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segunda-feira, 10 de março de 2014

A ARTE OTOMANA



Durante o século 16, Istambul era considerada uma das maiores e mais ricas cidades do mundo. Devido a privilegiada localização do Império Otomano, uma grande variedade de influências foram absorvidas; artistas e comerciantes oriundos de diversas regiões garantiram a densa mistura etno cultural e o resultado foi uma das mais prolíficas produções artísticas de tradições islâmicas, turcas e europeias.

Detalhe de azulejo decorado com arte Iznik - Turquia, meados de 1500

Durante o século 16, Istambul era considerada uma das maiores e mais ricas cidades do mundo. Naquele período, o então regente sultão Süleyman I era considerado um aclamado legislador, brilhante estadista e patrono das artes. Conhecido também como O Magnífico (em deferência a suas conquistas militares e riqueza de sua corte), Süleyman I havia conquistado um vasto território: seus domínios estendiam-se desde Budapeste até Bagdá, desde Omã e Tunis até Meca, perto do Mar Vermelho; e incluía cidades da importância de Damasco, Alexandria e Cairo. Às portas de Viena, os turcos controlavam a Rota da Seda, o Mar Negro e a metade oriental do Mediterrâneo.

Jarra de jade decorada com fios de ouro, rubis e esmeraldas - Turquia, 1560

Neste período, Cairo tornava-se o principal entreposto para o café iemenita, tecido indiano e especiarias; empresários em Aleppo e Bursa vendiam seda do Império Otomano a mercadores venezianos, franceses e ingleses; no norte da África o mobiliário turco era extremamente popular em toda a região. A heterogeneidade das sociedades imperiais e do escrutínio proporcionavam o florescimento cultural turco; o intercâmbio cultural entre artistas e comerciantes de diversas regiões em Istambul gerou uma produção artística única de tradições islâmicas, turcas e européias. E com um Império tão centralizado tanto artística quanto politicamente, os desenhos produzidos para a corte turca logo se espalharam para outras regiões influenciando também artistas e artesãos de países vizinhos.

Garrafa policromada decorada com animais - Turquia, 1585

Placa decorada no estilo pictórico "saz" - Turquia, meados de 1500

Os artistas que se destacavam de alguma forma passavam a pertencer ao nakkaşhane, o estúdio de pintura imperial, onde foram produzidos centenas de seculares manuscritos religiosos. A este seleto grupo era atribuído o dever de decorar os volumes encomendados para as bibliotecas do sultão, “iluminá-los” e ilustrá-los. Süleyman I inspecionava pessoalmente as obras dos artistas e recompensava-os em troca de receber um desempenho profissional excepcional. Em um documento datado em 1535, Süleyman I teria dado mais de 225.450 Akces (moedas de prata), além de 34 peças de vestuário para cerca de 150 artistas da corte; vários mestres teriam recebido até 3.000 Akces — um generoso salário de cinco meses para homens que ganhavam menos de 20 Akces por dia.

Outro grande admirador dos manuscritos iluminados foi Murad III, neto do sultão Süleyman I. Ele encomendaria o Livro da Felicidade para sua filha Fátima. A obra foi uma tradução de um original escrito em árabe e representa o período mais fecundo da pintura turco-otomana. O tratado contém a descrição dos doze signos do Zodíaco e é acompanhada de fantásticas miniaturas, dentre elas, personagens misteriosos em poses estranhas, vestes exóticas de cores vistosas, luxuosas mansões e palácios, cavaleiros elegantes em cavalos estilizados com ricos adornos.

Miniatura otomana que ilustra o profeta Jonas e a baleia - Turquia, século 16

Inúmeros animais exóticos povoam as páginas deste manuscrito: pavões exuberantes, serpentes marinhas extraordinárias, peixes gigantes, águias e outras aves de rapina, bem como andorinhas, garças e outras aves, cujo desenho estilizado e elegante revela uma notável influência da pintura japonesa. A obra também traz uma série de pinturas que representam diferentes situações do ser humano segundo a influência dos planetas; mapas astrológicos e astronômicos e também um enigmático tratado de adivinhação. Foi também dedicada uma sessão completa aos monstros do imaginário medieval turco, povoado por demônios ameaçadores e feras fantásticas. 

Todas as pinturas parecem ter sido realizadas na mesma oficina, sob a direção do célebre mestre Ustad ‘Osman, sem dúvida o autor da série inicial de pinturas dedicadas aos signos do Zodíaco.

Ornamento caligráfico em armaduras usadas pelos cavaleiros do Império Otomano - Turquia, século 16

Durante o século 16, os artistas nakkaşhane não apenas criaram estilos originais que caracterizaram o vocabulário decorativo desse período, mas também estabeleceram o gênero da pintura histórica, que documentou personagens e eventos contemporâneos. Os estilos e temas utilizados na iluminação dos manuscritos rapidamente se espalharam para as outras sociedades imperiais e, a partir de então, incontáveis e detalhadas peças decorativas passaram a ser produzidas: objetos em ouro, prata, jade, cristal, marfim, cetim e veludo, móveis com estofado em tecido brocado, cerâmica e azulejo. Responsável pela difusão da estética otomana no centro de muitas novas regiões, a armadura imperial foi minuciosamente elaborada pelos nakkaşhane, que se encarregaram da toda sua concepção artística e produção.

"Prato decorado com uma jovem" - Irã, meados de 1500

Padrões repetidos com base em formas geométricas, incluindo polígonos, círculos e triângulos aparecem com freqüência como ornamentação na arte islâmica. Em Cosmophilia: Islamic Art from the David Collection, Copenhagen (Smart Museum of Art University of Chicago, 2006), Sheila Blair sugere que a repetição de padrões talvez queira enfatizar a natureza infinita de Deus. Ela comenta que a ornamentação vegetal aparece na produção artística em praticamente todos os grupos humanos da história, mas que o “arabesco” é exclusivo de domínio islâmico. Ele é baseado em motivos florais, seus elementos são muitas vezes derivados de acanto (um tipo de planta mediterrânea).

Azulejo Iznik - Turquia, meados de 1500

Azulejo Iznik - Turquia, meados de 1500

Este tipo de ornamentação tornou-se proeminente entre os séculos 10 e 16. “O arabesco sugere o infinito: é fácil imaginar estes padrões florais expandindo indefinidamente em qualquer direção. Este recurso ilimitado corresponde a espiritualidade. Para os muçulmanos que se esforçaram para se conectar com Deus em um nível místico, a natureza infinita desses padrões exemplifica uma maneira de refletir sobre as graças de Deus, tanto terrena quanto celeste, através das bênçãos divinas presentes na natureza”, explica Blair.

Tapete confeccionado em lã sobre base de algodão, arte iraniana que data de meados de 1500

Após o século 15, representações estilizadas de flores asiáticas específicas apareceram (incluindo peônia, crisântemo e lótus). O “saz”, estilo pictórico e decorativo introduzido pelo pintor Sahkulu por volta de 1530, misturava folhas e flores de lótus. Kara Memi, inventor do chamado "estilo quatro flores” criava engenhosos arranjos de jacintos, cravos, flor de ameixeira e tulipas, em composições sinuosas. Estes padrões eram utilizados pelos turcos na tecelagem de tapetes, que ao final do século 16 já havia evoluído para um ofício altamente sofisticado. O complexo padrão floral exigia competência do mestre artesão, que passou a trabalhar também com fibras mais delicadas como seda e lã de cabra angorá.

Na imagem abaixo, a cerâmica policromada data do final do século 16 e faz parte de uma série de pratos que são decorados com diferentes tipos de figuras humanas. Conhecido também como Kubachi, este prato revela influência que a pintura européia exercia sobre as artes da corte.

Prato de cerâmica de Iznik - Turquia, meados de 1500

Durante o século 15, a região otomana de Iznik foi escolhida para ser o centro da produção de cerâmica, pois possuía depósitos de argila. Com o aprimoramento do material e do artesanato, as peças começaram a receber decoração de influência chinesa (Dinastias Ming e Yuan). Um século depois, a cerâmica Iznik tornaria-se imensamente popular no Império Otomano e exerceria influência sobre as peças feitas na Inglaterra, levando à escala industrial em Worchester e também na Alemanha, quando surgiram fábricas de mosaicos e faiança em Berlim. A Itália repetiu os padrões otomanos, nas cerâmicas maiólicas.

Jarra confeccionada em jade e decorada com motivos musicais - Turquia, 1585

O vídeo abaixo apresenta o processo básico para a fabricação do azulejo Iznik. Formado por artistas e pesquisadores, o Instituto Isnik é patrocinado e apoiado pelo governo, universidades e centros de preservação e fabrica azulejos para a restauração de edifícios antigos, novos e propriedades privadas.



No seu apogeu, durante o século 16, o Império Otomano já abrangia os territórios onde hoje se encontram mais de 25 países. Com o controle de muitos portos e acesso exclusivo para o Mar Negro (a partir do qual foram excluídos até mesmo navios russos) o comércio entre as províncias aumentava consideravelmente. Os privilégios comerciais concedidos pelo sultão Süleyman I para os países europeus ampliavam as relações culturais em ambos os sentidos: enquanto o comércio turco expandia-se e tornava-se muito sólido em regiões como a França, Inglaterra, Holanda e em Veneza, armamentos da Europa eram adquiridos pelo Império Otomano.

Cerâmica policromada pertencente à Dinastia Otomana, 1575

Devido a privilegiada localização do Império Otomano, uma grande variedade de influências foram absorvidas; essa mistura etnocultural lhe proporcionou uma rica produção artística, que influenciava um número cada vez maior de admiradores e reprodutores estéticos. Entre os séculos 15 e 16, os artesãos de Veneza decoravam suas peças com gravações ou marchetaria islâmica; cópias das cerâmicas de Iznik foram feitas nos centros de Ligúria e Pádua; tecelões italianos imitavam com grande sucesso tecidos otomanos. Além disto, pintores como Hans Holbein e Lorenzo Lotto também reproduziram tapetes otomanos em suas obras.

Assim, com sua pluralidade de crenças e costumes, a fértil e criativa Istambul tornou-se a maior e mais prolífica cidade no oeste da Ásia ou da Europa. Através de histórias fantásticas traduzidas visualmente em exuberantes formas e estilos, o Império Otomano construiu um verdadeiro caleidoscópio cultural, que durante séculos garantiu a experiência de sentido — o principal alimento para o espírito humano.



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