© Luis Manuel Gaspar.
Esteja escrevendo versos ou esteja ilustrando peças literárias (sobretudo poesia), o português Luis Manuel Gaspar não pode ser chamado de outra forma: a rigor, ele é um poeta.
Por poeta, por favor, não percebam apenas o homem que escreve versos, que se dedica única e exclusivamente à literatura, ou seja, à arte da palavra. Por poeta, por favor, percebam o homem que em tudo o que produz parte de um princípio poético, onde o belo e o transcendental estão em comunhão, e onde há algo de mágico e imemorial. Algo raro, é verdade, mas talvez por isso mesmo de especial textura e brilho.
Sua obra de ilustração e sua obra de versos, e seu interesse pela literatura (Luís Manuel Gaspar também é crítico textual) surgiram simultaneamente - e não estão, nunca estiveram, de nenhum modo dissociados. Sua estreia como ilustrador ocorreu para um volume de poemas de Adília Lopes, intitulado O Poeta de Pondichéry, em 1986; nos anos seguintes houve outras ilustrações estampando capas de outros poetas, e também a publicação de seu primeiro livro de poemas, Hydra, de 1987. Até hoje, Luis Gaspar colabora com suas ilustrações para projetos editoriais, bem como para publicações literárias como as portuguesas Ler e Colóquio/Letras, e outros jornais e revistas.
Os trabalhos que ilustram esse artigo fazem parte de um dos recentes projetos de Luis Manuel Gaspar, a exposição Um Lugar nos Olhos, organizada por Tiago Manuel para os XI Encontros de Viana da Associação Ao Norte, que ocorreram em maio desse ano.
Como podemos perceber, estas obras representam talvez a síntese do trabalho artístico desse poeta/ilustrador: de posse de grandes obras literárias, escolhidas pela sua sensibilidade de poeta e crítico textual, Manuel Gaspar pode dar contornos vivos, coloridos e cheios de emoção a versos que por si já parecem perfeitos e definitivos.
Adornar algo que já é belo e aparentemente irretocável me parece uma tarefa bastante perigosa, pois a sutileza e a “medida exata” da intervenção precisam cumprir um grau tão alto de perícia, que só mesmo um artista competente e devoto para acrescentar novas belezas a obras tão definitivas e harmoniosas. É algo como alguém querer aguçar mais ainda o tom do azul no céu, ou o alaranjado do sol no poente. Mais belo que o belo.
Esta parece ser a grande chave para apreender a obra de Luis Manuel Gaspar: a despeito dos gêneros, modalidades e formas onde a sua sensibilidade artística se desenvolve, o que é uma evidência e também muito comovente é o seu sacerdócio em favor de um mundo mais poético, “onde o amor reagrupa as formas naturais”, como muito bem escreveu Carlos Drummond em um dos seus poemas. Luís Manuel Gaspar consegue. Ele é um poeta, afinal.
Mais informações e mais obras de Luis Manuel você encontra no Tumblr do artista.
Leia mais: Obviousmag
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