Eliana Zagui é uma das mais antigas moradoras do Hospital de Clínicas de São Paulo (HC). Sim, moradora. Em março, Eliana Zagui completou 38 anos de idade — sendo 36 deles passados na UTI do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Eliana chegou ao HC depois de receber um diagnóstico tardio de poliomielite e ter perdido praticamente todos movimentos de seu corpo. Na semana passada, porém, Eliana, a despeito de todos os obstáculos, lançou seu primeiro livro. Escrito inteiramente com a boca, graças a um dispositivo que fazia as vezes de uma caneta, Pulmão de Aço - uma vida no maior hospital do Brasil (Editora Belaletra, 240 páginas) é uma relato do triunfo da mente sobre o corpo. (Leia o primeiro capítulo do livro)
Desde o dia 10 de janeiro de 1976, Eliana vive no HC. Hoje ela divide o quarto apenas com o fiel amigo Paulo Henrique Machado, 44 anos, também vítima de poliomielite e a quem ela dedicou seu livro. Nesses 36 anos, Eliana aprendeu a ler, escrever, estudou inglês e italiano, tudo dentro do hospital. Além de escrever e usar o computador com a boca, Eliana também pinta. Ela diz que a pintura, atividade que realiza desde a infância, é sua verdadeira paixão. "A pintura é onde eu me abro, onde eu coloco todas as emoções, todas as minhas fúrias, raivas, conquistas, tudo! Nela eu coloco o meu eu."
Sua paralisia poderia ter sido evitada. Seus pais não conseguiram vaciná-la contra a poliomielite porque coincidiu de ela estar com febre e sintomas de gripe nas vezes em que foi levada ao posto de vacinação. Ela explica que os profissionais de saúde não recomendavam a vacinação de crianças com esses sintomas. Hoje, no entanto, se sabe que essa precaução não tem embasamento científico.
No início de janeiro de 1976, a febre que se repetia por alguns dias e a falta de agitação da menina, que geralmente não parava quieta, fizeram com que os pais de Eliana procurassem um hospital com mais recursos, em Jaboticabal, no interior de São Paulo. A família vivia na cidade de Guariba, a 337 quilômetros da capital paulista. Depois de uma noite inteira, sem descobrir o que a menina tinha, os médicos recomendaram que ela fosse levada para Ribeirão Preto, cidade do interior paulista a 60 quilômetros de Jaboticabal. Lá ela foi diagnosticada com poliomielite e os médicos disseram que Eliana precisava ser levada às pressas ao Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Para chegar em São Paulo, Eliana contou com a sorte e com a ajuda de Josefina Aparecida Saccani, enfermeira do hospital de Jaboticabal que conseguiu uma carona para a família ir às pressas até a capital do estado. Josefina, mais conhecida como Fininha, foi uma das motivações para Eliana escrever seu livro: um encontro inesperado, depois de 25 anos, inspirou a escritora a resgatar sua história.
Um dos assuntos delicados da história de Eliana é sua relação com a família, que raramente a visita. Em entrevista concedida ao site de VEJA por telefone, ela contou um pouco como é o contato com os familiares: "Não existe uma relação, não se criou laço. Respeito eles, a gente tem um convívio até que razoável apesar da distância."
Sua paralisia poderia ter sido evitada. Seus pais não conseguiram vaciná-la contra a poliomielite porque coincidiu de ela estar com febre e sintomas de gripe nas vezes em que foi levada ao posto de vacinação. Ela explica que os profissionais de saúde não recomendavam a vacinação de crianças com esses sintomas. Hoje, no entanto, se sabe que essa precaução não tem embasamento científico.
No início de janeiro de 1976, a febre que se repetia por alguns dias e a falta de agitação da menina, que geralmente não parava quieta, fizeram com que os pais de Eliana procurassem um hospital com mais recursos, em Jaboticabal, no interior de São Paulo. A família vivia na cidade de Guariba, a 337 quilômetros da capital paulista. Depois de uma noite inteira, sem descobrir o que a menina tinha, os médicos recomendaram que ela fosse levada para Ribeirão Preto, cidade do interior paulista a 60 quilômetros de Jaboticabal. Lá ela foi diagnosticada com poliomielite e os médicos disseram que Eliana precisava ser levada às pressas ao Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Para chegar em São Paulo, Eliana contou com a sorte e com a ajuda de Josefina Aparecida Saccani, enfermeira do hospital de Jaboticabal que conseguiu uma carona para a família ir às pressas até a capital do estado. Josefina, mais conhecida como Fininha, foi uma das motivações para Eliana escrever seu livro: um encontro inesperado, depois de 25 anos, inspirou a escritora a resgatar sua história.
Um dos assuntos delicados da história de Eliana é sua relação com a família, que raramente a visita. Em entrevista concedida ao site de VEJA por telefone, ela contou um pouco como é o contato com os familiares: "Não existe uma relação, não se criou laço. Respeito eles, a gente tem um convívio até que razoável apesar da distância."
O título de seu livro, Pulmão de Aço, é inspirado em um aparelho onde eram colocadas pessoas que tinham dificuldades para respirar por falta de controle muscular ou do diafragma. Ligado à energia elétrica, o equipamento faz a caixa toráxica do paciente expandir e facilita a entrada de ar. No caso de Eliana, o pulmão de aço não funcionou. Ela precisou ser submetida a uma traqueostomia e ser ligada a equipamentos para respirar.
Por enquanto, o livro já vendeu 500 exemplares apenas no lançamento feito na própria UTI do HC, na semana passada. A Editora Belaletra informou um novo lançamento deverá ser feito no início de maio, por desejo da própria Eliana. Em entrevista ao site de VEJA, Eliana falou sobre sua chegada ao hospital, a busca pela sua própria história e a receptividade ao livro.
O livro começou como um diário, em 2002. Como isso começou? Eu fui escrevendo, pesquisando algumas coisas do meu passado. Essa parte foi muito trabalhosa e dolorosa. Eu nunca soube da minha realidade, as minhas lembranças eram dos quatro anos para cá. De três anos para trás eu não sabia nada, então fui pesquisando. Eu fui descobrindo o que eu podia.
A Fininha [Josefina Aparecida Saccani, primeira enfermeira que atendeu Eliana, ainda em Jaboticabal] entrou em contato com a senhora depois de alguns anos, por telefone e depois pessoalmente. Como foi esse encontro? Foi depois de 25 anos. Primeiro que ela tinha certeza de que eu estava viva. Ela não sabia o meu nome, mas ficou um tempo pesquisando, tentando saber. Até que ela perguntou para uma amiga. Como ela não sabia o meu nome, falou de uma criança que teve poliomielite na década de 70. Essa amiga falou que meus pais eram vizinhos dela. Disse que eu estava morando no hospital e que eu tinha me tornado pintora. Com o tempo ela entrou em contato comigo e começamos uma amizade. A história foi vindo até mim através dela [Fininha], ela vindo me contar pessoalmente, ela me escreveu uma carta depois. É emocionante.
Além das histórias contadas por Fininha, como a senhora descobriu as outras informações? Na verdade eu comecei pedindo pro meu pai escrever uma carta. Eu queria saber a versão dele, tudo que eles passaram, todo o sofrimento que foi na época. O meu pai escreveu uma carta de nove folhas de caderno e eu tenho essa carta guardada até hoje. Eu fui pegando o embalo, mas teve uma época que eu parei um pouco. Foi em 2006, eu parei porque eu ficava entre a cruz e a espada. Eu não queria falar da forma que eu gostaria para não chocar [o público] ou causar uma situação ruim, mas não queria deixar passar em branco para não ficar de uma forma boba. Em 2009 eu voltei à ativa.
O que a motivou para retomar essa história? Quando o pessoal da editora entrou em contato comigo, porque eu até então eu não estava indo atrás de nada, não estava indo atrás de editora. O livro estava parado, de vez em quando eu parava para dar uma avaliada, alguma escrita. O pessoal da editora entrou em contato porque eu havia falado [sobre o livro] em alguma matéria. Eles perguntaram se eu tinha a ideia de transformar em livro. Poder compartilhar tudo com as pessoas me deu força para ir para frente. Eu senti que tinha chegado o momento de realmente lançar o livro, de sair do anonimato.
O que mais a marcou em sua trajetória, desde o começo do trabalho até agora? O que está me marcando ainda é o efeito que está surtindo nas pessoas. Eu estou crescendo muito com isso, não para eu me engrandecer, para eu ganhar fortunas, mas como pessoa, como ser humano. É eu saber que alguns estão sendo tocados de alguma forma. É claro que às vezes tem uma situação em que alguém se livra do mal que estava porque o outro serviu de exemplo.
Como foi a cerimônia de lançamento do livro? Foi bom, foi muito bom. Foi algo marcante, eu não imaginava que viria tanta gente assim. Muita gente comprou o livro, teve gente que comprou mais de dois, alguns até três. Foi muito emocionante ver que cada um estava levando um pedacinho de mim para casa. Teve muita imprensa, nunca vi tanto holofote na minha vida.
Por enquanto, o livro já vendeu 500 exemplares apenas no lançamento feito na própria UTI do HC, na semana passada. A Editora Belaletra informou um novo lançamento deverá ser feito no início de maio, por desejo da própria Eliana. Em entrevista ao site de VEJA, Eliana falou sobre sua chegada ao hospital, a busca pela sua própria história e a receptividade ao livro.
O livro começou como um diário, em 2002. Como isso começou? Eu fui escrevendo, pesquisando algumas coisas do meu passado. Essa parte foi muito trabalhosa e dolorosa. Eu nunca soube da minha realidade, as minhas lembranças eram dos quatro anos para cá. De três anos para trás eu não sabia nada, então fui pesquisando. Eu fui descobrindo o que eu podia.
A Fininha [Josefina Aparecida Saccani, primeira enfermeira que atendeu Eliana, ainda em Jaboticabal] entrou em contato com a senhora depois de alguns anos, por telefone e depois pessoalmente. Como foi esse encontro? Foi depois de 25 anos. Primeiro que ela tinha certeza de que eu estava viva. Ela não sabia o meu nome, mas ficou um tempo pesquisando, tentando saber. Até que ela perguntou para uma amiga. Como ela não sabia o meu nome, falou de uma criança que teve poliomielite na década de 70. Essa amiga falou que meus pais eram vizinhos dela. Disse que eu estava morando no hospital e que eu tinha me tornado pintora. Com o tempo ela entrou em contato comigo e começamos uma amizade. A história foi vindo até mim através dela [Fininha], ela vindo me contar pessoalmente, ela me escreveu uma carta depois. É emocionante.
Além das histórias contadas por Fininha, como a senhora descobriu as outras informações? Na verdade eu comecei pedindo pro meu pai escrever uma carta. Eu queria saber a versão dele, tudo que eles passaram, todo o sofrimento que foi na época. O meu pai escreveu uma carta de nove folhas de caderno e eu tenho essa carta guardada até hoje. Eu fui pegando o embalo, mas teve uma época que eu parei um pouco. Foi em 2006, eu parei porque eu ficava entre a cruz e a espada. Eu não queria falar da forma que eu gostaria para não chocar [o público] ou causar uma situação ruim, mas não queria deixar passar em branco para não ficar de uma forma boba. Em 2009 eu voltei à ativa.
O que a motivou para retomar essa história? Quando o pessoal da editora entrou em contato comigo, porque eu até então eu não estava indo atrás de nada, não estava indo atrás de editora. O livro estava parado, de vez em quando eu parava para dar uma avaliada, alguma escrita. O pessoal da editora entrou em contato porque eu havia falado [sobre o livro] em alguma matéria. Eles perguntaram se eu tinha a ideia de transformar em livro. Poder compartilhar tudo com as pessoas me deu força para ir para frente. Eu senti que tinha chegado o momento de realmente lançar o livro, de sair do anonimato.
O que mais a marcou em sua trajetória, desde o começo do trabalho até agora? O que está me marcando ainda é o efeito que está surtindo nas pessoas. Eu estou crescendo muito com isso, não para eu me engrandecer, para eu ganhar fortunas, mas como pessoa, como ser humano. É eu saber que alguns estão sendo tocados de alguma forma. É claro que às vezes tem uma situação em que alguém se livra do mal que estava porque o outro serviu de exemplo.
Como foi a cerimônia de lançamento do livro? Foi bom, foi muito bom. Foi algo marcante, eu não imaginava que viria tanta gente assim. Muita gente comprou o livro, teve gente que comprou mais de dois, alguns até três. Foi muito emocionante ver que cada um estava levando um pedacinho de mim para casa. Teve muita imprensa, nunca vi tanto holofote na minha vida.
Fonte: Veja
Emocionante a forma de que um ser humano consegue viver, vencer obstáculos e erguer a cabeça. Cada ser sabe seu sofrimento com a experiência vivida, não tenho palavras pra expresssar uma lição de vida como essa. Guerreira, heroína são as únicas palavras que consigo dizer. Aline, gostei muito desta postagem e é uma pena que ninguém tenha comentado uma coisa tão linda que é esta mulher guerreira, digna de meu respeito. Mais não importa, pois as vezes o muito se torna pouco e o pouco significa muito. Beijos e abraços da Sthefany. Que Deus abençoe cada dia mais você Eliana e você também Aline.
ResponderExcluiroi
ResponderExcluirEmocionante a forma de que um ser humano consegue viver, vencer obstáculos e erguer a cabeça. Cada ser sabe seu sofrimento com a experiência vivida, não tenho palavras pra expresssar uma lição de vida como essa. São essas coisas que muitos deveriam ver, ao invez de entrar em facebook, orkut, msn e passar o dia todo em casa reclamando da vida que tem, do almoço, da janta, do café da manhã, do lanche da tarde de todos os dias e ainda não fazer nada. Ao contrário de guerreiras como você Eliana, que vive cada dia, uma superação. Você me emocionou e garanto que emocionou muita gente também. Mudou a vida de cada pessoa que acompanhou sua vida. Guerreira, heroína são as únicas palavras que consigo dizer. Como pode, nesse mundo ter tantas pessoas insatisfeitas com a vida, reclamando de uma caminhada, de um namorado, de uma mãe chata que apenas quer o seu bem.. Enquanto isso seus egoistas, sim egoistas, tem muita gente querendo ter essa "vida" que você se recusa a ter. Aline, gostei muito desta postagem e é uma pena que ninguém tenha comentado uma coisa tão linda que é esta mulher guerreira, digna de meu respeito. Mais não importa, pois as vezes o muito se torna pouco e o pouco significa muito. Beijos e abraços da Sthefany. Que Deus abençoe cada dia mais você Eliana e você também Aline.
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