publicado em recortes por eugênio mira
© wikicommons, Matt Yohe.
Estamos a bordo da mítica nave-planeta “Estrela da Morte”, no maior sucesso do cinema de ficção científica de todos os tempos: Star Wars (1977). Apesar disso, a cena acima descrita poderia perfeitamente ter-se passado em Palo Alto, California, em uma das salas de reunião do complexo da Apple. Ao invés do temido vilão Darth Vader, com sua respiração difícil e sua capa negra, a descrição encaixa perfeitamente no fundador da Apple Computers. Temido por seus funcionários e adorado como um gênio visionário por seus colonizados, Steve Jobs foi muitas vezes comparado com o vilão da ficção. De onde terá surgido esse viés?
George Lucas, através de sua trilogia (que depois descobrimos tratar-se afinal de uma hexalogia), apresentou um dos vilões mais inesquecíveis de todos os tempos. Darth Vader transformou-se em um ícone de vilania não pela maldade inerente aos corações de todos aqueles que decidem propagar a tirania e a dor, mas exatamente pelo contrário. Darth Vader era um vilão humano. Atormentado e confuso, buscava no poder uma resposta para suas próprias dúvidas. Antes de se tornar o mais temido comandante do império do mal, ele era o mais talentoso dos Jedis (cavaleiros com poderes sobre-humanos que defendiam a República). Tanto talento o fez questionar se as pessoas não seriam limitadas demais para decidirem o melhor para elas mesmas. Não obstante, em uma das entrevistas que Steve Jobs concedeu, ele afirmou: “As pessoas não sabem o que querem, até mostrarmos a elas”.
De onde virá esse casamento bem sucedido entre genialidade e tendências totalitaristas? Vários ex-funcionários da Apple são concisos em afirmar que trabalhar com Steve Jobs era “impossível”, embora ele fosse reconhecido por todos como “genial” e “inspirador”. Na trama de Guerra das Estrelas, o jovem Anakin Skywalker é seduzido pelo lado negro da força, ao ser convencido de que “é muito poderoso para receber ordens”. No filme Piratas do Vale do Silício (Pirates of Silicon Valley, 1999), vemos um jovem Steve Jobs maravilhado com suas descobertas e lutando contra a opressão das grandes empresas. É um jovem visionário que passa horas do dia meditando e fazendo uso de ácido lisérgico. No entanto, no decorrer da história, vemos o garoto Jobs transformar-se em um homem de negócios austero e severo com seus funcionários. Jobs chega a roubar tecnologia (roubar não é o termo, uma vez que a tecnologia foi vendida pela Xerox, que não via aplicação prática para ela) de concorrentes e mentir para conseguir contratos. Quando vemos Steve Jobs saindo do banco após conseguir seu primeiro empréstimo corporativo, podemos ouvir ao fundo a retumbante “marcha imperial”, que ecoa nas telas sempre que Darth Vader se aproxima. O jovem talentoso foi corrompido.
© wikicommons, Myler Dude.Tal comparação parece ter-se tornado uma tendência pop. Na Tailândia, uma animação mostrava o líder da Apple destituindo Bill Gates do posto e se transformando no novo Comandante do Império. Na seqüência, ele comete outras atrocidades como decepar o dedo de um usuário para que consiga sinal em seu IPhone. O vídeo não tem tradução para o português, mas essa se torna dispensável para quem conhece os detalhes da carreira de Jobs. No Brasil, uma revista de ciência e tecnologia de circulação nacional publicou uma reportagem comparando a Apple com o império do mal de Darth Vader. Ilustrando a capa da matéria temos o famoso capacete de Vader com o inconfundível branco perolado da família Mac. Na testa, a pequena maçã mordida retoca a metáfora.
A história nos mostra que a genialidade e a loucura caminham de mãos dadas ao longo dos anos. Vários estudos provaram que diversos artistas, cientistas e líderes mundiais apresentavam algum ponto de distúrbios neurológicos ou comportamentais. O filósofo e psicólogo americano Willian James escreveu: “Quando um intelecto superior se une a um temperamento psicopático, criam-se as melhores condições para o surgimento daquele tipo de genialidade efetiva que entra para os livros de história”. Quando escreveu a sua ópera espacial, George Lucas estava apenas criando um vilão insanamente genial e obcecado por poder como centenas que já estiveram vivos na terra. Não podemos comparar Steve Jobs com Darth Vader, pois certamente Darth Vader é que foi inspirado em homens obcecados, geniais, insanos e perfeccionistas como Steve Jobs. Uma vez ao menos, a fuga do clichê torna-se possível, e a arte imita a vida.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2011/11/steve_jobs_e_darth_vader_algo_em_comum.html#ixzz1ejfqJUbw
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