“(…)Então, que seja doce.
…repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim, que seja doce.
Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo; repito sete vezes para dar sorte: que seja doce, que seja doce, que seja doce e assim por diante.
Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada. Que seja doce o dia quando eu abrir as janelas e lembrar de você. que sejam doce os finais de tardes, inclusive os de segunda-feira - quando começa a contagem regressiva para o final de semana chegar.
Que seja doce a espera pelas mensagens, ligações e recadinhos bonitinhos. que seja (mais do que) doce a voz ao falar no telefone.
Que seja doce o seu cheiro. que seja doce o seu jeito, seus olhares, seu receio. que seja doce o seu modo de andar, de sentir, de demonstrar afeto.
Que sejam doce suas expressões faciais, até o levantar de sobrancelha.
Que seja doce a leveza que eu sentirei ao seu lado. que seja doce a ausência do meu medo.
Que seja doce o seu abraço.
Que seja doce o modo como você irá segurar na minha mão.
Que seja doce.
Que sejamos doce.
(Caio Fernando Abreu)
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