“Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata. Vou lhes fazer um pedido: vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas muito ajuizadas.”
Quem disse a frase acima foi a Dra. Nise da Silveira, que revolucionou a psiquiatria no Brasil utilizando arte no lugar de remédios, cirurgias e choques elétricos. Mais do que ninguém, ela conheceu as profundezas do inconsciente humano e soube respeitar a realidade paralela que existe dentro de cada um de nós.
Quando os eletrochoques ainda eram uma prática corriqueira no tratamento de doentes mentais, a drª Nise da Silveira disse não e apresentou um método alternativo.
A psicóloga passou a tratar seus pacientes a partir da arte, dando aulas de pintura, modelagem e escultura. A melhora nos quadros era tão animadora, que Nise conseguiu exportar sua experiência para outros colegas e revolucionou a psiquiatria.
Qual é o segredo da imaginação? Liberdade.
O livro Nise – Arqueóloga dos Mares, de autoria do jornalista Bernardo Carneiro Horta. Uma das mais expressivas e fascinantes personalidades brasileiras, a psiquiatra Nise da Silveira viveu 94 anos de existência intensa e repleta de reviravoltas. Em Arqueóloga dos Mares, o autor – que conviveu com a Dra. durante 12 anos – apresenta um painel de acontecimentos marcantes de sua vida. A infância nas Alagoas do início do século XX. A chegada ao Rio de Janeiro em 1927. A prisão durante o governo Vargas, quando Nise esteve na mesma cela de Olga Benário. O encontro com o analista suíço Carl Gustav Jung, discípulo predileto e rompido de Sigmund Freud. Enfim, a consagração internacional do trabalho desta psiquiatra que mudou os rumos da medicina, no Brasil. Estes são alguns temas que fazem do livro de Horta instigante leitura, com revelações inéditas.
Nise – Arqueóloga dos Mares não pretende ser uma biografia convencional, até porque a própria Dra. se negava a escrever sua autobiografia, por considerar que a linearidade cronológica do gênero não consegue revelar o que há profundo na existência. Sendo assim, a obra foi elaborada conforme sugestão da própria psiquiatra. “Diferente da biografia, com início-meio-e-fim, o livro versa sobre a vida de Nise, mas de forma fragmentada, criativa, vital. São unidades de texto que reúnem episódios, pessoas, animais, objetos, atitudes e situações espalhados livremente. Enfim, uma narrativa livre, predispondo o leitor a criar, juntamente com o autor, a sua Nise da Silveira”, afirma Horta.
Segundo Martha Pires Ferreira – artista plástica e amiga da Dra., que colaborou com ela durante 30 anos –, “este livro nos faz percorrer preciosos caminhos, com um sabor único ao relatar o que realmente marcou e se deixou revelar da existência de Nise. Com singular habilidade literária, são registrados fatos, acontecimentos e vivências impensadas. Confirmo e testemunho tais mapeamentos sobre a Dra., por ter convivido com esta brasileira humaníssima, requintada, eterna e sábia”.
Na opinião da psiquiatra Márcia Leitão da Cunha, que também atuou com a médica, tendo sido diretora do Museu de Imagens do Inconsciente, “Nise – Arqueóloga dos Mares pode ser considerado um compêndio diferenciado: profundo, mas acessível; enigmático e, no entanto, revelador; propõe leitura séria e, ao mesmo tempo, divertida. Esta obra traz conceitos junguianos de forma clara e criativa, desvinculando-os da formalidade que a Dra. tanto combatia”.
Sobre esta personalidade, Frei Betto escreveu: “A Dra. Nise da Silveira é a mulher do século XX no Brasil, por ter dado uma visão mais humana e inovadora da loucura como expressão da riqueza subjetiva de pessoas que são consideradas deficientes mentais ou portadoras de distúrbios psíquicos. A Dra. Nise nos ensina a descobrir por trás de cada louco, um artista; por trás de cada artista, um ser humano com fome de beleza, sede de transcendência.”
Aline, justa homenagem a Dra. Nise que realmente é merecedora de nossa mais profunda admiração. Só gostaria de dizer que deveríamos deixar o estigma de que todo artista tem um pouco de loucura. Acho que temos pessoas com distúrbio psíquico que podem fazer arte, mas a grande maioria vive um processo de sofrimento profundo, dilacerante e de difícil solução. A solidariedade ainda é pequena em nosso meio e o sistema de saúde não ajuda quase nada. Quadros graves estão espalhados pelo país sem qualquer tipo de tratamento e assistência.
ResponderExcluirUm abraço!
Concordo plenamente com você Eduardo, o que vários artistas pos suem é uma visão que vai além de seu tempo e por isso não conseguem ser percebidos, contudo existem os seres que vão além do pó perenal que discutem o assunto e reconhecem sua observação e concepção de mundo. Obrigada por seres assim!
ResponderExcluirUm grande abraço.
E que venham outras Drª's em forma de "Nise da Silveira" para revolucionar alguns tratamentos que ainda são precários em nosso sistema de saúde.Bom fim de semana.
Ótimo post sobre a Dra Nise da Silveira. Quero ler o livro. Humildemente compartilho com ela a idéia de que loucos são apenas diferentes daquilo que EU ou a maioria rotulou como normal. No geral são talentosos e muito criativos. Dar-lhes a oportunidade de se manifestarem por intermédio da arte seria o mínimo que nós vistos como "normais" poderíamos e deveríamos lhes proporcionar.
ResponderExcluirParabéns, ótimos seu blog.
ResponderExcluirObrigada amigos! Compartilho também a mesma ideia da Dr.Nise.
ResponderExcluirImenso abraço!