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quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Você Aceita se Ajudar?


Uma piada conta sobre uma pessoa que morava numa área que, devido às fortes chuvas, estava em risco de enchentes e deslizamentos. Essa pessoa foi alertada pelas autoridades várias vezes a abandonar o local, mas ela declinou dos alertas dizendo a si mesma: “Deus vai me salvar”.

 Após um tempo, as enchentes ficaram mais intensas alagando sua casa e deixando-a ilhada. Um bote foi despachado para salvar a pessoa que recusou ajuda afirmando: “Deus vai me salvar”. Depois de algumas horas os deslizamentos começaram, oferecendo imensos riscos e uma equipe com um helicóptero se apresentou para salvá-la, mas mais uma vez a pessoa declinou da oferta e disse: “Deus vai me salvar”.

 Como a pessoa não saiu de sua casa, um enorme deslizamento derrubou tudo e a pessoa morreu. Já no além, ela se encontra cara a cara com Deus e lhe acusa de tê-la deixado morrer quando ela confiava tanto em sua divina providência. Deus lhe responde: “Mas eu mandei os avisos, o bote-resgate, e a equipe com o helicóptero, porém você se recusou a aceitar ajuda. Não havia mais nada a ser feito.”


Essa piada pode ser aplicada para entender muitos fracassos na vida, mas vou me deter aqui na psicoterapia. Há pacientes que até vão às suas sessões procurar ajuda, contudo, sabem apenas procurar ajuda, mas não receber ajuda. A ajuda que procuram é algo idealizado e impossível, e quando alguém só procura por isso fica fadado à infelicidade. Querem a solução, todavia não querem que nada seja exigido. Querem mudanças, mas não querem mudar nada em si mesmas.

Quem age assim dificulta a própria vida e desenvolvimento, bem como se coloca numa posição em que nada poderá mudar de fato. Quando vamos nos tratar numa análise é porque estamos sofrendo e pagando um alto preço pelas nossas angústias e dores que minam a vida, tornando-a ineficiente e desprazerosa. Se um indivíduo está nessa, podemos dizer que está em risco de ser atropelado e levado pelas correntezas de suas dificuldades e adversidades.

 A única solução, portanto, é sair desse local perigoso, que, no caso, é sair dessa posição subjetiva em que sem encontra na vida. E é aí que vemos como muita gente não se ajuda.

Tal como a pessoa da piada acima, muita gente quer ser ajudada, mas não quer sair da posição em que se encontra. Em outras palavras, não quer mudar. Se a pessoa se recusa a mudar não tem como ser ajudada.

 A casa da piada pode ser entendida como a forma subjetiva que um dado indivíduo se agarra e vive. Quem não aceita deixar essa casa/modo de vida para trás fica sempre na mesma, caindo nos mesmos erros e perigos. 

A pessoa se repete no seu sofrimento. Isso configura uma pobreza psíquica que gera uma má qualidade de vida.
Uma das funções da análise é ajudar o paciente a sair dessa posição crítica em que se colocou, porém o analista não tem como fazer isso sozinho. Ele precisa da ajuda do próprio paciente. Por isso que, estar em análise é mais do que simplesmente ir a uma sessão, mas é permitir a transformação que a análise pode provocar. 

Entendo que transformações sejam assustadoras e que criem muitas resistências. Afinal, tememos abandonar aquilo tudo que é conhecido e já estabelecido. Mudar nossa maneira de pensar a vida e de se relacionar com o mundo é tal qual abandonar uma casa que já temos e que nos é bem familiar e ir para outra casa que desconhecemos ou que ainda nem foi construída. Nos sentimos desamparados. 

Entretanto, insistir em permanecer numa casa ou modo de vida que está em perigo de ruir é muito pior, porque aí o que se perde é a própria vida. Você aceita abandonar a “casa” que está morando para construir outra melhor?

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