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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O VIAJANTE DO TEMPO

O vento sopra forte, uiva suavemente em seu ouvido e a areia do deserto gruda na pele. O suor age como uma cola e seus olhos estão vermelhos. Nem suas roupas claras de viajante de caravana amenizavam o sol inclemente do meio-dia, que queima sem dó e o deixa com uma sede sem fim.

Enquanto se equilibra no camelo, sua imaginação viaja para bem longe dali, em um continente onde a água jorra em abundância, através das ondas do mar, e a areia é palco de entretenimento e lazer. No lugar onde se transporta, existem férias e veraneios, amores compartilhados, crianças brincando à beira da praia, amigos e uma alegria contagiante. E é para lá que ele ruma em seus sonhos sempre que as atrocidades da guerra se tornam insuportáveis e a sua tarefa de mascate de armas pesa na consciência.

Fica lembrando da vez em que viajou até a costa brasileira, navegando por meses como tripulante de um cargueiro, desde o distante Oriente até aquele país tropical, tão colorido e cheio de vida. Recorda dos espantamentos ao chegar no porto de Santos, da balbúrdia do cais, da naturalidade com que as mulheres se vestem e se comportam andando pelas ruas, tão diferente dos rígidos padrões morais de sua terra...

Não esquece quando se dirigiu a um dos cafés da cidade, onde avistou a mulher que passou a povoar os seus sonhos. Ela tomava um café compenetrada enquanto lia um livro, e ele decidiu se aproximar e puxar conversa em seu inglês enrolado. Falaram inicialmente sobre seus países, as diferenças culturais, e depois sobre a vida deles, seus planos...

As horas passaram e ele precisava retornar ao navio. Prometeram se encontrar no outro dia, e o coração do viajante pulou de contentamento. Porém, no dia seguinte, o capitão decidiu antecipar a viagem de volta. Não teve como avisá-la. Desde então, quando a vida se torna muito amarga, ou quando está absorto em seus sonhos, ele atravessa os mares e o tempo para recordar e viver sua história imaginária.

O despertador toca. O homem olha para o criado-mudo e vê “O profeta”,de Khalil Gibran. “Ah, quem me dera!”, diz, sorrindo, enquanto se veste rapidamente para mais um dia de trabalho.

Sônia Pillon é jornalista e escritora, nascida em Porto Alegre (RS) e desde 1996 radicada em Jaraguá do Sul (SC), Brasil.

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