terça-feira, 14 de agosto de 2012

"A terra é uma costureira de sonhos."


TERRA SONÂMBULA, DE MIA COUTO

Em meio à devastação da guerra civil em Moçambique, o menino Muidinga e o velho Tuhair caminham por uma estrada abandonada, murchos e desesperançados. É preciso salvar a alma do menino Muidinga, sem família e sem memória. O corpo do menino foi salvo pelo velho Tuahir, quando todos no campo de refugiados já o tinham abandonado. Mas como pode Tuahir salvar a alma do menino, se a sua, se existe, está escondida sob camadas de desilusão? Também é preciso salvar a alma do velho Tuahir.



Os dois companheiros abrigam-se em um ônibus queimado, próximo ao qual encontram uma mala com roupa, comida e os cadernos de Kindzu. Terra Sonâmbula, de Mia Couto, narra o renascer poético de Muidinga e Tuahir provocado pela leitura dos cadernos de Kindzu. E o que há de mágico nesses cadernos? A narrativa fabulosa da história de Kinkzu, com outras histórias dentro, que despertam sonhos e fantasias. Os sonhos e fantasias transformam a vida de Muidinga e Tuahir, ainda que eles permaneçam naquela mesma estrada.

Mas não é apenas os dois companheiros que escutam as fantasias do caderno de Kindzu, também a terra morta pela guerra escuta aquelas histórias. E, quem sabe, a terra não esteja morta? Quem sabe esteja apenas dormindo? E já comece a se mover, sonhambulante, à força dos sonhos de Tuahir, de Muidinga, de Kindzu...:



"— O que andas a fazer com um caderno?
— Nem sei, pai. Escrevo conforme vou sonhando.
— E alguém vai ler isso?
— Talvez.
— É bom assim: ensinar alguém a sonhar.
— Mas pai, o que passa com essa nossa terra?
— Você não sabe, filho. Mas enquanto os homens dormem, a terra anda procurar.
— A procurar o quê, pai?
— É que a vida não gosta sofrer. A terra anda procurar dentro de cada pessoa, anda juntar os sonhos. Sim, faz conta ela é uma costureira dos sonhos."

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