© Mark Jenkins, "Glazed Paradise" (Wikicommons).
As cidades estão estéreis. Mortas. O espaço urbano transformou-se num mundo espectral e o homem da multidão experimenta uma sensação ilusória, marcada pela distracção e pela ausência da realidade circundante. É preciso reabilitá-lo. É o problema que Jenkins, artista norte-americano, quer resolver com o seu trabalho. Que nem uma criança flectida sobre uma cidade do imaginário vai reanimando as ruas das cidades com as suas instalações (sem autorização) para rejuvenescer aquilo que ele chama de “cemitério”.
A arte urbana tem a capacidade de chamar a atenção pela sua singularidade mas as criações de Mark Jenkins fazem-nos parar, olhar e ver. O corpo de um homem, sem cabeça, entra por uma parede dentro: paramos, observamos, “é ou não uma pessoa?”, pensamos. Quando olhamos com “olhos de quem quer ver”- somos, obrigatoriamente, interpelados para um segundo olhar. Assustador? Sim, mas olhar para este conjunto em plena luz do dia faz-nos pensar quem é aquele sujeito sem identidade e de tal modo desesperado que enfiou a cabeça pela parede dentro…Realmente, a experiência visual afigura-se sobretudo como uma experiência representacional: ver mais não é do que interpretar. Ou, por outras palavras, vemos aquilo que interpretamos. Quererá Jenkins ensinar-nos a ver de outro modo? O quê?
© Mark Jenkins, "Call Waiting" (Wikicommons).
Jenkins não se considera um artista mas antes um “psicólogo amador”. Psicólogo ou não, artista ou não, é sem dúvida hábil na tarefa de sacudir as pessoas - que andam por aí dispersas, alienadas, desencantadas - da sua aborrecida agonia em que o mecanicismo e a rotina do dia-a-dia afagam todo o mundo, despertando a curiosidade e provocando o seu desconforto perante aquilo com que se deparam. Esta técnica é uma forma de transformar a rua num palco onde são analisadas e manipuladas as emoções humanas perante as imagens com que, inesperadamente, nos deparamos. É uma requintada arte provocatória marcada pela agressividade do estilo e pelo teor político e social da intenção. Já diz o provérbio que “uma imagem vale mais que mil palavras” mas, aqui, o susto vem da proximidade com o real, com o actual, com o possível. A “imagem” está ali, lado a lado com a pessoa. Aliás, é esta a marca da arte urbana: a ausência de distância entre o sujeito e a obra.
Na nossa espectacular modernidade tardia as "imagens" ganham uma centralidade cultural e ética, que as faz, nos seus vários suportes, veículos privilegiados para compreender os desafios e os discursos das complexas sociedades em que vivemos. As obras de Jenkins são um óptimo exemplo do poder cultural das "imagens", do modo como contribuem para a nossa construção visual do mundo, reflectindo energias sociais mas, ao mesmo tempo, intervindo de modo determinante na construção da cultura.
© Mark Jenkins, "Meterpop" (imagem esquerda) (Wikicommons).© Mark Jenkins, "Embed" (imagem direita) (Wikicommons).
Jenkins utilza-se dos mais variados materiais para elaboração das suas peças, porém, de entre eles, destacam-se as roupas com que veste os manequins humanos forjados, o plástico, as embalagens e a fita-cola. Este “psicólogo amador” já teve as suas obras noticiadas em grandes jornais e revistas como a Time Out, The Washington Post e o The Independent, além de referências no livro Hidden Track: How Visual Culture is Going Places e no Wooster Collective, um blog especializado em arte urbana. Além disso, o artista mantém o site tapesculpture.org e ensina o processo de criação das suas obras em workshops nas cidades que visita.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2012/02/mark_jenkins_quando_a_cidade_se_torna_um_palco_1.html#ixzz1lLSIE67q
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