Um vestígio de mata Atlântica, em Nova Viçosa, extremo sul da Bahia. O jardim do
escultor Frans Krajcberg, onde toda manhã, logo cedo, ele sai para caminhar,
há mais de 35 anos. Ali Krajcberg se deixa perder para então se encontrar.
E, com olhos frescos de quem vê pela primeira vez, percebe novas cores,
formas e texturas de vida ao redor. Num instante, depara com uma planta
velha e carcomida. Observa seus desenhos irregulares, sua fragilidade.
E encontra beleza. Dá alguns passos e topa com um tronco seco e enrugado.
Toca sua superfície áspera, rude. Mais beleza. Pega uma folha caída no chão,
um tanto murcha e amarrotada, e a coloca contra a luz.
Seus sulcos brilham como rios espelhados.
Foi num despertar de dia luminoso e abafado que me encontrei com o artista
em suas andanças. Acompanhado sempre de sua máquina fotográfica ele - clic, clic -
não deixa escapar seus objetos de êxtase. Tem mais de 20 máquinas e cerca de 200 mil
fotos de miudezas da mata. "Um dia jamais é igual ao outro, a Terra está girando
e cada momento é raro, único", diz Krajcberg durante os deslumbramentos em seu sítio.
O artista polonês radicado no Brasil inspira a natureza para depois expirá-la em suas obras,
fazendo delas um protesto contra a devastação do planeta.
Natureza inquieta
Ele tem fôlego de sobra.
Está de pé às 5 da manhã e logo após a caminhada começa suas obras.
Seguimos até um galpão abarrotado de matéria-prima: cipós, raízes, cascas,
galhos e troncos de árvores empilhados - todos estão machucados.
Foram recolhidos de queimadas e desmatamentos de florestas pelo Brasil afora.
Com mais 12 ajudantes, ele seleciona os restos de madeira que serão lixados e
preparados para formar enormes árvores ressuscitadas, suas esculturas.
O velho Duka, seu ajudante há 25 anos, conta que não existem regras
nem linhas retas no trabalho de Krajcberg. Ele prefere formas irregulares, orgânicas.
O resultado são peças com movimento, como se clamassem por atenção.
"Minha vida é mostrar minha indignação contra a violência e o barbarismo que o
homem pratica", diz o artista. As esculturas levam as cores dos vestígios das queimadas:
vermelho e preto, fogo e morte. Não recebem nomes. Ele as chama de "meus gritos".
Apesar de ter se recuperado recentemente de uma pneumonia, Krajcberg parece ter
mais urgência do que nunca para mostrar sua revolta. Com passos fortes, gestos
ágeis e extrema lucidez - aparentaria ser bem mais novo que seus 85 anos,
não fosse a pele judiada pelo sol. Dedé, filha de Duka e sua cozinheira,
o chama para o almoço, momento em que ele desacelera o trabalho.
"Ele não janta, toma apenas um chá com pãozinho e se recolhe com o sol, antes
das 18 horas", ela diz. Uma pausa para respirar.
O artista nasceu na Polônia, em 1921.
Conta que viveu os horrores da Segunda Guerra Mundial quando lutou no exército
contra a Alemanha nazista. Depois também, ao descobrir que sua família havia sido
dizimada com outros milhões de judeus, nos campos de concentração. Estudou engenharia
na Polônia e artes na Alemanha e mudou-se para Paris. Lá, seu amigo e também artista
Marc Chagall o incentivou a viajar para o Brasil. Desembarcou no Rio de Janeiro
com 27 anos. Não conhecia ninguém, não sabia falar a língua e, para piorar,
estava sem dinheiro. Dormiu ao relento durante uma semana, na praia do Flamengo.
E partiu para São Paulo, onde trabalhou como operário no Museu de Arte Moderna,
na primeira Bienal de São Paulo e como auxiliar do pintor Alfredo Volpi.
Foi até o interior do Paraná para trabalhar como engenheiro-desenhista
nas indústrias de um fabricante de papéis (que ironicamente utiliza madeira em sua produção). Abandonou o emprego para se isolar nas matas paraenses e se dedicar à pintura.
SOU SEU MAIS NOVO SEGUIDOR.
ResponderExcluirQUE POSTAGEM DESLUMBRANTE E MERECIDA, POIS FRANAS KRAJCBERG, REESCULPIU A NATUREZA.
ESPETACULAR O SEU TEXTO!!!
ESTOU LHE CONVIDANDO PARA CONHECER MEUS TRES BLOGS DE HUMOR.
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PARECE DIFÍCIL, MAS NÃO É .
DIFÍFIL FOI EU EXPLICAR ISTO TUDO (RSRS).
SÃO TODOS DE HUMOR ...E DE GRAÇA.
UM ABRAÇÃO CARIOCA!!!
Paulo você é sensacional!
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