© Imagem cedida gentilmente por Cícero Lins.
Podem compará-lo a Marcelo Camelo, a incontornáveis figuras da MPB como Chico Buarque e, até, ao rock melancólico dos Radiohead. Mas as lembranças e saudades que fazem de Cícero o músico que é são pessoais e intransmissíveis. São ecos dessas memórias que ouvimos ao longo das dez faixas que compõem o primeiro registo discográfico a solo do brasileiro.
No início, era Mary Jane: formada em 2003 pelos amigos Cícero Lins (guitarra e voz), P. V. (guitarra), Rodrigo Abud (baixo) e Higor (bateria), na altura adolescentes, a banda produzia uma sonoridade que sempre fica bem em tempos de acne e revolução hormonal; o grunge e punk dos Nirvana, Silverchair e Offspring eram as principais referências. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades - depois da gravação da primeira demo, o quarteto passa a chamar-se Alice e dá continuidade ao legado de grupos como os Pixies, Interpol e Radiohead.
Segundo o texto publicado pelo jornalista Jorge Wagner no blog (já extinto) "A Canção Pobre", Alice teve o seu definitivo amadurecimento em 2007, com o lançamento do disco "Ruído". Essa evolução foi especialmente notória na composição e letras de Cícero, inspiradas, entre outros, pela poesia de Carlos Drummond de Andrade. Infelizmente, a banda teria o seu fim, mas Cícero transportou essas influências para o seu "apartamento", que agora conhecemos em forma de canções.
© Imagem cedida gentilmente por Cícero Lins.
Tudo foi composto, gravado e editado em casa. O que daí resultou foi uma "sessão de análise". Depois disso, Cícero "só esperava ser ouvido". O público e a crítica especializada reagiram calorosamente e o disco reclamou o seu lugar em muitas das listas de favoritos de 2011. Um dos destaques é a canção de abertura, um número onde brilha o romantismo do acordeon e do metalofone, rasgado pela cada vez maior distorção da guitarra.
Mas o encantamento continua nas restantes nove faixas, com verdadeiros pontos altos em "Laiá laiá", uma marcha em crescendo pela exorcização da tristeza (esse sentimento sem o qual "não se faz um samba, não" - avé Vinicius) e "Pelo Interfone", um lamento em forma de bossa nova sobre um amor interrompido, mas que continua a viver no amargurado coração de quem o canta: "Se tu soubesses / Como machuca / Não amaria mais ninguém / Ah, dindi / Se tu soubesses / Ah, se tu soubesses / Não contaria pra ninguém".
É um universo de canções simples - mas não simplistas, porque a alma está em permanente conflito e "Canções de Apartamento" é um retrato disso. "Mas tudo bem, o dia vai raiar p'rá gente se inventar de novo".
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2012/04/no_apartamento_de_cicero.html#ixzz1sKT1f68g
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