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terça-feira, 25 de junho de 2013

A poesia de Caetano Veloso, dica de uma bela aula através do Nova Escola.

Apresente a cronologia da produção do compositor baiano para mostrar como sua obra é importante para a música popular brasileira
Caetano Veloso: Everton Amaro

Objetivos
Conhecer a obra de Caetano Veloso e sua relação com a produção poética brasileira

Conteúdos
  • Obra de Caetano Veloso
  • Música Popular Brasileira (MPB)

Tempo Estimado

Duas aulas

Material Necessário
  • Computadores com acesso à internet e caixas de som
  • Cartolinas e material para a produção dos cartazes
  • Letras das seguintes músicas: 1) "Onde eu nasci passa um rio" [Domingo - 1967]; 2) "Tropicália" [Caetano Veloso - 1967]; 3) "Acrílico" [Caetano Veloso 2 - 1969]; 4) "De palavra em palavra" [Araçá Azul - 1972]; 5) "Rapte-me camaleoa" [Outras Palavras - 1981]; 6) "Outras palavras" [Outras Palavras - 1981]; 7) "Samba da cabeça" [Pipoca Moderna - 1975-1982]; 8) "Uns" [Uns - 1983]; 9) "Haiti" [Tropicália 2 - 1993]; 10) "Rocks" [Cê - 2006]; 11) "Língua" [Velô - 1984].
Flexibilização
Para alunos com deficiência auditiva
Se houver algum aluno surdo na turma, a sugestao é preparar apresentações de slides no powerpoint com as letras das músicas. Conforme as canções sejam tocadas, as letras deverão aparecer nas apresentações.

Introdução
Na trajetória de um artista, são comuns mudanças que demonstram sua evolução e sua ideologia. Há aqueles que são fieis a um único estilo e projeto artístico, mas quando se trata de Caetano Veloso, percebemos uma tendência à experimentação.
Na abertura de Livro Só, de Caetano Veloso, Eucanaã Ferraz comenta: "Tal tendência à dissonância talvez se relacione com o fato de a música de Caetano ser devoradora da modernidade da Bossa Nova, especialmente de João Gilberto. Mas decerto, aponta igualmente para o afastamento desta mesma linhagem em direção às artes mais violentas de vanguarda e à cultura pop, especialmente o rock´n´roll. Por todo efeito, o que se produz está em divergência com as noções convencionais de equilíbrio e harmonia" (2003, p. 18).
Também foi esta a análise feita por João Luiz Lafetá em seu artigo "A poesia em 1970", presente no livro A Dimensão Da Noite. Segundo o crítico: "centrando nossa atenção nas letras das canções, podemos verificar com facilidade até que ponto um compositor como Caetano Veloso está vinculado a quase toda a produção poética brasileira, do Modernismo até nossos dias" (2004, p. 459).
Nesta última quinta-feira (dia 2) Pasquale Cipro Neto, colunista da Folha de São Paulo, em homenagem aos 70 anos de Caetano Veloso, ressaltou a qualidade literária do compositor baiano ao analisar alguns versos da canção intitulada "O homem velho", presente no disco Velô, 1984. Aproveite a riqueza poética das letras de Caetano para explicar aos alunos a criatividade do artista baiano.


Desenvolvimento
Aula 1
Inicie a aula na sala de informática e proponha uma discussão com os alunos, perguntando:
- O que é a Música Popular Brasileira (MPB)?
- Quais são os principais representantes deste estilo musical?
- Qual é a importância da MPB no cenário nacional?

Provavelmente eles deverão lembrar algumas músicas de Chico Buarque, Gilberto Gil ou Roberto Carlos. Pergunte então, se conhecem Caetano Veloso, quais músicas deste cantor já ouviram e o que acham das letras. Em seguida, convide a turma para conhecer o site do compositor baiano e assistir a cinco vídeos sobre sua vida e obra.



Aula 2
Distribua cópias do texto abaixo, que exemplificam a trajetória da obra poética de Caetano Veloso e estão disponíveis no site do artista. Faça uma leitura coletiva questionando as características principais de cada texto. O objetivo  é fazer com que os alunos percebam a trajetória diversificada da poesia de Caetano Veloso e sua relação com as principais correntes estéticas do século 20: o Modernismo, a poesia de Carlos Drummond de Andrade, a geração de 45 (representada pela concisão lírica de João Cabral de Melo Neto), o grupo concretista, e até mesmo as experiências de vanguarda como o "rap". Durante esta etapa, também é interessante a turma notar como Caetano propõe uma releitura dos gêneros mais autênticos da música brasileira (samba e maracatu, por exemplo) e sua preocupação com a incorporação de procedimentos poéticos mais modernos, como o uso da oralidade, do bilinguismo e do neologismo.
1) "Onde eu nasci passa um rio" [Domingo - 1967]
Trata-se de um poema composto por 5 estrofes de 7 sílabas poéticas. No comentário do autor sobre a composição "Coração Vagabundo" (Letra Só, p. 31), confessa: "Assim como `Onde eu nasci passa um rio´, essa canção tem muito da poesia de Drummond, daqueles poemas que a gente sabia de cor. Mas é muito ingênua, muito abaixo de Drummond, não é como outras canções mais bonitas".

2) "Tropicália" [Caetano Veloso - 1967]
Nesta canção, composta em versos livres, Caetano procura denunciar a miséria brasileira durante o período da ditadura militar. A letra está repleta de alusão a este conturbado período da história brasileira.

3) "Acrílico" [Caetano Veloso 2 - 1969]
Também composto por versos livres, "Acrílico" é um dos raros textos que Caetano compôs sem ser pensado para letra de música (Letra Só, p. 18). Segundo ele, seu interesse maior era pela possibilidade de inventar palavras. Esta ideia surgiu da leitura da revista Invenção, que Augusto de Campos lhe deu de presente.

4) "De palavra em palavra" [Araçá Azul - 1972]
Trata-se de um texto bastante moderno e totalmente influenciado pela ideologia concretista; daí a dedicatória a Augusto de Campos.

5) "Rapte-me camaleoa" [Outras Palavras - 1981]

Feito para Regina Casé (Letra Só, p. 62) este texto reforça o caráter modernista de Caetano Veloso, para isto basta atentar para a rima bilíngue presente no seguinte verso: "Rapte-me, adapte-me, capte-me, it´s up to me". Esta canção também traz um verso com uma inscrição em francês ao se referir a música Ne Me Quitte Pas, de Jacques Brel.

6) "Outras palavras" [Outras Palavras - 1981]

Nesta canção de alto potencial lírico, Caetano, gradativamente, põe em prática a sua intenção em criar novas-outras palavras, acentuando o aspecto carnavalesco desta ação. Atente para a última estrofe: "Parafins gatins alphaluz sexonhei la guerrapaz Ouraxé palávora driz oké Cris expacial Projeitinho imanso ciumortevida vidavid Lambetelho frúturo orgasmaravalha-me Logun Homenina nel parís de felicidadania: Outras palavras"

7) "Samba da cabeça" [Pipoca Moderna - 1975-1982]
Como informa o próprio título da canção, esta letra é um samba que está distribuído em 6 estrofes de 5 sílabas poéticas cada verso com exceção do último. Neste verso, métrica e rima são quebradas devido ao uso da elipse - figura de estilo responsável pela omissão de qualquer elemento frásico do texto, e que tem a função estilística de conferir rapidez e concisão ao discurso. Assim, ao mesmo tempo em que reduz o plano de expressão, amplia o plano do conteúdo, já que a sua complementação dependerá exclusivamente do leitor.

8) "Uns" [Uns - 1983]

Conforme o próprio Caetano, "Uns" (Letra Só, p. 74) "é um maracatu. Acho que a letra vai toda certa, de ponta a ponta [...]. É tudo benfeito, letra e música". Trata-se de um poema composto por versos curtos de no máximo 4 sílabas poéticas. Assim como em "Samba da cabeça" a figura de estilo que mais prevalece neste texto é a elipse.

9) "Haiti" [Tropicália 2 - 1993]

Na explanação de Caetano (Letra Só, p. 42): "No caso de `Haiti´, acho que a abordagem da forma `rap´ em diapasão diferente, a força das imagens, o pioneirismo de explicitar a não-aceitação do massacre dos 111 presos do Carandiru, em suma, o fato de eu ter me antecipado aos melhores músicos e poetas do hip-hop nacional que vieram a atuar nos anos 90 são razões para eu gostar especialmente dessa composição".

10) "Rocks" [Cê - 2006
]
Conforme indicação do próprio título, "Rocks" trata-se de uma canção em estilo `rock´n´roll´ com marcas específicas da oralidade, como nos versos: "eu não dei letra tu é gênia, gata, etc. mas cê foi mesmo rata demais meu grito inimigo é: você foi mor rata comigo".
Logo após, peça a leitura e análise da canção intitulada "Língua", presente no disco Velô, 1984:
 Língua
Caetano Veloso
Gosta de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
"Minha pátria é minha língua"
Fala Mangueira! Fala!
Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?
Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E - xeque-mate - explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
e Maria da Fé
Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?
Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
(- Será que ele está no Pão de Açúcar?
- Tá craude brô
- Você e tu
- Lhe amo
- Qué queu te faço, nego?
- Bote ligeiro!
- Ma'de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
- Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
- I like to spend some time in Mozambique
- Arigatô, arigatô!)
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem.

A seguir peça que os alunos componham cartazes sobre a letra de Língua e o que entendem como a essência da obra poética de Caetano Veloso. Se a turma achar necessário, permita uma pesquisa mais apurada. Indique que neste trabalho eles deverão encontrar as marcas textuais da canção "Língua" que evidenciam o projeto de criação de Caetano Veloso. Peça também que justifiquem porque o compositor escolhe usar versos livres. Separe um tempo da próxima aula para exposição dos trabalhos dos alunos.

Avaliação

Observe com o trabalho final se os alunos compreenderam que a obra de Caetano Veloso sempre passou por muitas mudanças, e que esta é a essência da produção transgressora do artista. Analise também se entenderam a relevância da sua produção poética para a Música Popular Brasileira.
Rodrigo Priante Ugá
Mestre em Literatura e Crítica Literária pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP)

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