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domingo, 14 de fevereiro de 2016

Vírus da zica reage contra o Zika vírus





Como chamar em português o tal Zika virus? O vírus da zica, o vírus zica ou simplesmente o zica são as formas corretas em português, registradas até no Dicionário (clique aqui para ver). Pelas regras ortográficas da língua portuguesa (que explicamos a seguir), o nome da doença e do vírus da zica não podem, em português, ser escritos Zika.

Também não se pode falar em português “Zika vírus“, “Zika-vírus” ou “Zica vírus“, formas que só fazem sentido em inglês. É em inglês que se diz, por exemplo, “Herpes virus“, “Dengue virus” e “Ebola virus“: em português, diz-se “o vírus da herpes”, “o vírus da dengue”, “o vírus do ebola”. Logo, em português só poderia ser “o vírus da zica“, “o vírus zica” ou ainda “o zica” (como está no dicionário).

É também por influência do inglês que alguns meios de comunicação têm escrito o nome da doença em letra maiúscula. É em inglês que os nomes de doenças começam com letra maiúscula: Ebola, Herpes, Hepatitis e até mesmo the Flu (a gripe). Em português, as doenças se escrevem com inicial minúscula: a gripe, a herpes, a hepatite, o câncer, o vitiligo, a malária… Logo, deve-se escrever com letras minúsculas: a doença é a zica, o vírus é o zica.

Outro erro comum é chamar a doença (cujo nome em português é simplesmente zica) de “febre Zika” – novamente por influência do inglês, em que, por exemplo, se chama “Dengue fever” à doença que em português se chama simplesmente “a dengue”.

Quanto ao uso do “c” no lugar de “k”, ressalte-se que, ao contrário do que muitos pensam, o novo Acordo Ortográfico não permite que qualquer palavra nova da língua portuguesa possa agora ser escrita com “k”, “w” ou “y”. O que o Acordo Ortográfico fez foi incluir essa três letras no alfabeto português – mas foi mantida a limitação de seu uso à escrita de nomes próprios estrangeiros (como “Kant” ou “Kuwait”) e dos derivados próprios desses nomes (como “kantismo” e “kuwaitiano”). Como explica o próprio texto do Acordo (que pode ser lido aqui): “Apesar da inclusão no alfabeto das letras k, w e y, mantiveram-se as regras quanto ao seu uso restritivo, pois existem outras letras com os mesmos sons daquelas. Se de fato se abolisse o uso restritivo dessas letras, introduzir-se-ia no sistema ortográfico do português mais um fator de perturbação, ou seja, a possibilidade de representar, indiscriminadamente, por aquelas letras fonemas que já são transcritos por outras”.

O texto do Acordo Ortográfico não deixa dúvida: em português, o nome da doença deve escrever-se zica.

[Adendo: Recebemos, abaixo, uma excelente pergunta: “mas o nome da doença não vem do nome de uma floresta? Não é portanto derivado de nome próprio e não tem, portanto, direito de manter a letra “k”?”]

Resposta: O texto do Acordo Ortográfico diz que os derivados de nomes próprios gozam desse “direito” de manter o “k”, o “w” e o “y” – na verdade, mais até que que isso: os derivados próprios de nomes estrangeiros recebem o direito exclusivo de manter qualquer outra sequência de letras ou sons estranha à ortografia portuguesa – é o caso, entre tantos outros, de: comtista, substantivo relativo a Comte; washingtoniano, referente a Washington; kantista, referente a Kant; kuwaitianos, cidadãos do Kuwait; etc.

Repare nesses exemplos, porém: esses é que são derivados próprios: substantivos e adjetivos (e há até verbos) cujo radical é o próprio nome próprio estrangeiro, ao qual é adicionada um sufixo, resultando num vocábulo derivado, numa palavra nova. De acordo com o Dicionário Aurélio, com o Dicionário Houaiss e com o Priberam, derivados são “palavras criadas a partir de outras palavras, mediante a inserção ou extração de afixos”.

Não é o mesmo, porém, que ocorreu no nome da doença zica: não se adicionou qualquer sufixo, nem a nova palavra tem, em seu significado, a obrigatória relação com o nome próprio (diferentemente do que ocorre nos pares anteriores, em que o significado das “novas palavras” é propriamente relacionado com o nome próprio, como Comte/comtista, Kiev/kievense, etc.).

O caso da zica (que não é um derivado, mas é, sim, o próprio nome, aportuguesado e substantivado, sem qualquer derivação por adição de sufixo) é outro, assim como são outras as regras ortográficas que regem seu aportuguesamento. Não são os derivados de nomes próprios com “carta branca” para manter quaisquer sequências de letras estranhas ao português: são, antes, o próprio nome próprio que, perdendo qualquer ligação de sentido com o nome original, se tornam nomes comuns, com inicial minúscula – e com as necessárias “adaptações” gráficas a que são submetidos todas as demais palavras tradicionais da língua portuguesa. Há um sem-número de exemplos de vocábulos desse tipo – que, como “zica”, ao perder a ligação com o termo original, perderam o “direito” de manter letras estranhas, sendo 100% aportuguesados: é o caso do substantivo brasileiro gari (profissão de limpador de rua), que se escreve assim, com “i”, e não gary, embora venha do nome do francês chamado Gary; é o caso também do sanduíche, que, apesar de vir do nome inglês Sandwich, perdeu o “w” (e ganhou letras e um acento, para virar português legítimo); ou do biquíni (que, embora vindo do nome do Atol de Bikini, teve seu “k” substituído por “qu”); ou ainda caracul (nome em português de uma raça de carneiros, cujo nome vem de Karakul, localidade de proveniência da raça); ou crupe (tipo de canhão batizado em homenagem ao alemão Krupp); ou cavanhaque (batizado em homenagem ao francês Cavaignac); ou braile (apesar de seu criador se chamar Braille, com dois -ll-), ou boicote (com “i”, embora venha do nome inglês Boycott), etc.

Mesmo que o nome da floresta africana seja mantido em português sob a forma Zika, portanto, o nome da doença, em português, quando usado como substantivo comum, deve ser aportuguesado como “zica”. O próprio nome da floresta, porém, também deveria ser aportuguesado – uma vez que, como também diz o texto do Acordo Ortográfico, devem ser usadas versões aportuguesadas dos nomes próprios estrangeiras, “quando antigas na língua ou quando entrem ou quando possam vir a entrar no uso corrente”.

O texto do Acordo Ortográfico não deixa dúvida: em português, o nome da doença deve escrever-se zica.



O Correio Braziliense, por exemplo, começou a se referir, corretamente, à doença com a grafia aportuguesada por nós defendida: zica. Também já usaram a forma zica O Estado de Minas e O Povo, entre outros. E, ainda mais importante: além do Dicionário Priberam, que já registrava zica na forma aportuguesada desde o ano passado, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora (clique aqui para ver) também acaba de incluir a palavra zica:
zica

nome masculino
arbovírus do género Flavivirus, da família Flaviviridae, que se transmite pela picada de mosquitos do tipoAedes



nome feminino
doença infeciosa, causada por este vírus, geralmente de evolução benigna,com sintomas idênticos aos da dengue ou da chicungunha mas mais leves (febre, cefaleia, dores articulares, conjuntivite, fotofobia e erupção cutânea), cujo perigo radica na sua provável associação à microcefalia em fetos de mães infetadas

De Zika, topónimo, «floresta do Uganda»

zica in Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2016. [consult. 2016-02-10]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/zica

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