23/10 - 13:56 - Mauricio Stycer
SÃO PAULO – Revelados como grafiteiros, os irmãos Otavio e Gustavo Pandolfo afirmam não se importar muito com a forma como o nome artístico da dupla é escrito. Pode ser OSGEMEOS ou osgêmeos, tanto faz, dizem. Ou também Os Gêmeos. Ou mesmo OsGemeos.
O único detalhe que chamam a atenção é para o acento circunflexo em cima da palavra, que preferem suprimir. No mercado internacional, que freqüentam com grande desembaraço, o sinal característico da língua portuguesa mais atrapalha do que ajuda.
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Com uma agenda repleta de atividades, o que inclui exibições programadas para Milão e Lisboa no início de 2010, OsGemeos inauguram uma importante exposição individual neste sábado (24), no Museu da FAAP, em São Paulo.
Trata-se de uma versão da mostra que teve início em outubro do ano passado, em Curitiba, no Museu Oscar Niemeyer, e de lá seguiu, em março deste ano, para o CCBB, no Rio de Janeiro. Quem viu as duas primeiras versões terá dificuldades em reconhecer a que abre agora em São Paulo.
Vilma Slomp / Divulgação
Exposição "Vertigem", em cartaz em São Paulo
Neste período de um ano, “Vertigem” foi incorporando novos elementos até se transformar numa única e impressionante instalação, na qual OsGemeos mostram porque são hoje reconhecidos como importantes nomes da arte contemporânea brasileira.
Ao redor de toda a parede do espaço circular do Museu da FAAP, OsGemeos colocaram diferentes trabalhos, de distintas fases, um ao lado do outro, formando um grande e caótico painel. Há telas de todos os tamanhos, algumas fotos, além de uma pintura feita diretamente na parede do espaço. O ambiente se completa com quatro grandes esculturas em madeira, penetráveis, espalhadas pela sala.
“Com o tempo, a gente viu que podia juntar tudo”, diz um deles. “Como se fossem janelas”, diz o outro. “Uma vertigem mesmo”, acrescenta o primeiro.
Gêmeos idênticos, aos 35 anos, Gustavo e Otavio têm o hábito de falar quase ao mesmo tempo, um completando a frase do outro. Registrar quem diz o quê durante uma entrevista é um exercício complicado, que eles próprios consideram desnecessário. “Coloca que foi OsGemeos que falou”, dizem.
O conhecido traço dos Gêmeos, esboçado inicialmente nas paredes das ruas de São Paulo e hoje em exibição em galerias e museus do mundo todo, reproduz muito do olhar sensível dos artistas para personagens “invisíveis” que trafegam pelas grandes cidades, desenhados com um humor quase juvenil.
“A rua é uma escola”, diz um. “A gente vem da rua”, diz o outro. “Muita gente se identifica com o que a gente faz. Interfere, brinca com os personagens, dá nomes a eles”.
O nome da exposição, “Vertigem”, explicam, fala da ambição de OsGemeos de provocar esse tipo de sensação no público, dentro de um museu. “Sonhar, sorrir, se as pessoas puderem ficar bem, pra gente já está legal”, dizem. “Mexer com os sentidos das pessoas: essa é a função da arte. Se a gente consegue isso, já vale a pena”.
Na visão dos artistas, todo mundo precisa – e pode – se emocionar com a arte. “Todo mundo tem isso dentro, mas não conhece a portinha, que abre. Entende?”
OsGemeos falam da função do sonho nos trabalhos mais recentes. Ambos contam que tem desenhado ao amanhecer, logo depois de acordarem, para registrar as lembranças e sensações da noite.
Uma das esculturas na FAAP é um busto gigante montado sobre um Citroen, com a cabeça e o peito abertos. “Abra o seu peito para as pessoas. Abra a cabeça”, dizem OsGemeos. Os artistas não têm dúvida que as crianças vão se divertir na exposição, mas querem mais. “Para as crianças, isso é normal. Tomara que seja legal também para os adultos”.
“Vertigem” fica em exibição em São Paulo até o próximo dia 13 de dezembro. Nas próximas duas semanas, um outro trabalho da dupla, o cartaz e a vinheta de abertura da 33ª Mostra de Cinema de São Paulo, estará à vista de todos os paulistanos. E nos dias 12 e 13 de novembro, Gustavo e Otavio Pandolfo vão participar de uma performance no Vale do Anhangabaú, na fase de encerramento das atividades do Ano da França no Brasil.
Serviço
Visitação: de 25 de outubro a 13 de dezembro, Horário: De terça a sexta-feira, das 10hs às 20hs; sábados, domingos e feriados, das 10hs às 17hs.Endereço: MAB - FAAP (Museu de Arte Brasileira - Fundação Armando Alvares Penteado): Rua Alagoas, 903 – Higienópolis, São Paulo. www.faap.br. Tel: (11) 3662-7198Entrada Franca
Obs.: Esta matéria foi tirada do último segundo do site http://www.ig.com.br/