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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Centenário de Jorge Amado


Na terça-feira em 9 de agosto, véspera do dia em que Jorge Amado completaria 99 anos de idade, uma coletiva de imprensa em Salvador, na Fundaçāo Casa de Jorge Amado, deu início às comemoraçōes do centenário do escritor baiano. Na ocasiāo, foi apresentada uma comissāo para organizar diversas atividades que começam amanhã em Salvador e em todo o Brasil e que terāo um selo exclusivo deste centenário criado por Máquina Estúdio.
“A ideia é que este ano nāo acabe nunca” brincou Cecilia Amado, neta do escritor, durante a coletiva.
A comissāo do centenário é formada por:
  • Cecilia Amado e João Jorge Amado Filho, representantes da família de Jorge Amado
  • Myriam Fraga, da Fundação Casa de Jorge Amado
  • Alberto da Costa e Silva, Academia Brasileira de Letras
  • Lilia Schwarcz e Thyago Nogueira, Companhia das Letras
  • Adriana Vendramini, Grapiúna Produções/Copyrights
Os eventos acontecerāo de agosto de 2011 até agosto de 2012. Veja a programaçāo divulgada na coletiva aqui.
Para festejar, resolvemos divulgar esta carta inédita que Jorge escreveu para Zélia Gattai em 1948, enquanto estava em exílio. Esta carta fará parte do livro Jorge & Zélia, programado para agosto de 2012.
Leia na íntegra a carta, e comemore também o centenário deste importante escritor brasileiro que a Companhia das Letras tem o privilégio e o prazer de publicar desde 2008.

* * * * *

De: Jorge Amado
Para: Zélia Gattai
Paris, 13 de março de 1948.
Minha negra querida: toda a saudade do mundo. Há uma semana que não tenho cartas tuas. Recebi recortes de S. Paulo, pela letra conheci terem sido enviadas por ti, donde depreendi que já estavas em S. Paulo. Mas depois da carta começada no sítio e terminada no Rio, não recebi nenhuma outra e estou preocupado. Imagino que devas estar abafada do que fazer mas sei que não haveria falta de tempo que te fizesse deixar de me escrever e temo que tenha havido extravio de cartas. Daí recebi uma breve carta da Lila e uma do Graciliano e só. E os recortes são “divertidos” pelo menos os que se referem a mim.
Aqui vou, saudoso de ti cada vez mais, cheio de que fazer, de visitas, recepções, editores, artistas, um inferno, com minha máquina no conserto pois começou a rebentar na semana passada, deixou de escrever e a casa consertadora pediu-me 8 dias e só na próxima terça-feira me entrega. Ontem tive duas recepções: uma às 4 ½ da tarde (terminou às 8 da noite) oferecida pelo editor Nagel que publicou aqui o “Terre Violante”. Estavam todos os escritores franceses não de esquerda: Mauriac1, Sartre2, Maurois3, Duhamel4, etc. Grã-fina a recepção e, por consequência, formal, com champagne e conversas sobre existencialismo. Mas dela saiu um protesto, firmado pelos tais, sobre o caso de Pablo. E logo, às 8,30  uma outra numa livraria, onde Pierre Daix5falou sobre minha obra e eu falei sobre o Brasil. O contrário exatamente da primeira, durou até meia noite, quando vim com o Scliar e o casal Arnaldo Estrela jantar no quarto de Scliar (que atualmente é um grande cozinheiro).
Há poucos dias fui a uma festa na Embaixada da Polônia, muito simpática (concerto de câmara e após, salgadinhos, champagne e vodka) envergando um smoking emprestado por um brasileiro, Coitinho, advogado e funcionário da prefeitura, amigo de Joelson. Ontem a Embaixada mandou-me fotografias minhas tiradas na festa e eu te envio uma, noutro envelope, para que me vejas de smoking em Paris. Fui ao teatro ver “Bas Fond” de Gorki, muito bom. No entanto minha vida tem sido cheia de trabalho.
Deixo de te dizer muita coisa, quando chegares, verás. Mas mando-te um recorte e o que posso te dizer é que só viajo para a Itália no fim do mês devido a várias coisas a fazer ainda. Não tenho tido tempo para ver Paris, passear, etc. Mas não me importo muito porque eu o farei contigo quando tiveres chegado.
Já estou com todos os meus livros (exceto os 3 primeiros, o ABC e o Bahia que não me interessa vender) negociados com editores daqui e o “Terras” foi vendido para o eslovaco, o holandês, o finlandês, e o polonês. O representante literário meu, na Holanda, é um braço. Creio que colocarei todos os meus livros em toda Europa.
E João? Os dois Joões, o avô e o neto? E mamãe? James e Jacinta? Joelson e Fany? Tua mãe, tuas irmãs? E teu filho Luiz6, tiveste ele contigo ou não? Conta-me as coisas, manda-me dizer quando estarás no Rio, se Fernando vem de avião, escreve-me, morro de saudades tuas e de João. Comprei um chapéu para ti, não sei se gostarás, mas achei engraçado.
Chegou da Itália o Justino Martins7, da Revista do Globo. Apaixonado pela Itália. Scliar está fazendo uma relação das coisas que deves trazer. Estou cansado e saudoso. Falo de ti a toda a gente e a toda gente mostro o teu retrato e o do João. Chego a ser chato, creio. Abraça, querida minha, a todo mundo, beija João e beija o teu filho que te ama,
Jorge
[1] François Charles Mauriac (*1885 +1970) foi um escritor francês, Nobel de Literatura de 1952.
[2] Jean-Paul Charles Aymard Sartre (*1905 +1980) foi um filósofo, escritor e crítico francês, representante do existencialismo. Intelectual militante, e apoiou causas políticas de esquerda. Amigo de Jorge Amado, visitou o Brasil a seu convite em 1960.
[3] André Maurois, pseudônimo de  Emile Salomon Wilhelm Herzog (*1885 +1967) foi um romancista eensaísta francês.
[4] Georges Duhamel (*1884  +1966) foi um autor francês, membro da Academia Francesa e presidente da Aliança Francesa.
[5] Pierre Daix (*1922) é um jornalista e escritor comunista francês. Participou da resistência. Foi preso pelo governo colaboracionista de Vichi e mandado para o campo de concentração de Mauthausen onde trabalhou com a resistência clandestina do campo ajudando a salvar resistentes franceses.
[6] Luiz Carlos Veiga (*1942  +2008) filho de Zélia Gattai em seu primeiro casamento com o dirigente comunista Aldo Veiga.
[7] Justino Martins (*1917 +1983) foi um jornalista brasileiro, cunhado de Érico Veríssimo, com quem trabalhou na Revista do Globo. Foi, posteriormente, diretor da revista Manchette.

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