© Catedral de São Basílio, Moscovo (Wikicommons, Joaquim Alves Gaspar).
Os edifícios ligados à função religiosa variam em sua concepção e forma, de uma maneira geral, segundo alguns valores comuns, como economia, cultura sociedade e política. Porém, algumas obras vão além e se destacam das demais, ora pelo esplendor arquitetônico, ora pela estranheza e singularidade.
A arquitetura das igrejas, além de ser resultado da gama de fatores já citados, está impregnada de significados simbólicos que visam uma representação da espiritualidade humana. Mas ao mergulhar-se nas histórias das construções dos edifícios religiosos é possível encontrar, além de fé, histórias que envolvem lendas, arquitetos obcecados e alguma decoração assustadora.
© Catedral de São Basílio, Moscovo (Wikicommons, Alexander Evstyugov-Babaev).
Exemplo singular é a Catedral de São Basílio, um dos símbolos da cidade de Moscou. Construída há mais de 450 anos sob as ordens do czar Ivan, o Terrível, a igreja já foi chamada de “mistura de Disneylândia com Igreja Ortodoxa” por causa de suas cúpulas coloridas construídas em forma de uma fogueira ascendendo ao céu. Existe uma lenda que diz que após a construção o czar Ivan ordenou que os olhos do arquiteto Postnik Yakovlev fossem arrancados para evitar que ele construísse algo mais majestoso que a catedral. Lendas à parte, a catedral, pertencente à Igreja Ortodoxa Russa, resistiu a um ataque de Napoleão, que tentou fazê-la explodir, e a planos comunistas de demolição. O desenho arquitetônico foi idealizado para que a catedral fosse uma figuração da Nova Jerusalém, o reino celestial descrito no Livro das Revelações de São João. Em contraste com seu exterior extravagante, o interior se apresenta bastante modesto. Complexa, intrigante, exagerada, bela... São apenas alguns dos adjetivos usualmente associados à obra mas, se não há um consenso sobre o seu aspecto formal, é inegável que ela é uma forte imagem, talvez um dos maiores símbolos associados a Moscou.
© A Sagrada Família, Barcelona (Wikicommons, Montse Poch).
© A Sagrada Família, Barcelona (Wikicommons, Bernard Gagnon).
Ainda mais monumental que a catedral de Moscou, em Barcelona, Espanha, encontra-se talvez um dos mais famosos exemplares da arquitetura religiosa, o Templo Expiatório da Sagrada Família, considerado a obra prima de Antônio Gaudí. Se a igreja espanhola é formalmente diferente da catedral russa, talvez sua história seja igualmente complexa. O projeto foi iniciado em 1882 e assumido por Gaudí, que o reformulou no ano seguinte e que continuou pelos seus últimos 40 anos se dedicando à construção. Mas a Guerra Civil Espanhola interrompeu as obras em 1929 e a previsão é de que a catedral seja concluída até 2026, ano do centenário da morte de Gaudí. Um dos monumentos mais importantes da Espanha, a catedral merece classificações que variam de genial a produto da obsessão do arquiteto catalão.
© Notre Dame Du Haut, Ronchamp (Wikicommons).
De encontro ao rebuscamento e extravagância da catedral russa e da catedral catalã, na cidade de Ronchamp, França, localiza-se um exemplar da arquitetura religiosa projetada por Le Corbusier, um dos arquitetos mais extraordinários do século XX: a Capela Notre-Dame du Haut (Nossa Senhora das Alturas). Quando convidado a projetar a igreja, o arquiteto obteve carta branca para criar. O cônego responsável indagou-o: “Não sei se estás acostumado a projetar igrejas, mas se vais construir uma, então as condições oferecidas em Ronchamp são ideais. Não é uma causa perdida: estarás livre para criar o que quiseres” - e assim Le Corbusier fez. O arquiteto desenhou a capela de modo que ela se tornasse um marco na paisagem, mas que mantivesse um diálogo com o espaço circundante. Assim, é possível visualizá-la de qualquer lado que se chegue. Notre-Dame du Haut possui uma sinuosa cobertura de concreto e paredes brancas com aberturas estratégicas que criam efeitos de luz e sombra que estimulam a experiência do visitante. A arquitetura de Le Corbusier para Ronchamp consegue algo que se aproxima da experimentação do sagrado. Mas se a igreja francesa não chama atenção pelo exagero, a sua construção não deixou de ser controversa: chegou a ser chamada de ‘garagem eclesiástica’ e ‘amontoado de concreto’ por romper com padrões arquitônicos (e religiosos) tradicionais.
© Catedral de Brasília, Brasília (Wikicommons, Agência Brasil).
© Catedral de Brasília, Brasília (Wikicommons, Eduardo Deboni).
Seguindo ainda a tríade ousadia estrutural - simplicidade - concreto se encaixam duas igrejas do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer. A primeira é a Catedral de Brasília, considerada uns dos ícones do modernismo brasileiro, inaugurada em maio de 1970. Sua cobertura é recoberta por vitrais projetados por Marianne Peretti, intercalados entre seus 16 pilares de concreto, que proporcionam um efeito de luz que a distancia das tradicionais catedrais escuras. Além das quatro esculturas em sua praça de acesso (os quatro evangelistas) e das três em seu interior (três anjos suspensos), outro elemento que a torna peculiar é a presença de um campanário anexo, diferente das torres sineiras tradicionais.
© Igreja da Pampulha, Belo Horizonte (Wikicommons, Bernardo Gouvêa).
© Igreja da Pampulha, Belo Horizonte (Wikicommons, Sarah and Iain).
A segunda faz parte do Complexo da Pampulha localizado na cidade de Belo Horizonte - é a Igreja de São Francisco de Assis, ou simplesmente Igreja da Pampulha. Inaugurada em 1943, a Igreja representa um ícone da arquitetura que recorre à plasticidade do concreto armado. Com sua abóboda em forma de parábola, que é ao mesmo tempo estrutura e fechamento, com painéis de Cândido Portinari, jardins de Burle Marx e Alfredo Ceschiatti, encanta arquitetos e amantes da arte de todo o mundo. Mas se hoje a igreja é um dos cartões-postais de Belo Horizonte, no início chocou a sociedade tradicional da época, o que gerou a proibição durante quatorze anos de realização de cultos em seu interior.
© Capela dos Ossos, Évora (Wikicommons, Nuno Sequeira André).
© Capela dos Ossos, Évora (Wikicommons, Nuno Sequeira André).
Se algumas igrejas chocaram pela aparente ousadia de romper com padrões arquitetônicos tradicionais e se apresentarem à frente de seu tempo, outras geram comoção pela estranheza de alguns de seus “elementos”. Esse é o caso da Capela dos Ossos situada em Évora, Portugal. A capela, construída no século XVII, possui suas paredes e pilares recobertos com ossos, iniciativa de três monges para demonstrar a transitoriedade da vida. A mensagem é reforçada pelas pinturas com temas de morte e com a célebre inscrição na sua entrada "Nós, ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos".
A capela de Santa de Cruz, no Arizona, EUA, a Igreja luterana em Reykjavik, na Islândia, a capela de St Michael de Ainguilhe, em Puy Velay, França, a catedral católica ucraniana de São José, em Chicago, a catedral de Nossa Senhora de Las Lajas, na Colômbia, a igreja do Jubileu em Roma, e as aqui já citadas são apenas alguns exemplos de que a arquitetura religiosa pode render muitas histórias que vão além da fé.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2012/07/arquitetura_incomum_de_igrejas.html#ixzz21kRvnOc9
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Agradeço sua participação que é muito importante para mim.