quarta-feira, 2 de maio de 2012

A música não pode parar!


No último sábado, num dia que era para ser de festa, num concerto que reuniu mais de 1,5 mil pessoas no ginásio do Sesc, o maestro Jony William Villela, diretor da ONG Orquestrando a Vida, mantenedora da Orquestra Sinfônica Mariuccia Iacovino, deu uma péssima notícia para o público. Ele anunciou o fim da atividade da organização, que ganhou fama internacional e que atende a aproximadamente 750 crianças, grande parte delas vindas de escolas públicas. Segundo Villela ele, a decisão foi tomada depois de uma reunião entre maestros e diretores da entidade, que alegam falta de recursos para levar o projeto adiante. Segundo o maestro, faltam recursos para pagamento de professores, maestros e para a manutenção dos gastos da organização. O fim das atividades da ONG está marcado para o dia 9 de maio, na Praça São Salvador, às 17h, com um ensaio aberto de todas as orquestras e bandas, com a presença das famílias dos integrantes do projeto e amigos da iniciativa.

Com quase 16 anos de existência, a ONG Orquestrando a Vida foi criada através de uma parceria entre o Centro Cultura Musical de Campos e a Fundação Musical Simon Bolívar (“El Sistema”, da Venezuela). O maestro defende a sensibilidade das pessoas que podem ajudar o projeto e solicita o auxílio de empresários e do poder público, para que continue ensinando música a crianças e jovens através de suas seis orquestras sinfônicas e duas bandas.
Na última segunda-feira, o maestro falou sobre o fim das orquestras e bandas no programa Folha no Ar, da PlenaTV. De acordo com Villela, todas as orquestras e bandas encerrarão suas atividades e apenas a Orquestra Mariuccia Iacovino cumprirá sua agenda de concertos de maio. “Em respeito ao público e aos artistas convidados que se apresentarão com a orquestra. Sexta(04), a Mariuccia Iacovino tem uma apresentação marcada para as 20h30, na Igreja de São Francisco, com o barítono Lício Bruno, considerado um dos grandes nomes do canto erudito no Brasil. E no dia 17 de maio, a orquestra participa de uma apresentação na Uenf, com a cantora Leila Pinheiro.


Depois destes concertos, a agenda será encerrada. Na nossa agenda, tínhamos apresentações no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, concertos em cinco festivais de inverno, duas turnês internacionais e concertos com Margareth Menezes, Neti Szpilman, corais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, entre outros”, comentou Villela.
Para o maestro, a solução por chegar por meio de patrocínios, se possível imediato, para que o pagamento das despesas possa ser feito. “Temos corrido, batido de porta em porta, mas, embora tenhamos uma intensa agenda de concertos em Campos e no exterior, me parece que somos ignorados e esquecidos. Durante 16 anos, somos responsáveis por 98% da agenda de concertos em Campos, além de participar de concertos no Brasil e no exterior. Não consigo entender o porquê do descaso com um trabalho sério, de qualidade e comprometido com a sociedade”, comenta Villela.

O maestro lembra que esta não é a primeira vez que a ONG apresenta dificuldades. “A tristeza de poder ver sempre o trabalho ameaçado, o pouco caso e a lentidão é que nos dei-xam indignados. Somos um patrimônio vivo de nossa cidade. Levamos nossa cultura a muitos palcos de renome e lutamos todos os dias com a realidade difícil de nossas crianças e jovens, que vêm de vidas difíceis e se encontram em uma ONG que traz esperanças de um futuro melhor. A missão da ONG Orquestrando a Vida é grande, mas precisa da sociedade, do poder público e de empresários para poder continuar a existir”, disse indignado o maestro.

A Orquestra Sinfônica Mariuccia Iacovino, já se apresentou em países como Argentina, Bolívia, Paraguai e Estados Unidos. O maestro Jony William Villela lembra que a Mariuccia Iacovino encerrou sua turnê nos Estados Unidos, em novembro de 2011, no famoso Carnegie Hall, em Nova York. A turnê nos EUA foi destaque em vários programas de televisão, como “Ação Global”, da InterTV Planície.

Para 2012, a Orquestra Mariuccia Iacovino tem convites para voltar a Nova York, Bogotá, na Colômbia; Madrid e Barcelona, na Espanha; Porto, em Portugal; e Paris, na França.

Projeto ganhou fama e renome internacional.


Para o maestro Jony William, o fim das atividades pode provocar descrédito.


Na avaliação do maestro Jony William Villela, o fim das atividades da ONG Orquestrando a Vida vai provocar descrença das famílias e das crianças e jovens do projeto. "As famílias estão chorando desde já a possibilidade do encerramento das atividades. Eles se deslocam todos os dias para as aulas da ONG de todas as partes do município, distritos e bairros e enfrentam todos os tipos de adversidades para verem seus filhos encaminhados, pois na ONG, além da música, trabalhamos a disciplina, amor ao próximo, respeito e muitos outros conceitos importantes para formação do carácter", definiu


Para Villela, a paralisação do projeto de educação orquestral também é vista como caótica em termos mais amplos. "Na cultura de nossa cidade, será um caos, pois nestes dezesseis anos de ONG e vinte e um anos do Centro Cultura Musical, temos mantido a duras penas a cultura musical erudita da cidade. Será uma perda imensurável! Não falo de um trabalho de alguns anos e sabemos muito bem os bastidores difíceis que enfrentamos em nosso dia-a-dia", comentou o maestro.

O diretor geral da ONG Orquestrando a Vida também levantou outras questões. "Para a sociedade, ficam as perguntas. O que fazer com estas crianças e jovens que hoje empunham seus instrumentos e largam outras armas para lutar por um idealismo digno? O que fazer? Temos algum plano? Qual é o plano? Mais presídios, abrigos e policias? Para as famílias, restam a desesperança e a tristeza de ver seus planos de uma vida melhor para seus filhos indo embora. Para nós, fundadores, professores, monitores e diretoria, a tristeza de ver um dos maiores projetos do mundo indo embora, dentro de uma cidade de tanta riqueza e prosperidade. Sonho com um dia em que nossas crianças e jovens campistas possam empunhar instrumentos musicais, longe das mazelas da vida. Qie viva a oportunidade, educação e a esperança", apontou Villela bem emocionado (T.T)

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