domingo, 30 de setembro de 2018

O DOM DE SE ACALMAR


Já senti ventanias tão fortes que tive vontade de segurar o teto para ele não voar, e poucas horas depois tudo terminou em brisa. Já ouvi chuvas tão agressivas que dava medo em abrir a janela, mas pouco depois se resumiam em gotinhas tímidas grudadas no vidro. É passageiro, o susto é passageiro. A agonia nos abraça tão apertado que dá vontade de sair por aí salvando o mundo, mas ao abrir a porta já não tem mais perigo nenhum. Tudo depende da importância que você impõe.

Se está ventando muito, não precisa se agarrar ao primeiro cobertor que for ver na frente, aproveite o impulso e jogue alguns sentimentos antigos para serem levados pela direção do vento, junto com o teto se for preciso. Dê tchauzinho e um grande aceno, pois já não te serve mais. Aquele teto já estava aí há tanto tempo mesmo. Vai ver você agora quer morar debaixo das estrelas, acampando em meio ao nada e tendo apenas o balançar das folhas como paredes.

Até eu que sou tarja preta aprendi a me acalmar e a respirar ao invés de suspirar. Até eu que sou um caos sentimental aprendi a chover menos em copos d’água. Eu que vivi sempre estufada, sem espaço pra nada de tanto estar cheia de tudo, aprendi a abrir a válvula de escape e esvaziar um pouco. Que mal tem? Passar a vida com o coração acelerado pelos motivos errados é um desperdício de hormônios. Acelera quando algo sai errado, acelera quando não te falam o que queria ouvir, acelera quando alguém vai embora, acelera quando não entendem o que você sente.

Ah, pra quê se esforçar tanto, afinal? Se virou rotina se esforçar ao máximo para acalmar os batimentos, está mais que na hora de tomar uma dose do calmante mais forte já inventado. O santo soberano de qualquer medicamento à venda em farmácia, que não vem com bula, mas é tão fácil de usar que nem é preciso instruções:

Dê um tempo, tome um tempo, não culpe o tempo, sinta o tempo e recupere seu tempo

O que não pode acontecer é ter tanto medo da vida, e se esconder atrás de tantas chaves. Pois, tudo passa. Eu já me enchi com tantos cadeados, mas poucos segundos depois já não lembrava mais o que estava guardando. Já corri tanto da solidão que quando percebi estava de mãos dadas com ela. Então, parei de correr. Joguei as fechaduras. Abri as janelas. E sorri com o vento. Se funciona? Dia sim, dia não. Mas passa, o dia bom passa, e o ruim também. A chuva é fase, por que eu não seria?

O incerto também tem seu encanto.

[Ilustração por Ramon Cavalcante]

(artigo publicado originalmente aqui)



© obvious: http://lounge.obviousmag.org/entre_parenteses/2015/01/o-dom-de-se-acalmar-1.html#ixzz5SbRSGnrZ

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Biblioteca na Índia tem formas curvas e estrutura de tijolos



Entre as construções já existentes desta escola em Kopargaon, no estado de Maharashtra, na Índia, o escritório sP+a construiu uma biblioteca com formas curvas que se esparramam pelo terreno livre. O edifício foi levantado em um espaço estreito e a estrutura do teto começa do chão, fazendo com que crianças e funcionários possam caminhar por ali.

Os arquitetos analisaram vários materiais possíveis para o projeto, como concreto e blocos de tijolo, que foram escolhidos por sua disponibilidade na região e alta eficiência como isolante para o sol forte. Os profissionais ainda usaram sistemas de construção catalão, uruguaio e suíço, fazendo da biblioteca Maya Somaiya o resultado de técnicas desenvolvidas em diferentes tempos e lugares.

Vidro do piso ao teto permitem altas doses de luz natural no ambiente. A madeira foi o material escolhido para o mobiliário, que conta com estantes para os livros e mesas comunitárias para os estudantes.




Fonte: Casa Vogue

domingo, 23 de setembro de 2018

Pesquisador encontra em jornal uma letra de Machado de Assis para o hino nacional


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os velhos papéis, quando não são consumidos pelo fogo, às vezes acordam de seu sono para contar notícias do passado.

É assim que se descobre algo novo de um nome antigo, sobre o qual já se julgava saber tudo, como Machado de Assis.

Por exemplo, você provavelmente não sabe que o autor carioca, morto em 1908, escreveu uma letra do hino nacional em 1867 -e não poderia saber mesmo, porque os versos seguiam inéditos. Até hoje.

Essa letra acaba de ser descoberta, em um jornal antigo de Florianópolis, pelo pesquisador independente Felipe Rissato -o mesmo que, nos últimos anos, fez diversas descobertas sobre Machado de Assis e Euclydes da Cunha, incluindo fotos e textos desconhecidos dos autores.

"Das florestas em que habito/ Solto um canto varonil:/ Em honra e glória de Pedro/ O gigante do Brasil", diz o começo do hino, composto de sete estrofes em redondilhas maiores, ou seja, versos de sete sílabas poéticas. O trecho também é o refrão da música.

O Pedro mencionado é o imperador dom Pedro 2º. O bruxo do Cosme Velho compôs a letra para o aniversário de 42 anos do monarca, em 2 de dezembro daquele ano -o hino seria apresentado naquele dia no teatro da cidade de Desterro, antigo nome de Florianópolis.

"As pesquisas que tenho feito comprovam que há muitas coisas [de Machado] sabidamente perdidas, como peças dramáticas, e várias outras coisas cuja existência era desconhecida, como uma crônica anônima [que descobri]", afirma Rissato.

Rissato sabia desde 2016 da existência desse hino, porque o jornal O Mercantil, guardado no acervo da Biblioteca Nacional, anunciava na véspera um "esplêndido espetáculo".

"Ao levantar o pano ver-se-á em riquíssimo dossel, e, em ponto natural, a efígie de S. M. o Imperador, tal qual este Adorado Monarca se apresenta por ocasião da fala do trono e será cantado pela companhia o Hino Nacional sendo a letra apropriada a este dia, pelo distinto escritor brasileiro o Snr. Machado d'Assis", dizia o anúncio.

Mas O Mercantil não publicou, nas edições seguintes, a transcrição da letra. A chave para o mistério estava num jornal catarinense chamado O Constitucional, em duas edições de 1867.

Em uma delas, a publicação avisa que o espetáculo do dia 2 foi adiado, porque dois músicos ficaram doentes. Em outra, de 11 de dezembro daquele ano, transcreve a letra -mas não cita o nome do autor dela.

"Enche o peito brasileiro/Doce luz, almo fervor,/ Ante o dia abençoado/ Do seu grande Imperador", escreve Machado em outro trecho.

As publicações foram preservadas no acervo da Biblioteca Pública de Santa Catarina. No Rio de Janeiro, a Biblioteca Nacional só tem edições de O Constitucional a partir de 1868 -ou seja, um ano após a execução do hino de Machado de Assis.

A descoberta de Rissato também se soma à história dos hinos imperiais brasileiros. O primeiro deles, "O Hino da Independência", foi composto por dom Pedro 1º em 1822. Depois da abdicação do imperador em favor do filho, em 1831, surgiria mais um, escrito por Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva.

Houve mais um hino imperial, de data incerta e autor desconhecido -a referência mais antiga aos versos é uma partitura publicada em 1869, mas provavelmente ele foi escrito para a coroação de dom Pedro 2º, em 1841.

Assim, o hino de Machado se torna o quarto conhecido do império, antes da chegada do atual, já na República, escrito por Osório Duque Estrada.

Os versos foram compostos pelo autor de "Dom Casmurro" em uma época em que ele era principalmente poeta. Seu primeiro romance, "Ressurreição", só viria em 1872. Já "Memórias Póstumas de Brás Cubas", só em 1881.

A produção poética de Machado é pouco conhecida, mas ele se dedicou a versos de ocasião --e não era a primeira homenagem que ele fazia à família imperial.

No aniversário de 30 anos de Pedro 2º, ele já havia composto um soneto para o monarca: "Nesse trono, Senhor, onde esculpido/ Tem a destra do Eterno um nome amado,/ Vês nascer este dia abrilhantado/ Sorrindo a ti, Monarca esclarecido!".

Os versos permitem ver uma simpatia de Machado pela monarquia. Em 2015, descobriu-se, na fotografia clássica da missa campal pela abolição da escravatura, o rosto de Machado entre as figuras próximas à princesa Isabel --o que denota prestígio na corte.

Em 1867, mesmo ano em que escreveu o hino, o escritor seria nomeado para seu primeiro emprego ligado ao sistema monárquico, de assistente do diretor do Diário Oficial. Em 1873, o autor virou primeiro oficial da secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas -iniciando ali uma carreira de burocrata de toda a vida.

O achado se soma a outros realizados por Felipe Rissato nos últimos anos. O mais recente havia sido a descoberta do que agora é a última fotografia de Machado, feita meses antes de ele morrer.

Antes disso, ele já havia encontrado a única imagem do autor presidindo uma sessão na Academia Brasileira de Letras e uma crônica anônima dele sobre a morte da mãe.

Machado ficou órfão em 1849, aos nove anos, e, no texto, contava como corria atrás de borboletas azuis e colhia flores para dar a ela. "Eu sem ti, sem o perfume da flor que me fazia feliz e crente, chorarei sempre sem consolação; porque uma mãe perde-se uma vez e nunca mais se encontra", escreveu na ocasião.

Agora, o desejo de Rissato é encontrar um poema de Machado intitulado "À S. M. a Imperatriz", dedicado à imperatriz Teresa Cristina e recitado nas festividades de 7 de setembro de 1889, a última comemoração da Independência antes de a República ser proclamada. Embora mencionado em publicações, o texto continua perdido.

Autor descartou sabiamente versos de circunstância

análise

Graças a incansável operosidade e a constante devoção à causa machadiana, o pesquisador Felipe Rissato nos brinda com texto até agora ausente da bibliografia de Machado de Assis: um poema publicado unicamente no ano de 1867, em periódico de Florianópolis (à época, Desterro).

Antes de se tornar consumado mestre da narrativa, Machado de Assis foi aplicado aprendiz de poesia.

Em 1864, estreara em verso com "Crisálidas", de acentuada fatura romântica. Como se sabe, a lírica do autor oscilou entre o romantismo algo tardio das publicações poéticas iniciais -além de "Crisálidas", "Falenas" (1870) e "Americanas" (1875)- e o parnasianismo das derradeiras produções, enfeixadas em "Ocidentais", obra sem publicação autônoma, porém inserida, com as anteriores, em "Poesias", de 1901.

Sabiamente, Machado descartou a inclusão, no volume de 1901, desse recém-descoberto hino nacional, bem como de outras peças da chamada poesia de circunstância, que, a rigor, nada acrescentam ao legado do artista, constituindo-se, porém, em mananciais que podem -como no caso- explicitar posições políticas muitas vezes apenas subentendidas em textos de maior complexidade e sutileza.

Os versos, indicadores do entusiasmo do jovem Machado pela figura do imperador dom Pedro 2º, agrupam-se em sete estrofes de sete versos, com rimas de palavras monossilábicas ou então oxítonas, ditas "agudas", nos versos pares. A rigor, contabilizam-se apenas quatro estrofes originais, na medida em que uma delas, a primeira, repete-se ainda outras três vezes.

O tom é extremamente laudatório, descambando na caracterização hiperbólica do monarca como "gigante do Brasil", "grande Imperador", "colosso Imperial".

O mais curioso, porém, é que o eu lírico, supostamente porta-voz do povo brasileiro -afinal, trata-se de um hino da nacionalidade-, emite seu discurso a partir de local inusitado: "Das florestas em que habito". Avulta, portanto, uma perspectiva nativista ou indianista que ainda iria ocupar o autor por alguns anos, elevando o tema à condição de eixo principal de "Americanas".

A floresta e o trono se enlaçam sem qualquer obstáculo ou mediação, como se a monarquia fosse o desdobramento "natural" de um desejo latente na virgem terra brasileira. A produção madura de Machado de Assis decerto descartaria associações com tal teor de simplificação.

Fonte:https://www.bemparana.com.br/noticia/pesquisador-encontra-em-jornal-uma-letra-de-machado-de-assis-para-o-hino-nacional

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Pensamento para o dia:Deus vê o caminho dos homens.




 "Porque os seus olhos estão sobre os caminhos de cada um, e ele vê todos os seus passos.
Não há trevas nem sombra de morte, onde se escondam os que praticam a iniquidade."

Jó 34:21,22

FLIT 2018 - COLÉGIO ESTADUAL CHEQUER JORGE EXPRESSA SUA GRATIDÃO POR ESTE MOMENTO INESQUECÍVEL!


Encontrar com o autor Henrique Rodrigues foi quase surreal,
 pois já havíamos adotado o seu livro para trabalharmos com  o terceiro ano.
E isto nos trouxe grande alegria!

A agente de leitura Cláudia Tinoco é incansável em seu trabalho, 
pois nosso time tem apoio da direção e coordenação.
Professores e alunos protagonistas encantados com tanto conhecimento!
Andrea Viviana Taubman, a sua emoção através das palavras e gestos singulares contagiou-nos.
Impossível não lermos os seus livros.

Claro que não poderíamos deixar de registrar a presença de nossa amiga Kênia, pois através do acervo de livros da Casa da Cultura temos o acolhimento de seu abraço.

Isabela foi contemplada com um livro da autora Andrea Viviana Taubman,
e sentiu-se muito feliz!

Quando há coordenadoras inspiradas, professores excelentes e direção que apoia todo trabalho realizado no CECJ, só precisamos dizer: gratidão.
"Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, 
se a gente tem amor.
 Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura."
(João Guimarães Rosa)

Luciana Vicente representou nossa Regional Fluminense II em nossa tenda literária na FLIT.

 Entre veredas queremos manifestar o nosso apreço pela presidente da ACIL, Luciana Pessanha Pires.
Todos trabalharam, mas o empoderamento desta mulher nos trouxe até aqui.
Parabéns a todos participantes deste evento que mudou a história do "caminho da pedra preta".

Escritores Henrique Rodrigues, Andrea Viviana Taubman, professora Aline Carla Rodrigues, escritora
Anna Claudia Ramos e as alunas Isabela e Brígida,que com entusiasmo agradeceram à Luciana Pessanha Pires por ter concebido a brilhante ideia da FLIT 2018.
Não podia faltar música com poesia do nosso amigo Valber Meireles.
Aluna Maria Eduarda Freitas perguntou aos três escritores sobre a evolução do ato de escrever e a recepção do mercado de trabalho neste momento no Brasil.
E eles responderam de forma magnifica o que a mesma desejava saber.

Quando a leitura está em nós somos o olhar também de vários leitores.

Bordando o futuro através da citação de nosso ilustre Guimarães,
deixou-nos marcas de mãos que exalaram o bom perfume e ofereceram "Rosa".

"Viver é rasgar-se e remendar-se o tempo todo!"

Anna Claudia Ramos muito obrigada por sua explanação sobre a utilidade de um livro, 
e o benefício que nos traz.
Elas são escritoras renomadas em que a humildade vem diante da honra.

 Nosso eterno gesto de carinho a todos os alunos do CECJ,
 que com muito trabalho e protagonismo juvenil estiveram presente conosco.

Salve Guimarães Rosa!

Pensamento do dia:"isso tudo vem da parte do Senhor".






"Isso tudo vem da parte
do Senhor dos Exércitos,
maravilhoso em conselhos
e magnífico em sabedoria."
Isaías 28:29