A costureira que cresceu na vida por sua criatividade, talento e legitimidade. A estilista que brilhou no exterior por apresentar ao mundo a moda brasileira em seu estilo mais peculiar. A mãe que lutou contra a ditadura em busca do corpo do filho desaparecido. A mulher que inspirou uma das canções mais doces de Chico Buarque. Quem é essa mulher? Ela é Zuzu Angel.
Zuzu Angel em NY no início dos anos 70, (© Acervo Instituto Zuzu Angel).
Zuleika Angel Jones, mais conhecida como Zuzu Angel, foi um ícone da moda nos anos 70. E também um símbolo da luta contra a ditadura no Brasil. Um misto de talento e coragem, onde os papéis de estilista e mãe se entrelaçavam de uma forma que despertava nas pessoas admiração e compaixão. Admiração pelo seu trabalho realmente significativo para a moda brasileira e compaixão pelo seu sofrimento que parecia não ter fim – e, no final das contas, realmente não teve. Pelo menos não o que Zuzu esperava.
Em Minas Gerais, para onde se mudou bem jovem com a família, Zuzu começou a trilhar seu caminho na moda. Por lá ela já costurava roupas para as primas e pessoas próximas. Teve também uma passagem pela Bahia, lugar que provavelmente inspirou grande parte de suas criações, já que em suas coleções prevaleciam as cores tropicais. E em 1947 mudou-se em definitivo para a cidade onde faria carreira, o Rio de Janeiro.
Nos anos 70, Zuzu abriu sua loja em Ipanema. Com uma linguagem bem pessoal, criava peças que eram a cara do Brasil. Tanto que ela dizia “Eu sou a moda brasileira”. Em suas coleções reinavam misturas de tecidos, cores, estampas, pedrarias e tudo que tivesse um ar de brasilidade. Abusava do uso de chitas, rendas, sedas e fitas. Adorava tecidos com estampas de animais ou com temas regionalistas e folclóricos. Zuzu gostava de inovar, mas não se fazia de sofisticada. Não costurava apenas para a elite. Seu intuito também era vestir a mulher comum. A brasileira brejeira, como a Gabriela de Jorge Amado.
International Dateline Collection (NY, 1972), (© Acervo Instituto Zuzu Angel).
A moda Zuzu Angel era marcada por uma feminilidade indescritível. Tudo que ela produzia tinha um quê de delicadeza, um toque de tropicalicalismo e, obviamente, sua marca registrada, o logotipo do Anjo.
Elke Maravilha - Coleção Helpless Angel (Anjo Desamparado), (© Acervo Instituto Zuzu Angel).
Por toda essa origininalidade pulsante em suas criações, Zuzu se destacou no exterior. Conquistou os norte-americanos, teve suas coleções em vitrines de grandes lojas nos Estados Unidos, angariou clientes famosos como Liza Minelli, Kim Novak, Ted Kennedy e Joan Crawford, e teve ampla divulgação em importantes meios de comunicação dos Estados Unidos.
International Dateline Collection (NY, 1972), (© Acervo Instituto Zuzu Angel).
Infelizmente, nem tudo na vida de Zuzu teve um colorido tropical. Uma de suas maiores lutas foi a busca incansável pelo corpo do filho Stuart Angel – ativista do Movimento Revolucionário 8 de Outubro, o MR-8 –, que desapareceu para nunca mais ser encontrado, após ser preso por militares da ditadura. Essa é uma parte muito obscura na vida da estilista, que foi fortemente marcada por sofrimento.
Sua grande influência nos Estados Unidos fez com que conseguisse a ajuda de figuras importantes em sua luta, como a do então secretário de Estado do Governo norte-americano, Henry Kissinger. A quem entregou pessoalmente uma carta relatando tudo sobre a tortura, morte e ocultação do cadáver de Stuart. Conseguiu também grande atenção das imprensas do Brasil e Estados Unidos realizando “desfiles-protesto”, onde se destacavam peças com figuras de crucifixos, tanques de guerra, pássaros engaiolados, sol atrás das grades, jipes e quépis militares ao lado do seu tão famoso logotipo de Anjo.
Zuzu Angel com roupa de luto e modelo - Coleção Helpless Angel (Anjo Desamparado), (© Acervo Instituto Zuzu Angel)
Em 1976, sem nunca ter chegado a respostas conclusivas sobre a morte do filho, Zuzu morreu vítima de um acidente de automóvel. Sua morte também nunca foi de fato esclarecida e muitos acham que ela teve o acidente após derrapar o carro por ter sido perseguida. Ela própria já sabia que isso poderia acontecer, tanto que espalhou entre os amigos cartas que relatavam suas suspeitas. Nelas havia um trecho que dizia "Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho". Uma dessas cartas foi recebida por seu amigo Chico Buarque que, tendo sua história como inspiração, compôs junto com Miltinho a canção Angélica.
Em 2006, Zuzu teve sua história retratada no longa-metragem Zuzu Angel, com direção de Sérgio Rezende e Patrícia Pillar no papel da estilista, que entrou para o hall das grandes produções do cinema brasileiro.
Atualmente, Zuzu Angel é muito bem representada através do
IZA – Instiuto Zuzu Angel de Moda, uma instituição sem fins lucrativos, fundada em 1993 e idealizado pela jornalista e filha de Zuzu,
Hildegard Angel. Localizado no Rio de Janeiro, o instituto tem como ideal valorizar a moda brasileira, através da criação e produção de moda a fim de gerar empregos e captar divisas para o país. Com um dos maiores acervos de moda do país, o IZA resgata as raízes de nossa história e faz um intercâmbio da moda brasileira em suas diversas manifestações.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2012/03/zuzu_angel_quem_e_essa_mulher.html#ixzz1pfyLjwav
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