A ciência desvenda como funcionam as estruturas cerebrais de pessoas bem-sucedidas e aponta as estratégias para que cada um tire o melhor do seu cérebro para ser também um vencedor
Cilene Pereira e Mônica Tarantino
A repórter Izadora Rodrigues foi até uma escola que ensina uma ginástica diferente para deixá-lo mais esperto. Assista ao vídeo :
A psicologia já forneceu pistas sobre as características de personalidade que ajudam uma pessoa a ter sucesso na vida – segurança e perseverança estão entre elas. Agora, é a vez de a neurociência revelar como funciona o cérebro de indivíduos bem-sucedidos e o que cada um pode fazer para usar o poder do órgão em benefício próprio. Pelas descobertas obtidas, o que se pode depreender é que o cérebro de uma pessoa vencedora opera, sim, de modo diferente, com a ativação de áreas que a impulsiona em direção aos objetivos e a inibição de outras, que atuam como freios.
Alguns dos achados mais importantes desvendam os processos cerebrais que levam um indivíduo a seguir motivado até alcançar um objetivo desejado. Sabe-se que essa capacidade – a da motivação – é uma das marcas mais fortes de quem consegue a realização no que faz. Nos Estados Unidos, cientistas da Universidade de Duke traçaram uma espécie de mapa da motivação, jogando luz sobre o mecanismo pelo qual uma simples vontade transforma-se em uma ação real. De acordo com eles, para que isso ocorra, as primeiras áreas do cérebro a serem ativadas são o córtex pré-frontal e o orbitofrontal. “Eles identificam boas oportunidades de crescimento pessoal ou profissional”, explicou à ISTOÉ Timothy Strauman, do Departamento de Psicologia e Neurociência da instituição americana. Depois, entram em ação os circuitos responsáveis por detectar, no ambiente, as condições necessárias para a realização do desejo. “Quando essas partes trabalham juntas, a pessoa começa a agir em busca do que quer”, diz o pesquisador.
O interessante é que indivíduos de sucesso possuem a capacidade de manter esse sistema muito mais ativado. Um trabalho realizado na Washington University School of Medicine deixou isso evidente. Os pesquisadores submeteram voluntários à exposição de imagens que provocavam tédio ou estímulo. Durante todo o tempo, monitorou-se a atividade cerebral dos participantes. Observou-se que os mais realizados mantinham as áreas associadas à motivação acionadas mesmo diante das imagens entediantes. “Eles se mantêm motivados porque acreditam que terão uma bela recompensa”, disse à ISTOÉ Debra Gusnard, uma das responsáveis pela experiência.
MÚLTIPLA
Lu Cottini vive parte do mês em São Paulo, onde faz direção de arte de vídeos
e participa do projeto Mentes Brilhantes, do Ibope, dedicado a oferecer soluções
criativas a clientes. Nos outros dias, fica no seu ateliê de roupas e tapetes em uma antiga
estação de trem em Minas Gerais. “Essa mudança de atividade instiga meu cérebro”
Na Universidade de Michigan, os pesquisadores se depararam com outra característica cerebral que descobriram ser típica dos vencedores: o poder de focar a atenção no que estão fazendo e na meta a ser conquistada. Daniel Weissman e sua equipe verificaram que os participantes que haviam atingido os melhores resultados nos testes de raciocínio eram os que dificilmente se distraíam. Nessas pessoas, áreas do córtex cingulado anterior são mais ativas do que nas demais. Essa região atua como um alarme que avisa ao cérebro quando estamos nos distanciando do objeto ao qual precisamos nos conectar. “Quem tem sucesso parece capaz de treinar o cérebro para melhorar essa rede de atenção”, disse à ISTOÉ Jeff Brown, da Harvard Medical School. Ele é um dos autores do livro “O Cérebro do Vencedor”, lançado no Brasil recentemente e no qual estão relacionadas algumas das pesquisas mais atuais sobre o tema.
À primeira vista, conhecer as capacidades cerebrais próprias de vencedores pode assustar. Pode-se ter a impressão de que eles são criaturas especiais, dotadas de algo inacessível à maioria das pessoas. Porém, a outra grande lição da neurociência a esse respeito é que todos podem desenvolver tais habilidades. “O cérebro pode ser moldado e modificado”, afirmou o cientista Brown. O pesquisador entende que isso pode ser obtido usando-se a capacidade do próprio cérebro de criar novos caminhos neuronais, a chamada neuroplasticidade. “‘É um trabalho duro, mas é possível construir um cérebro para ser um vencedor”, assegurou Brown.
Um exemplo dessa adaptabilidade cerebral a que se refere o cientista é a modificação pela qual passaram taxistas londrinos, como registrou um estudo da University College London. Após mapear o cérebro de 16 motoristas, a cientista Eleanor Maguire descobriu que o hipocampo deles era maior do que o das pessoas em geral. Essa estrutura participa da memória e do senso de navegação espacial. Por que era mais desenvolvida nos taxistas? Simplesmente porque eles costumavam passar pelo menos três anos treinando, estudando trajetos, nomes de ruas, direções, etc. Dessa maneira, refinaram uma estrutura cerebral indispensável para que fossem bem-sucedidos na profissão que escolheram.
A partir de constatações como essas, a ciência está empenhada em desenvolver ferramentas que possibilitem o aprimoramento cerebral. A prática regular de alguma atividade física é sabidamente um recurso eficiente. Não é por outro motivo que o neurocientista John Medina, da Universidade de Washington, instalou uma esteira ergométrica no seu escritório. “Em vez de tomar café, ando dez minutos na esteira. Isso estimula meu raciocínio”, diz ele, autor do livro “Aumente o Poder do Seu Cérebro”, recém-lançado no Brasil. Agora, as pesquisas estão mostrando que a atividade física ajuda a configurar um cérebro mais capaz já na infância. Um dos trabalhos que confirmam isso foi realizado na Universidade de Illinois (EUA). Os cientistas selecionaram crianças com idades de 9 a 10 anos e fizeram uma comparação entre o nível de condicionamento físico de cada uma e o tamanho do hipocampo, área também associada à aprendizagem. “Aqueles que tinham melhor preparo físico apresentavam um hipocampo maior e obtiveram desempenho superior nos testes de raciocínio”, disse Laura Chaddok, autora do trabalho. Ela constatou que as crianças com mais condicionamento tinham ainda maior capacidade de integrar diferentes tipos de informação.
FOCO
Em cinco anos de carreira, a grafiteira carioca Pamela Castro se tornou internacionalmente
conhecida e ganhou prêmios. Mas ela tem uma tática: durante alguns dias, se fecha em casa
para planejar suas ações. “A concentração amadurece o trabalho e a técnica”
CRIAÇÃO
Assim que termina um negócio, a empresária Débora Suconic (na foto, de óculos) inventa outro.
Neste momento, ela está abrindo um site para vender acessórios exclusivos,
como gravatas borboleta com strass e casquetes bordadas.
“Gosto desse movimento para manter a minha mente funcionando bem”
A ciência não conhece bem os mecanismos neurobiológicos que o exercício desperta. Também não há certezas sobre o tipo de atividade física mais eficiente e qual deve ser sua duração. Por essa razão, a pesquisadora Michelle Voss, também de Illinois, decidiu avaliar se manter uma atividade física moderada poderia reforçar a capacidade cognitiva. A resposta é sim. “Fazer exercícios aeróbicos por 40 minutos, três vezes por semana, é suficiente para gerar efeitos após seis meses de prática”, disse Michelle à ISTOÉ. “Os benefícios parecem ser ainda maiores depois de um ano se exercitando.”
Dos laboratórios de pesquisa estão saindo outras estratégias para ajudar a moldar um cérebro vencedor. Um dos experimentos mais curiosos foi feito na Universidade de Oxford, na Inglaterra, com 15 jovens. Parte deles foi submetida à aplicação, no cérebro, de correntes elétricas de baixa intensidade. Outra passou apenas por uma simulação de aplicações. Os jovens submetidos à estimulação tiveram um desempenho na matemática muito melhor do que os outros. “Seis meses depois esses jovens ainda tinham aumentadas suas habilidades para lidar com os números”, disse Cohen Kadosh, líder do trabalho.
Mais um campo de investigação é o uso de ultrassom. Os cientistas sabiam que essa energia influencia a atividade dos nervos, mas queriam descobrir se também atuava sobre circuitos cerebrais. A técnica, por enquanto avaliada apenas em ratos, foi testada na Universidade do Arizona. Nos experimentos, viu-se que as ondas de ultrassom modificam o padrão de atividade no hipocampo. “Por isso, a técnica poderá ser útil para melhorar a cognição”, disse Yusuf Tufail, autor do trabalho. O ultrassom estimulou também a produção de uma substância, o fator neurotrófico derivado do cérebro, que tem papel importante na formação de novos neurônios e na redistribuição de funções que o próprio cérebro faz.
Como o cérebro tem sido investigado de pontos de vista diferentes – observam-se aspectos moleculares, genéticos e anatômicos –, os vários achados estão compondo um painel impressionante sobre como o órgão é vulnerável e responde, bem ou mal, a circunstâncias diversas. E como tudo isso afeta sua performance. Há poucos meses, por exemplo, os pesquisadores constataram o papel importante de duas substâncias no seu funcionamento. Uma delas, o hormônio estrógeno, exerce influência positiva. “Ele atua no aumento das terminações nervosas dos neurônios, o que eleva a quantidade de sinapses”, disse à ISTOÉ Deepak Srivastava, da Universidade Northwestern. Sinapses são os pontos de contato de um neurônio e outro, em que ocorre a transmissão do impulso nervoso. Quanto maior o seu número, maior a circulação de informação no cérebro – algo muito positivo para manter a vitalidade do órgão.
Como o cérebro tem sido investigado de pontos de vista diferentes – observam-se aspectos moleculares, genéticos e anatômicos –, os vários achados estão compondo um painel impressionante sobre como o órgão é vulnerável e responde, bem ou mal, a circunstâncias diversas. E como tudo isso afeta sua performance. Há poucos meses, por exemplo, os pesquisadores constataram o papel importante de duas substâncias no seu funcionamento. Uma delas, o hormônio estrógeno, exerce influência positiva. “Ele atua no aumento das terminações nervosas dos neurônios, o que eleva a quantidade de sinapses”, disse à ISTOÉ Deepak Srivastava, da Universidade Northwestern. Sinapses são os pontos de contato de um neurônio e outro, em que ocorre a transmissão do impulso nervoso. Quanto maior o seu número, maior a circulação de informação no cérebro – algo muito positivo para manter a vitalidade do órgão.
O ácido quinurênico, o outro composto, ao contrário, é prejudicial. “Sua presença em maior quantidade no cérebro parece corresponder a uma redução na percepção, na memória e na capacidade de navegação espacial”, disse à ISTOÉ Robert Schwarcz, da Escola de Medicina da Universidade de Maryland. O inverso também foi observado. “Pessoas com menores quantidades dessa substância no cérebro são melhores nessas funções”, diz Schwarcz.
Outras pesquisas confirmam a validade de preceitos da filosofia oriental quando o objetivo é construir um cérebro para ter sucesso. Uma delas é respeitar o ritmo do órgão – e dar a ele um descanso, inclusive – quando se quer obter dele o melhor. Por isso, o budista e mestre em meditação Stephen Little, um ex-físico que ensina meios de melhorar a atenção, diz que é essencial saber a hora de parar. “É importante entender os sinais do corpo e fazer um intervalo para retomar o trabalho com a atenção renovada”, diz. Uma das suas técnicas favoritas é prestar atenção na própria respiração por alguns segundos para depois retomar a atividade.
AERÓBICA
No final do dia, quando percebe que não vai conseguir uma boa solução de informática
para um cliente, o diretor comercial Orlando Cintra, da empresa GXS, para de trabalhar e vai correr.
“Depois, as respostas que eu procurava chegam com facilidade impressionante”
O método tem o respaldo da ciência. “O cérebro é o motor que move uma máquina. Se funcionar sempre na mesma rotação, limita seu desempenho. E se for exigido sempre no seu potencial máximo, vai se desgastar”, diz o neurocientista Luiz Eugênio Mello, da Federação Brasileira de Sociedades de Biologia Experimental. Por isso, um cuidado essencial para manter o motor – ou o seu cérebro – funcionando bem é variar o padrão de exigência e dar a ele períodos de repouso. Quando não está investigando formas de reabilitar funções cerebrais em pacientes que sofreram acidente vascular cerebral, o próprio Mello, por exemplo, vai pescar. “O importante é que a pessoa faça o que lhe dá prazer”, diz Ivan Okamoto, neurologista do Hospital Albert Einstein e coordenador do Instituto da Memória da Universidade Federal de São Paulo.
MEMÓRIA
A cantora e compositora Juliana Kehl foi ao médico porque andava distraída.
“Esquecia o caminho e ia para outro lugar.” Descobriu que estava sentindo os efeitos
da maratona de lançamento do primeiro CD e que precisava repor vitaminas
do complexo B e ferro, essenciais à memória
Fonte: Isto é
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