-se Thoma Young, entre outros, que constrói um sistema semelhante ao de Descartes com um ocular fluído microscópio. Segundo o autor Huxley, os órgãos da visão são incapazes de curar-se, os olhos devem ser considerados diferentes em relação a outras partes do corpo uma vez que todos os outros órgãos, com excepção da visão, tendem a libertar-se dos seus defeitos. A utilização de óculos confere um estado de rigidez e imobilidade do olhar bem como as lentes que servem como talas, aparelhos de ferro e gesso.
Enquanto que os olhos e o sistema nervoso conduzem à sensação, da mente resulta a perceção. Agora, imagine-se o potencial do processamento de imagem básico e a Internet expostos em lentes de contato. O desbloqueamento de novos mundos inteiros de informação visual não é apenas fição científica (como alguns escritores como Vernor Vinge que retratam a sobreposição de objetos virtuais em relação à visão da realidade), é sim, real e o estudo está a ser conduzido na Universidade de Washington, em Seattle.
© Babak Parviz
Os avanços da Nanotecnologia permitem com que se produza sensores e dispositivos em tamanho reduzido, de modo a transformar as lentes de contato numa plataforma. Com micro-sensores e ligação sem fios (wireless), é possível medir parâmetros físicos como a química do corpo e aceder a novo tipo de informação médica. Através dos vasos sanguíneos e fluído das lágrimas, é possível ver os níveis de glucose no sangue. Juntamente com um transmissor de dados sem fio, a lente pode transmitir informações para médicos e enfermeiros, sem agulhas ou química de laboratório e em tempo real.
Através da lente, também, surge uma nova realidade. Será possível ver o mundo sobreposto com dados visuais provenientes do campo virtual. Através da conectividade de dados, as lentes podem mostrar imagens, novos tipos de informação como jogos, alertas e realidade aumentada (sobreposição de informação extra e virtual sobre o que é percecionado no real). Novas imagens são retidas na retina e as pessoas usufruiriam da tradução da fala em legendas, tradução de idiomas, sistemas de navegação, entre outros, em tempo real. Eis alguns exemplos das potencialidades deste sistema.
Reaproveitar a capacidade do olho humano e poder da perceção são as premissas que sustentam esta investigação. O olhar apresenta grandes potencialidades dado que permite a perceção de milhares de cores através dos recetores, condições de luz e a transmissão de informação ao cérebro excedem a velocidade de qualquer taxa de ligação à Internet.
O professor de engenharia eletrónica, Babak Parviz, refere que "Já vemos um futuro em que a lente de contato se torna numa plataforma real [...] As possibilidades se estendem até onde os olhos podem ver, e além. ". A lente biónica com tecnologia em micro-escala já está disponível e não é ficção.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2012/09/o_mundo_virtual_focado_em_lentes_de_contacto.html#ixzz25c0xsSEW
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