terça-feira, 29 de março de 2011

A casa de Portinari por Jefh Cardoso

A CASA DE PORTINARI

A arte que um homem faz pela vida a fora é nada mais que sua reação diante de todas as coisas que lhe chega aos sentidos. Um dom é uma coisa maravilhosa. Uma atribuição divina. O artista é todo aquele que existe. O artista que alcança frutos e fama através de sua arte é um afortunado, um privilegiado, pois tudo neste mundo é arte e ele obteve a sorte de conquistar o mundo através da sua. Deus premia quem cria com fidelidade a Ele, com perfeição e paixão, mesmo na imperfeição. Um homem tem que saber de si, tem que admitir-se, pois se não, passa a ser uma imitação de algo, uma fraude, uma cópia. Abre mão de si próprio para agarrar-se a uma imagem que não é a dele.

Diante da casa de Portinari pude ver que a ostentação é uma ilusão barata que abriga alguma falha, é a fachada de algo inconfessável, talvez de uma falta de alegria diante da própria vida, a qual se tenta suprimir com ricos adornos, objetos caros. A casa de Portinari é simples como as casas de minha infância. As casas de aluguel nas quais vivi os meus dias de menino pobre. As casas de meus tios e tias, de meus amigos. A Casa de Portinari é casa sem luxo, sem ostentação. De luxuoso só o valor de suas pinceladas em um ou outro afresco repousado numa parede de um cômodo. De riqueza somente o valor claro que é atribuído à família. De sofisticada somente a presença dos modernistas e suas declarações fixadas nas paredes.


É bom perder-se pelos cômodos da casa de Portinari em uma tarde chuvosa de final de verão e descobrir que ele era poeta e ilustrador. Descobrir em seus versos que ele conservava sua alma de criança. Atestar que sua casa crescia e ganhava um cômodo em cada tempo, pois era um bom anfitrião. Ali podemos ficar perplexos diante da complexidade de um ateu muito religioso, um comunista muito cristão. Ou como disse Antonio Callado em Retrato de Portinari: “um ateu saudosista dos tempos de crença, um comunista incapaz de arregimentação”. Portinari foi um bom filho, um bom neto, um grande amigo, um grande irmão. Em casa de Portinari, é forte a presença de toda sua família e principalmente de Dona Dominga, sua mãe. Isso fica muito claro ao ver ascender o retrato que conta coisas sobre os Portinari imigrantes italianos. É fascinante ler o quarto onde as paredes são cobertas por poesia. Leia o quarto e depois diga que leu certa vez não uma carta, um texto, um livro, como é o costume, mas um quarto inteiro de poesias. Vá ao jardim, e veja que DIO habita ao lado de roseiras centenárias, goiabeiras ao fundo e simplicidade em toda parte. Caminhe até a capela e veja as imagens sacras, presente para avó enferma, que já não mais podia deslocar-se à igreja para professar a sua fé católica. Contudo, não se iluda. Ali é tudo muito simples e é preciso desprendimento para sentir o privilegio de estar naquele lugar. Se é luxo que procura, melhor ir à casa de gente mais sofisticada. Em casa de Portinari só há Portinari, família, simplicidade, história e arte.



Obs. No texto O Caminho Para Casa de Portinari: A primeira foto é da placa que fica à entrada da casa. Essa placa, como podem ler na foto, fora uma homenagem do Governo Abreu Sodré. A segunda foto é uma escultura realizada por seus concidadãos em homenagem ao pintor. A terceira foto é da fachada da Igreja de Santo Antônio, onde o pintor retratou Santo Antonio e sob a condição daquela imagem jamais deixar o interior da igreja. No texto A Casa de Portinari: As fotos são da fachada da casa e do exterior da mesma, incluindo o jardim e quintal. Não era permitida a realização de fotos no interior da casa. Sendo assim, resisti à tentação e não transgredi em momento algum.
 
Jefh Cardoso

Fonte: http://jefhcardoso.blogspot.com

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