INSENSATO CORAÇÃO

Gostaria que o mito da caverna de Platão estivesse distante de meu, ora às vezes, insensato coração.

A dor que pronuncia lágrimas deveria diante de tantas outras dores ser só mito,

mas infelizmente a dor que deveras sinto é tao forte

quanto a morte.

Livrar-me desta dor seria conhecer o paraíso,

mas ele nesse momento é tão longínquo,

que me apego às possibilidades imediatistas.

Ontem em um refeitório de escola,

aproximou-se de mim um menino desconhecido,

e quando olhei para o seu rosto

não pude esconder meu olhar de dor,

Kauan tinha um tumor entre os olhos e o nariz.

Senti-me tão pequena diante dele e de sua imensa alegria,

porque apesar de seu estado físico, seu coração

não era insensato e transbordava amor.

Pediu-me para que o deixasse sentar ao meu lado,

e na mesma hora permiti,

me perguntou se gostava da comida,

pois achava deliciosa. 

Respondi-lhe que sim, era um banquete porque

sou "louca" por bananas fritas.

O tempo todo comíamos e conversávamos,

ríamos muito.

Kauan conseguiu provar que o mito do meu coração era falta de gratidão.

Mostrou-me que o meu olhar estava embaçado pelas angústias dessa vida.

E que diante de tantos encontros e desencontros eu necessitava de um novo olhar,

direcionado aos homens que mesmo não tendo o possível,

conseguem realizar o impossível porque são agradecidos pelo o pouco que têm.

Oh! Insensato coração seja sensato diante da ilusão.

Outono de 2012, Aline Carla Rodrigues.